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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 19 - Parte 1


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


Capítulo 19: Hell of Fame
Sábado, 5 de Abril, 2014 - 19:34

Casais reúnem-se nos bastidores numa pequena cabine coberta com fotografias coladas por todo o seu exterior. Uma cabine fotográfica especial da Wrestlemania dá a todos os convidados do Hall of Fame a chance de tirar quatro rápidas fotos para comemorar esta noite a lembrar e levar para casa algo para colocar na frente do frigorífico. "Braniel" mantêm a "mood" leve com poses e símbolos da paz (Brie) e falsas caras de mau (Bryan), depois aproveitam a oportunidade para uma terna ligação de lábios. O casal recolhe os seus impressos, depois é dirigida à fila para a sua entrada na arena. Mas antes, um certo tipo com mais de dois metros, procura a sua própria sessão fotográfica divertida com o seu inimigo-tornado-parceiro-tornado-inimigo. Desmascarado e assim canalizando muito menos do seu lado de "Big Red Monster," Kane abraça-se a Bryan num assento demasiado pequeno para os Superstars. Os aliados improváveis e compinchas na vida real posam para a posteridade - que acontece ser a base da sua amizade.



Após cair da cena do Título da WWE quando a minha história com o Punk acabou, eu estava preocupado com o que viria a seguir. Em esforços para ser realmente um tipo mau, eu parei de dizer "Yes!" e disse aos fãs para também pararem de o dizer. Claro que não o fizeram, então comecei a dizer "No!" quando os fãs diziam "Yes!" e fingi que tudo aquilo me deixava doido.

A minha música começava a tocar, todos começariam com o "Yes-ing", e eu apareceria a correr e a fazer gigantes gestos com as mãos, a gritar "No!" Foi, na verdade, muito divertido, e uma grande parte da diversão era entrar em competições de gritos com fãs à beira do ringue, nos quais trocaríamos "Yes!" e "No!" para trás e para a frente. Estes espasmos de raiva mudaram a minha personagem inteiramente e tornaram-me mais divertido, algo que eu precisava visto que eu já não estava na cena do evento principal.

Descobri pouco depois que o plano para o SummerSlam 2012 era eu ter um combate com a celebridade Charlie Sheen. Ele estava a atravessar um colapso mental muito público na altura, e de alguma forma a WWE conseguiu intermediar um acordo com ele para uma performance contra mim. Ele gravou alguns vídeos para o Raw a insultar-me, e apesar de ser um combate apatetado para fazer parte, colocar-me-ia num dos combates de topo do SummerSlam. Infelizmente, quem tenha tratado do acordo do Sheen nunca o fez assinar qualquer tipo de contrato para realizar o evento, e à típica moda Charlie Sheen, ele abandonou. O que saiu daí como resultado acabou por ser o período de tempo mais divertido que eu tive na WWE.

Durante a minha história com o Punk, a WWE inseriu o monstro veterano Kane, e acabamos por fazer um combate "triple threat" pelo título, em Junho, no No Way Out; fizemos o mesmo combate "triple threat" nos eventos ao vivo por um mês ou dois depois disso também. Isto tornou o Kane uma pessoa fácil com quem começar uma história mais encima da hora, em direcção ao SummerSlam, onde o enfrentei e derrotei com um "small package." Na altura eu estava a dar o meu máximo para tornar-me o "Mr. Small Package" - uma alcunha que eu inventei nas independentes após afirmar ter a "small package inescapável" - mas nunca pegou na WWE. Ainda assim, usei a minha vitória flash sobre o Kane para o deixar cada vez mais irritado comigo.

Mais importante que o nosso combate no SummerSlam foi uma série de vinhetas - filmadas antes do SummerSlam, apesar de irem para o ar algumas semanas após o evento - que nos envolvia aos dois a ter aulas de "controlo de raiva" ("anger management"), que era talvez não tão ironicamente o nome da sitcom televisiva do Charlie Sheen. Passámos todo o dia a gravar, e enquanto estávamos a filmar os segmentos, eu achava que eles seriam uma porcaria.

