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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 21 - Episódio 5


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


(...)

Por alguns meses após o Hell in a Cell, eu estive numa história com a Wyatt Family, que andava a tentar fazer-me juntar ao clã, liderado pelo líder de culto Bray Wyatt. Os Wyatts e eu parecíamos encaixes naturais. Todos eles têm barbas enormes (muito maiores que a minha), e são personagens bastante fora-da-caixa. Eu tinha andado a sugerir juntar-me a eles e fazer algumas vinhetas a mostrar o Bray a fazer-me uma lavagem cerebral, que nós achámos que seria bastante fixe. Foi tomado em consideração pelos escritores da WWE mas foi aparentemente abortado até que, aleatoriamente, no Raw final de 2013, eu realmente juntei-me aos Wyatts.

Foi estranho porque a história mudou do Bray a fazer-me uma lavagem cerebral para mim a enganar os Wyatts. Tudo fazia parte do meu plano para destruir o grupo por dentro. A nossa ligação não estava feita para durar muito tempo, mas eu empurrei e empurrei e empurrei para conseguir que a história se esticasse. O Bray estava prestes a iniciar uma rivalidade com o John Cena em direcção à Wrestlemania 30. Eu achei que eu a juntar-me aos Wyatts ajudaria na sua credibilidade, e como resultado, eu faria parte de uma das principais histórias em direcção ao maior espectáculo do ano. Visto que não havia realmente planos para mim na Wrestlemania na altura, eu achei que fazer parte disto dar-me-ia, no mínimo, algo grande a fazer, especialmente se eu me virasse a eles após a 'Mania, quando existe uma espécie de calmaria seguindo o entusiasmo do grande show.

Mas na semana após me juntar a eles, eu acabei por obter um bom bocado de atenção mainstream. Eu estava no meu quarto de hotel quando o Titus O'Neil me enviou uma mensagem e disse-me para pôr no SportsCenter da ESPN. Eu nunca ligo a TV nos meus quartos de hotel, mas assim fiz e, para minha surpresa, estavam a mostrar toda uma arena num jogo de basquetebol a cantar "Yes!" Eu não fazia ideia do que pensar. A equipa de futebol universitário do Estado do Michigan tinha acabado de ganhar a Rose Bowl na semana anterior e, após um touchdown, o Travis Jackson, um dos jogadores, começou com o "Yes!-ing." A equipa estava a fazer uma enorme celebração da sua vitória no Rose Bowl durante o intervalo do jogo de basquetebol Estado do Michigan-Estado do Ohio, quando o Travis pegou no microfone para fazer a arena inteira começar o "Yes!-ing" também. Tinha pegado. Os fãs no jogo de basquetebol continuaram a fazê-lo ao longo do resto do jogo, especialmente quando a outra equipa já estava na linha do lançamento livre. Em vez das habituais cenas como os Pool Noodles ou balões torcíveis que os fãs de basquetebol usavam para distrair a outra equipa, usaram o cântico de "Yes!" Foi uma visão fantástica. Não só o SportsCenter topou, como todas as mídias pelo país fora, e todos me deram crédito pela inspiração. Tudo aquilo me deixou estupefacto.

Não tenho a certeza se foi pelo jogo de basquetebol ter tido tanta atenção mainstream ou se sempre foi esse o plano, mas na semana seguinte, virei-me contra os Wyatts. Bray e eu estávamos a fazer um combate tag contra os Usos dentro de uma jaula de aço e após os Usos vencerem, o Bray queria que eu me submetesse a ele ao permitir-lhe atingir-me com a sua manobra de assinatura, o "Sister Abigail", em mim. Eu recusei, e a plateia que tinha estado morta ao longo dos últimos noventa minutos do espectáculo, repentinamente ganhou vida. O Bray desatou à carga, na minha direcção, e eu desviei-me, acelerando-o, derrubando os outros dois membros da Wyatt Family da jaula e, depois no final, atingindo-o com a minha Flying Knee. Trepei ao topo da jaula e sentei-me ali, liderando a arena inteira em cânticos de "Yes!" Foi outra imagem mesmo porreira.

Algures por esta altura, eu estava a falar com o Vince no seu escritório, e apesar de me esquecer do que estávamos a falar originalmente, ele de repente mudou de tópico; ele queria falar sobre os seus planos para mim na Wrestlemania 30. Antes desta conversa, eu tinha estado a falar com o Triple H sobre possivelmente fazer um combate com ele, mas também, no fundo da minha mente, eu ainda estava na esperança que tivessem convencido o Shawn Michaels a voltar para lutar comigo. Mas a ideia do Vince era nenhuma dessas. Ele queria que eu lutasse com o Sheamus.

