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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 11 - Parte 3


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


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A minha segunda tour na Inglaterra foi semelhante à minha primeira em 2003: muita diversão, wrestling sem stress, onde podia aprimorar mais o aspecto "entretenimento" da minha performance. Além disso, como na minha anterior viagem lá, foi um pouco como se desaparecesse do planeta enquanto estive na Inglaterra. O meu telemóvel não funcionava lá, portanto além de tentar fazer uma chamada mensal à minha família (e é uma definição muito solta de "tentar"), eu estava praticamente incomunicável. Por vezes em raros dias de folga, eu iria à biblioteca para verificar o meu e-mail, e numa ocasião, eu tinha uma mensagem na minha caixa de entrada - do CM Punk, creio eu, mas posso estar errado - a citar um rumor que ambas a WWE e a TNA (Total Nonstop Action) estavam interessadas em três homens de topo da Ring of Honor: Punk, Samoa Joe e eu.

Eu tinha feito alguns combates de aprimoramento para a WWE no início do ano e sabia que estava, no mínimo, no radar deles, já que me eram sempre dados combates competitivos em vez de apenas sofrer um squash. Após esse e-mail, tornei-me mais consciente para ir à biblioteca nos dias de folga.

Pouco depois, o Samoa Joe assinou com a TNA, e deram-lhe um push imediato em TV. Punk foi na outra direcção e assinou um acordo de desenvolvimento com a WWE. Eu fiquei na Inglaterra por quatro meses nesta viagem sem ouvir mais alguma coisa sobre o assunto. Quando voei de regresso para os Estados Unidos nesse Setembro, eu meio que esperava uma oferta de um acordo por uma dessas duas organizações, mas quando liguei o meu telemóvel, não tinha um único voice mail, e ninguém de qualquer das companhias me contactou nas semanas que se seguiram. (Para ser justo, eu também não lhes liguei. É essa tal falta de ambição.)

Recebi, no entanto, uma chamada do Gabe Sapolsky, booker da Ring of Honor. Ele não me alcançou para me oferecer um contrato ou um montão de dinheiro; a sua oferta era algo diferente: a minha primeira oportunidade de ser o "The Man," como o Ric Flair regularmente descrevia.

Gabe admitiu que não via esse potencial em mim à primeira. Ele achava que eu era um excelente wrestler mas que me faltava a habilidade de ser o gajo à volta de quem a companhia se baseia. Ele viu esse traço no Punk e viu-o no Samoa Joe, que teve um reinado de quase dois anos com o título da ROH. Esses tipos eram líderes de balneário e cada um deles tinha um carisma único. Gabe viu-me como um tipo simpático e sossegado, contente apenas com fazer a sua cena.

Com o Punk a sair para a WWE e o Joe a dirigir-se à TNA, o Jamie Noble (conhecido como James Gibson na Ring of Honor) venceu o ROH Championship em Agosto de 2005. Mas não muito tempo depois disso, a WWE ofereceu ao Jamie um contrato para regressar, que ele aceitou e o Gabe ficou sem opções.

"És o gajo à volta de quem queremos construir," disse-me o Gabe. "Mas para fazer isso, tenho que saber que não sairás para a WWE ou para a TNA, ou andar fugido todo o tempo em digressões da New Japan." Eu não tinha qualquer oferta dessas organizações maiores e não tinha ouvido uma palavra da New Japan desde que parti para a Inglaterra, mas definitivamente havia mais a considerar do que isso antes de aceitar. Ser o ROH Champion era uma tarefa dura. Eles iriam depender dos meus combates para vender DVDs e trazer pessoas aos edifícios. Ir em último e mandar as pessoas para casa contentes era um considerável desafio porque todos estavam a tentar ter o melhor combate do card, e pela altura em que ias para lá, os fãs já tinham visto tudo. Não obstante, não passaram mais que alguns segundos antes de eu aceitar. Fiz o voto de que não iria para a WWE e que depositaria toda a minha energia na ROH por, pelo menos, um ano. Era uma enorme oportunidade, mas precisava de elevar a minha fasquia.

