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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 14 - Parte 2


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


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No que diz respeito a despedimentos, até nem foi assim tão mau. Foi bem melhor que da primeira vez que fui despedido quando vivia em Memphis. Apreciei que ele próprio me tivesse ligado, e não houve nada maldoso ou malicioso nisso; foi completamente diferente do que esperarias, se já viste o Vince a despedir alguém de forma fictícia na televisão. Ele ainda acrescentou a explicar que tinha que o fazer para dar o exemplo. Ele não queria fazê-lo. Na verdade foi muito amável.

A minha reacção ao ser despedido foi diferente do que eu mesmo esperaria de mim mesmo. Senti-me libertado, como se um enorme peso me tivesse sido retirado dos ombros. Agradeci ao Vince pela oportunidade, e após ele expressar o seu desgosto uma última vez, respondi, "Não tenha pena, vou fazer mais dinheiro agora neste ano que o que fiz convosco, logo não sinta qualquer pena de mim." Foi algo estranho de ser dito por mim, porque eu não sou muito orientado por dinheiro, mas tudo o que vi foi uma oportunidade. Não há melhor altura para ser despedido do que após um grande angle como a estreia dos Nexus, especialmente porque eu basicamente fui despedido por ser demasiado violento. E muitos fãs independentes odiavam a versão saneada de wrestling que é requerida para ser PG. Eu sei que eles veriam tudo não só como uma injustiça mas também como prova de que o único lugar onde podiam ver esse tipo de wrestling que gostavam era nas independentes.

Não sei o quão imediatamente após o incidente o Vince sabia que me ia despedir. Ele podia ter estado sob pressão, considerando os imensos patrocinadores e parceiros da companhia que confiam na WWE enquanto classificada como PG. Além disso, há todos os miúdos a ver o programa. Fiquei a saber que o Vince não contou a muita gente antes de o fazer. Liguei ao John Laurinaitis após ter estado ao telefone com o Vince, apenas para esclarecer o que isso significava no que dizia respeito a mim a lutar para outras promotoras dali em diante, mas ele não atendeu o telefone. Dez minutos depois, o Johnny ligou-me e estava chocado com toda a situação. Ele disse-me que o Vince lhe tinha ligado cerca de trinta minutos antes e pediu-lhe o meu número (ele não disse porquê) e tinha-lhe agora mesmo ligado de volta para lhe dizer que eu fora despedido. Foi uma circunstância muito incomum; Laurinaitis era normalmente o responsável por ligar ao talento e dispensá-lo.

O comentário que fiz sobre o dinheiro deve ter mesmo repercutido com o Vince, porque o Johnny perguntou-me, "Disseste ao Vince que ias fazer mais dinheiro nas indies?" Eu disse-lhe que sim. E era verdade. Há muita coisa que as pessoas não entendem sobre as nossas vidas como wrestlers da WWE. Por exemplo, quando assinamos os nossos contratos, é-nos garantida uma certa quantidade de dinheiro, chamada a tua "downside." À excepção dos de topo, normalmente não é muito, e o meu contrato era por substancialmente menos que o que eu fiz a trabalhar para as independentes. Na WWE, a ideia é que se fores "booked" a maior parte do tempo, farás bem mais que o teu "downside," mas visto que eu não estava em muitos espectáculos, eu apenas ganhava o mínimo. Não era de maneira alguma uma batalha para atravessar, mas eu não estava a guardar tanto dinheiro quanto tinha esperado. Também, na WWE, os wrestlers são responsáveis por pagar os seus próprios hotéis e carros alugados, enquanto que nas independentes tudo isso estava tratado. A WWE toma conta desses gastos para qualquer um sob contrato de desenvolvimento que fosse trazido à estrada para estar em TV. Eu era na verdade o único membro do plantel do NXT que não estava com contrato de desenvolvimento, mas tive a sorte de ser capaz de me juntar aos outros rapazes.