Deixem-me já dizer que eu adoro trabalhar com o Sheamus. Temos grandes combates, dámo-nos imensamente bem e, com a excepção das duas Wrestlemanias em que já tínhamos lutado, sempre nos divertíamos juntos. Porém, dado que eu era, no pior, o terceiro mais popular wrestler na WWE - e em alguns shows o mais popular - era um combate de posição um pouco baixa para a Wrestlemania. Teríamos sorte se fossemos o quinto maior combate, dado que a WWE já tinha planeado ter Randy Orton-Batista pelo título, Brock Lesnar-Undertaker, Triple H-CM Punk, e John Cena-Bray Wyatt. Com esses quatro combates, seria difícil para qualquer outra coisa ter muito tempo. Apesar de desmoralizado, agradeci-lhe pela oportunidade e estava determinado a fazer o melhor com o que me era dado.

Mas a estrada da vida é incerta e nada fica gravado na pedra, até o que o Vince te diz - talvez especialmente o que o Vince te diz. As coisas podem sempre mudar, que foi o que aconteceu aos meus planos para a Wrestlemania na Royal Rumble de Janeiro de 2014.

A Royal Rumble é quando começa a época da Wrestlemania, e o vencedor do combate Rumble de trinta homens, cabeça-de-cartaz do evento, segue a competir pelo título na Wrestlemania, presumivelmente no evento principal. A seguir à 'Mania, a plateia da Royal Rumble normalmente tem o maior número de fãs hardcore na plateia. Pessoas voam de todo o mundo para o evento anual, e essas pessoas são bastante vocais. Nesse ano também calhou serem grandes fãs de Daniel Bryan. Eu sabia que não ia estar no combate Rumble, e eu não tinha sido anunciado para ele, mas ninguém disse especificamente que não ia estar, também.

Eu não me importei por não estar envolvido na Rumble, porque tive um combate com o Bray Wyatt antes, no mesmo show e fui capaz de me focar só nisso. Lutámos no segundo encontro do espectáculo e tivemos um grande combate, abastecido por uma espectacular plateia em Pittsburgh que foi esmagadora no seu apoio a mim. As únicas vezes em que tinha visto algo como aquele público foi na noite após a Wrestlemania XXVIII e espectáculos na minha cidade-natal, Seattle. E tal como nesses shows, os fãs continuaram a cantar "Yes!" e "Daniel Bryan!" bem após o combate ter acabado.

É interessante que o wrestling tenha avançado para esta era pós-moderna em que os fãs entendem que o que estão a ver é entretenimento. Eles escolhem torcer pelo que os entretém, quer a personagem seja boa ou má, e rejeitam coisas que não querem ver ao apupar, a cantar "Boring!", ou a criar o seu próprio entretenimento entre eles. Uma plateia pode começar a fazer a onda; outra pode começar a cantar por um comentador ou pela equipa local de hóquei. Eu não sei de onde veio esta ideia de começar a tua própria diversão e parar de prestar atenção ao que está a ser apresentado, mas tem os seus prós e contras. Felizmente para mim, tem sido maioritariamente positivo. Por exemplo, no combate pelo título unificado WWE World Heavyweight Championship com o John Cena a enfrentar o Randy Orton, a plateia inicialmente rejeitou-o. Estavam a cantar "Boring!" e "Yes!" e "Isto é péssimo!" A cena é que não era péssimo. Foi um combate activamente bom, tanto que a mesma plateia que queria rejeitá-lo ao início, acabou por entrar nele ao final.

Sentei-me lá atrás em Pittsburgh durante o combate Royal Rumble do evento principal, a assistir e a perguntar-me se haveria algum negativismo discernível em relação à minha ausência da Rumble. Ao início não havia; havia cânticos de "Daniel Bryan!", mas dispersaram muito rapidamente. Falando no geral, os fãs estavam apenas a desfrutar da Rumble. Mas eles não sabiam que eu não ia estar no combate. Ainda não.

Quando o Batista - o que a WWE queria que fosse herói a encabeçar a Wrestlemania - saiu, a plateia apupou porque acharam que se eu não vencesse, seria ele. Pouco depois dele ter entrado, os cantos por mim aumentaram, e quanto mais o combate se aproximava da sua última entrada, mais altos ficavam esses cânticos. Quando a contagem para o trigésimo participante começou, os fãs estavam de pé em antecipação. Contudo, assim que a contagem estava completa e a buzina soou, em vez de ouvirem a "Ride of the Valkyries," ouviram a música do Rey Mysterio. Este foi o momento em que os fãs finalmente se aperceberam que eu não ia estar no combate, e começaram a vaiar - alto.