No Glory by Honor IV no dia 17 de Setembro de 2005, derrotei o Jamie Noble (a competir sob o seu nome verdadeiro, James Gibson) pelo Ring of Honor World Championship. Mesmo que não tenhamos ido em último, eu sabia que eramos o evento principal. O Jamie e eu lutámos com os nossos corações por mais de vinte minutos em frente a fãs muito apreciativos em Lake Grove, Nova Iorque. Eu sempre adorei lutar com o Jamie, mas esta foi a primeira vez que pudemos ter esse tipo de combate - o tipo de combate que as pessoas recordariam. Quando acabou, após Jamie finalmente desistir perante o Crossface Chicken Wing, a plateia entrou em erupção. Ele e eu abraçámo-nos e após isso, peguei no microfone e prometi aos fãs que enquanto fosse Campeão, eu não pensaria sequer em abandonar a Ring of Honor. Muito ironicamente, perdi os dois seguintes espectáculos da ROH - dois dos maiores shows na história da companhia porque continham uma rara aparição da lenda Japonesa do wrestling Kenta Kobashi - porque decorreram no fim-de-semana em que a minha irmã casou. (Para mim, há algumas coisas mais importantes que o wrestling.)

A minha vitória pelo Ring of Honor World Championship sempre esteve muito alta no meu ranking de realizações. Eles escolheram-me para ser "o homem", e isso não acontecia muito regularmente na minha carreira. Foi uma das poucas vezes em que foi decidido que me seria passada a bola e seria "empurrado" para o topo para carregar a companhia.

Antes de ter vencido o título, os fãs da ROH ainda não me tinham visto desde Maio, quando eu tinha a cabeça rapada e uma barba longa. Quando regressei, voltei barbeado, e cabelo bem aparado. Enquanto anteriormente eu usava preto, eu regressei a usar o equipamento marrom oferecido pelo William Regal. Até saí a usar um casaco marrom com "AMERICAN DRAGON" bordado nas costas. Era um visual mais clássico, inspirado por uma geração mais antiga de wrestlers como Bob Backlund e Billy Robinson, simbolizando que eu seria mais desportista e menos "entertainer." Cedo me apercebi que isso foi um erro.

A minha primeira defesa de título foi contra o AJ Styles, e a nossa rivalidade foi baseada numa história sobre qual de nós era o melhor wrestler. Ambos lutávamos do lado agressivo, mas no final do combate, fãs deviam gostar de ambós nós. Tivemos um bom combate com uma resposta decente da plateia, mas não era o que um combate pelo título devia ser, no que diz respeito a reacção de público. O mesmo aconteceu nos vários campeonatos seguintes, com nenhum deles a pegar fogo ao mundo. Eu sabia que precisava de mudar alguma coisa ou o meu reinado ia ser um fiasco.

Não foi até ter estado no ringue com o Roderick Strong que eu descobri a resposta. Os fãs em Connecticut estavam completamente a torcer pelo Roderick, com alguns deles a fazer troça de mim. Eu comecei a ficar subtilmente mais agressivo, depois tornei-me menos subtil. Esse tipo de transição não é tão estranha no wrestling, mas o meu processo pensativo mudou: Eu sou o Ring of Honor World Champion e este gajo não está na minha liga. De facto, não só o Roderick não está na minha liga, ninguém está - ninguém na ROH, ninguém na WWE. Eu sou o melhor e vou prová-lo todas as noites.

Nessa noite, após derrotar o Roderick, dei uma promo sobre ser o "Melhor do Mundo" e manteve-se ao longo do meu reinado de 462 dias. Não soa tão espectacular agora desde que as pessoas já ouviram ambos o Chris Jericho e o CM Punk a afirmar serem "o melhor do mundo" em TV nacional. Mas na altura, ninguém tinha feito consistentemente essa afirmação em anos. Legitimizou-me entre a base de fãs do wrestling independente, e eu depois era um homem de topo em qualquer lado onde fosse, contra qualquer um que enfrentasse. Resultou porque era fanfarrão e dava-me uma atitude; também era um regozijo conjunto para os fãs da Ring of Honor. Eles acreditavam que a ROH estava a produzir o melhor wrestling na América. A WWE estava demasiado interessada em entretenimento, e isso não era apelativo para esta audiência, que queriam algo mais bruto e orgânico. Eles queriam a maior parte da sua acção entre as cordas, não no microfone ou em vinhetas apatetadas nos bastidores.

Acima de tudo, queriam acreditar que os wrestlers que viam em eventos da Ring of Honor - pelo menos alguns deles - eram "melhores" do que aqueles a aparecer em programação televisiva de organizações maiores, logo mudei a minha personagem para apelar a esse desejo.