De qualquer modo, Laurinaitis contou-me que o Vince disse que eu podia começar a trabalhar datas independentes assim que quisesse, desde que não fosse para televisão ou pay-per-view. Era tudo o que eu precisava de ouvir. Assim que desliguei da conversa com o Johnny, liguei ao Gabe Sapolsky, que estava a agendar espectáculos para ambas a Dragon Gate USA e a Evolve. Quando ele atendeu o telefone, eu disse, "Gabe, vamos fazer muito dinheiro." (Num aparte, o que eu considerava muito dinheiro, faria rir algumas pessoas. É tudo relativo. Se eu mostrasse ao Steve Austin quanto eu fiz durante o tempo que eu estive despedido, ele não ficaria impressionado. A minha família, no entanto, estava muito impressionada e eu também.)

O Gabe e eu estávamos muito entusiasmados. Discutimos algumas ideias, e o Gabe logo me colocou em contacto com um designer gráfico para rapidamente criar uma t-shirt nova e lançar um website que seria basicamente um veículo para vender as t-shirts que ele ia desenhar. Eu nunca tinha sido de tentar vender muita merchandise quando estava nas independentes. Eu odiava produzi-la, e odiava sentar-me a uma mesa de merchandise a tentar vendê-la. Eu sabia, contudo, que se não o fizesse, estava a perder uma oportunidade. No espaço de umas horas, tornei-me um completo capitalista.

Coloquei o Gabe a cargo de lidar com outros promotores que me queriam agendar. Dadas as circunstâncias, eu podia cobrar muito mais por aparições e bookings, mas eu não queria regatear com promotores, logo deixei isso para ele. Para começar, Gabe agendou-me para os próximos espectáculos que ele tinha, depois decidimos falar de novo no dia seguinte para descobrir onde ir a partir daí.

Pela altura em que larguei o telefone de falar com o Gabe, a WWE tinha anunciado o meu despedimento no WWE.com. De repente, recebi o que parecia um milhão de chamadas, incluindo umas do Regal e do Shawn Michaels. O Regal, especialmente, deu-me óptimos conselhos (mais uma vez), que era verificar que eu não depreciava publicamente a WWE. Ele não tinha dúvidas que se eu mantivesse "o nariz limpo," dentro de um ano ou dois eu estaria de volta, apesar de eu não ter a certeza se queria sequer.

No mundo do wrestling, o meu despedimento parecia um assunto grande. Pelo menos foi a coisa mais falada que já tinha acontecido na minha carreira. Dentro de dias, a minha agenda para os seguintes três meses estava cheia: três espectáculos por fim-de-semana, todos os fins-de-semana, por muito mais dinheiro que eu já alguma vez tinha feito. Por uma semana inteira, relaxei e apenas tentei apreciar a calma antes da minha agenda ficar loucamente preenchida.

Dez dias após eu ter sido despedido, o website estava lançado, e eu não conseguia acreditar no quão rápido se estavam a vender as t-shirts. Na verdade foi bem stressante, porque eu decidi enviá-las eu próprio para poupar algum dinheiro, e as t-shirts não iam estar prontas até dentro de uns dias. Vendi dois designs: um cinzento que dizia "Team Bryan" nele, e uma camisola castanha com a minha cara ensanguentada "Obamiconned," uma imagem tirada de uma revista de wrestling Mexicana. Por baixo da minha cara, em vez de dizer "Change" como no poster de campanha do Obama, dizia "Violent." Era perfeita.

O meu primeiro espectáculo, duas semanas após ter sido despedido, foi em Detroit para uma companhia para a qual tinha trabalhado anteriormente, chamada Chikara, ela própria uma companhia de conteúdo familiar. Antes de eu ter sido anunciado para o espectáculo, eles tinham menos de cem bilhetes vendidos, e após o anúncio, acabaram por vender várias centenas. O evento decorreu num bazar, sem casa-de-banho ou chuveiro no balneário, sem água engarrafada ou bufete. Sentia-me mesmo em casa. Quando fui para o ringue, em vez de atirarem serpentinas para o ringue - um costume Japonês que tinha sido adoptado por fãs de wrestling independente Americano - todos atiraram gravatas.