Enquanto assistia, eu instantaneamente me senti mal pelo Rey. Ele é a última pessoa a merecer esse tipo de reacção, e eu inspirei-me nele desde que estava no liceu. O Rey já superou mais lesões que alguém consiga contar, e ele sempre fez o seu melhor para entreter os fãs com o seu estilo high-flying apesar das consequências que possa ter no seu corpo. E no entanto os fãs apuparam-no porque ele não era eu, e eu era o que eles queriam. É estranho para mim estar a escrever isto agora. Soa egoísta, mas eu não sei de que outra forma o dizer. Os fãs viraram-se contra todo o combate. Vaiaram praticamente toda a gente excepto o CM Punk e o Roman Reigns. Quando o Batista venceu, a plateia-a apupou-o sem misericórdia, o homem que ia encabeçar a Wrestlemania. Depois seguiram com um sonoro cântico de "Daniel Bryan!" Estavam a dizer directamente à WWE o que queriam.

Têm que manter em mente que isto foi uma plateia numa noite. Nem todas eram assim, e o Batista conseguiu algumas espectaculares reacções positivas após ter voltado. A WWE sabia que o público da Wrestlemania ia ser muito semelhante a este, e perguntei-me se a WWE iria ouvir o que o público lhe dissera. Na verdade, parte de mim já estava conformada com apenas esperar que talvez eu pudesse construir ímpeto suficiente para a 'Mania do ano seguinte.

Na noite seguinte, outro incidente bizarro ocorreu. CM Punk deixou a WWE. Não sei porquê, e não é da minha parte adivinhar. Esse lado será para ele o contar, se ele escolher fazê-lo. Tudo o que eu sei é que ele foi e não voltou, e tudo o que posso dizer é quanto isso me afectou a mim. Quanto à WWE, a partida do Punk colocou a companhia numa estranha posição para a Wrestlemania; dois dos quatro grandes combates que eles planearam iam ser muito diferentes do que pensavam. Primeiro, o combate Punk-Triple H na Wrestlemania, nem sequer ia acontecer. E segundo, se avançassem com o combate pelo WWE World Heavyweight Championship entre Randy Orton e Batista, os fãs iam virar-se contra ele tal como se viraram ao combate Rumble.

Durante algumas semanas, não ouvi dizer nada sobre alguma mudança. Eu sabia que o Hunter me queria enfrentar na Wrestlemania. Infelizmente, mesmo na sua posição, o Hunter nem sempre obtém o que quer. Já o vi a sair de reuniões de produção de TV para discutir histórias, a parecer que tinha estado numa batalha e perdido. Acho que o Vince ainda tinha esperança que o Punk voltasse ou que o Batista reconquistasse a plateia. Nenhuma dessas coisas aconteceu, e então a WWE conseguiu a solução para ambos esses problemas: eu.

Não só os fãs me queriam nesse lugar, mas também fazia sentido na história. A Authority tinha-me impedido de ser campeão desde o SummerSlam do ano anterior, e cada vez que eu ficava próximo, tiravam-me isso. Ignoraram a minha popularidade e nem sequer me colocaram no combate Rumble por uma oportunidade para competir pelo título na Wrestlemania. Era uma história muito legítima que podia facilmente ser contada sobre a máquina corporativa (The Authority) a deter o homem pequeno (eu). Tudo o que tinham a descobrir era como nos fazer chegar lá.

A WWE apresentou uma ideia muito criativa baseada nos movimentos "Occupy" que protestavam contra desigualdades sociais e económicas, que estavam a acontecer por todo o mundo. Chamava-se "Occupy Raw," e eu, juntamente com uma data de "fãs" a usar t-shirts de Daniel Bryan, sequestramos o ringue e não saímos até termos o que queríamos. A maior parte dos fãs que estavam no ringue eram na verdade pessoas da produção e do refeitório que trabalham para a WWE, mas as pessoas no chão a rodear o ringue eram fãs verdadeiros. Não tenho a certeza de como esses indivíduos foram escolhidos, mas certamente estavam entusiasmados, o que ajudou. Um dos fãs verdadeiros chegou mesmo a saltar para o ringue e ficou ao meu lado enquanto eu estava sentado sobre o canto do ringue, e podiam vê-lo a tirar uma data de selfies durante o segmento inteiro.

O nosso apreensivo controlo do ringue ameaçou estragar o show, e após oferecerem quanta resistência conseguiram, a Authority finalmente nos deu o que queríamos: consegui um combate com o Triple H, e se eu vencesse, nessa mesma noite, eu seria inserido no combate pelo WWE World Heavyweight Championship e evento principal da Wrestlemania 30.


No próximo capítulo: Esta obra está prestes a culminar! Daí que agora as coisas abrandem um pouco antes do grande clímax. Segue-se um breve vigésimo-segundo capítulo com Bryan a contar sobre a experiência de comprar casa com Brie. O casório também se aproxima e não deixa de ser muito curioso de ler!
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