A noite desse primeiro combate contra o Roderick foi também a primeira numa série de experiências que eu andava a fazer com "finishes" de wrestling. Um traço básico do wrestling é que derrotas gajos com o teu "finisher." Alguns têm dois, mas muito raramente pessoas têm mais do que um par de manobras com a qual realmente derrotam outros.

Para os fãs mais astutos, combates tornam-se mais previsíveis: eles sabem que mesmo que um wrestler atinja outro com uma manobra de alto impacto, se não é o seu "finisher," não acaba o combate. Eu queria as pessoas a pensar que um combate podia acabar a qualquer momento. Por cima disso, apesar dos fãs mais hardcore na ROH apreciarem muito o wrestling, era difícil fazê-los acreditar que algo nele fosse legítimo, após tantos anos da WWE a dizer que era tudo "apenas entretenimento." Não precisávamos de pessoas a acreditar que tudo fosse real, no entanto, apenas uma parte. Gajos perdem a calma e por vezes as coisas tornam-se reais no ringue - a maioria nunca o sabe porque apenas parece wrestling desajeitado. A minha ideia era criar um momento no qual a audiência pensaria se o que estavam a ver era, de facto, real. O final do combate com o Roderick foi algo que nos aconteceu legitimamente. Uma noite depois de um espectáculo, uma data de nós estava a passar um tempo no meu quarto de hotel e o Roderick estava bêbado, o seu comportamento a tornar-se cada vez mais irritante à medida que ele saltava por todo o lado enquanto eu estava deitado na cama. Eu mandei-o sair do quarto se ele voltasse a ser irritante, logo ele saltou à carga para cima de mim. Eu imediatamente coloquei o Roddy num Shoulder Lock na omoplata com as minhas pernas até ele gritar (não demorou muito), e a seguir larguei. O Gabe estava no quarto e viu tudo. Ele achou brutal e, mais tarde nessa semana, disse-me que queria que fosse esse o finish do nosso combate que viria. Eu concordei, apenas desde que o Roderick não estivesse bêbado.

Então assim fizemos. No combate, o Roderick estava a estalar-me com tanta força que o meu peito estava a sangrar. Como muitos fãs de wrestling que tentaram estalos uns nos outros sabem, dói. Estalos fazem um som alto e visceral, e pessoas sabem que ardem. Logo não era difícil para os fãs acreditar que, com todos os estalos que o Roddy me tinha dado, eu estava irritado. Em vez da habitual cavalgada de manobras antes do final de um grande combate, apenas começamos às cotoveladas um ao outro na cara com muita força até o Roddy quase me deixar inconsciente. Ele preparou-se para saltar para cima de mim e, tal como no quarto de hotel, instantaneamente prendi-o na omoplata. Em vez da típica exploração da submissão, o Roderick desistiu quase imediatamente, rolando para o chão sem vender nada. Ele estava irritado, eu levantei-me irritado, depois cuspi para cima dele e disse-lhe que ele era um "monte de merda." Pessoas na arena não faziam ideia do que tinha acabado de acontecer. Ficou a parecer que, a meio de um combate normal de wrestling, temperamentos flamejaram e soltou-se uma briga. Era exactamente o que eu queria.

Semanas mais tarde, a nossa revanche tinha um zumbido diferente à sua volta, e o Roderick tinha ganho ainda mais apoio dos fãs. O combate inteiro foi agressivo e de golpes duros. Apesar das cicatrizes não terem sarado desde o primeiro combate, ele esbofetou-me até o meu peito estar a sangrar outra vez. Finalmente bati o Roderick ao colocá-lo num crucifixo e desatar-lhe à cotovelada até estar inconsciente, uma ideia que eu tirei de uma luta do Gary Goodridge na UFC. O árbitro teve que me parar de dar cotoveladas no Roderick após este estar KO e, numa noite, criámos uma nova forma de acabar um combate na ROH: a paragem do árbitro. Os fãs não o entenderam à primeira, e alguns estavam irritados, mas tens que tomar riscos por vezes - e este tornou os meus combates subsequentes muito mais interessantes.

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No próximo capítulo: Bom, Bryan já é uma estrela, já inovou... E já tem tremendas histórias para contar! Na quarta parte? Há mais! Não percam mais aventuras de Bryan como ROH World Champion, inclusive por outros territórios ou a lutar com antigas lendas do ringue!

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