Após o show, fui até à bancada do merchandise para vender as t-shirts e as fotografias 8x10, e fiquei genuinamente emocionado com o apoio que muitos dos fãs me deram. Estavam mais irritados que eu, vendo toda a situação como injusta e "típica WWE." A forma como se preocupavam comigo aqueceu-me o coração.

A partir daí, foi sempre a andar. Tive dois shows seguidos no dia seguinte em Cleveland, e no fim-de-semana seguinte lutei em vários espectáculos na Alemanha. Algures por aí, a WWE teve o seu pay-per-view Fatal 4-Way, e recebi mensagens de múltiplas pessoas a dizer-me que a plateia estava a cantar o meu nome ao longo do programa, mesmo durante o evento principal. Eu não quis saber. Já tinha ultrapassado isso. Eu estava entusiasmado por estar de volta às independentes e eufórico por estar de novo a trabalhar com o Gabe.

Antes de ter assinado com a WWE em 2009, o Gabe e eu estivemos a falar sobre começar a nossa nova promoção de wrestling juntos. Apenas falámos sobre isso umas poucas vezes, mas nesse curto período, também me ocorreu um nome: Evolve. O meu conceito para toda a cena era baseado na ideia de que o wrestling se tinha, na sua maioria, tornado uma paródia de si mesmo. Até em lugares como a Ring of Honor, mantinham a mesma alegoria que decorria na ROH há anos. O mesmo no Japão. O mesmo na WWE. Não havia grande coisa a ser colocada sobre a mesa que fosse novo para ajudar o wrestling a evoluir, e nós íamos criar algo diferente que o faria, daí o nome. Claro, com a minha contratação, nunca cheguei a fazer parte dela quando Gabe começou a Evolve em Janeiro de 2010.

Na Evolve, o wrestling seria diferente, as entrevistas seriam diferentes, e a produção seria diferente. O Gabe enviou-me o DVD do primeiro espectáculo, e quando o vi, senti que o evento principal - Davey Richards contra Kota Ibushi - foi excelente. Agora que eu já não estava com a WWE, o Gabe e eu podíamos voltar a colaborar no projecto.

Mas não era apenas o Gabe e eu que queríamos trazer a Evolve para o futuro. Paul Heyman também estava interessado. Paul sempre teve muita coisa a acontecer, e este período não era diferente. A TNA estava em conversas com ele sobre trabalhar para eles, mas ele apenas iria se tivesse controlo completo. A TNA também estava interessada em contratar-me, mas eu apenas o consideraria se o Paul fosse; de outra forma, preferia estar por minha conta. Quanto mais parecia que o Paul não iria para a TNA, mais ele falava com o Gabe e comigo sobre a Evolve. O Heyman é um génio, e as suas ideias para marketing e promoção deixaram-me muito espantado. Falámos muito sobre o assunto mas, infelizmente, nunca foi a nenhum lado. Todos éramos puxados em muitas direcções diferentes.

O primeiro espectáculo da Evolve que fiz foi num edifício pequenino em Union City, Nova Jérsia, que deu uma atmosfera de Fight Club a toda a experiência. Na noite seguinte, voltei à famosa ECW Arena em Philadelphia para lutar para a Dragon Gate USA. O atirar de gravatas durante o meu anúncio em ringue tinha pegado em todo o lado, e esta plateia provavelmente atirou mais acessórios do pescoço que qualquer uma em qualquer lado. Nessa noite, tive o melhor combate que teria durante o meu regresso às independentes, contra um wrestler Japonês chamado Shingo Tagaki. A arena estava quente e húmida em Julho, mas os fãs não queriam saber nem nós. Shingo e eu lutámos durante quase trinta minutos, e a plateia estava ruidosa o tempo todo. Foi a minha primeira vez a trabalhar de novo com o Gabe em muito tempo, e foi o máximo, mesmo que não tivesse durado muito.

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No próximo capítulo: Se esta parte foi em relação à transição da WWE de volta para as independentes... Bem nos lembrámos que não durou muito e que também houve a transição de volta para a WWE. Como foi? Como reagiu Bryan? Estará cá tudo, não percam!

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