Era a primeira vez que eu tinha feito algo com a WWE que era filmado ao estilo filme, onde gravávamos uma cena com algumas frases de cada vez, a partir de uma data de diferentes ângulos. O Kane e eu fizemos "desenhos de raiva", fizemos uma "queda de confiança", e essencialmente imitámos todos os estereótipos que imaginarias acerca de uma aula de controlo de raiva. Apesar de acharmos que eram péssimos quando os filmámos, após terem sido editados e juntados, acabaram por ficar muito bem e os fãs gostaram. Parte disso foi a divertida dinâmica entre mim, escandalosamente doido e nervoso, e o Kane, na sua máscara a interpetar o mais lúcido e directo. A parte mais engraçada para mim foi o Kane a recontar secamente todas as coisas horríveis que a sua personagem tinha feito no passado, como electrocutar os testículos de um homem.

O que também fez a série resultar foi o "Dr. Shelby", um professor de representação/drama que interpretou o nosso terapeuta e foi espectacular no papel. Ele começou as vinhetas como um terapeuta de paciência infinita que via o lado bom de tudo, mas sempre que o Kane e eu parecíamos ter um avanço, em vez disso começávamos a discutir, fazendo o Dr. Shelby perder a cabeça e criar o maior escândalo de sempre. Era suposto ter sido uma personagem de apenas uma vez, mas ele foi tão bom que a WWE continuou a trazê-lo de volta para gravar coisas connosco no Raw. A única razão para eventualmente pararmos de o usar foi porque ele tinha um número limitado de dias de folga que ele podia usar enquanto professor.

As vinhetas transformaram o Kane e eu numa espécie de dupla de comédia. Após terem ido para o ar no espaço de várias semanas, os dois fomos colocados num dos segmentos mais estranhos de que eu já alguma vez fiz parte. Ocasionalmente no Raw, a WWE dá aos fãs o poder de votar naquilo que querem ver. Normalmente é escolher o adversário ou parceiro de alguém, mas no nosso caso foi inteiramente diferente. Os fãs podiam escolher se o Kane e eu a) lutávamos um com o outro, b) fazíamos equipa, ou c) abraçavamo-nos. Enquanto eu ia para o ringue, eu não sabia em qual os fãs tinham votado, então preparei-me para cada um. Inquestionavelmente, os fãs votaram para que nos abraçássemos.

Eu estava um pouco preocupado quanto a essa opção porque tínhamos um segmento de dez minutos para encher. Como raio íamos encher um segmento de dez minutos a abraçar-nos? Não tenho bem a certeza como o fizemos, mas não só enchemos o tempo, como passámos três minutos. Ali ficámos no meio do ringue e fizemos várias tentativas de nos abraçar. Simplesmente não éramos bem capazes de o fazer. Os fãs ao vivo em Chicago adoraram e cantaram, "Hug it out! Hug it out!" Foi de loucos. Éramos dois homens crescidos a tentar abraçar-se um ao outro não só em frente a uma arena cheia mas em frente a milhões de pessõas na TV; um de nós estava coberto com um collant de licra e uma máscara, e o outro de calções tão pequenos quanto roupa interior e uma t-shirt. Quando finalmente nos abraçámos, aquele sítio passou-se. Claro que depois começámos à porrada - porque afinal, é pro wrestling - mas quando atravessámos a cortina de regresso, o Vince estava encantado. Apesar de ter estado preocupado com que tudo aquilo fosse um fiasco, também adorei o segmento. Os cânticos de "Hug it out!" seguiram-nos todo o tempo que o Kane e eu fizemos equipa.

A WWE decidiu fazer outra votação dos fãs para escolher o nosso nome como tag team, que foi uma vez que eu desejei que eles não tivessem deixado a decisão nas mãos dos fãs. As sondagens interactivas aos fãs em directo são, por sua natureza, imprevisíveis. Podes adivinhar o que os fãs vão querer, mas regularmente adivinhas mal. Um bom exemplo disso foi a noite do ataque dos Nexus: Usaram uma sondagem online para ver quem lutaria com o John Cena, com as opções sendo Rey Mysterio, Jack Swagger e CM Punk. Eles acharam que seria o Rey devido à sua popularidade, mas os fãs na verdade votaram no Punk. Como performer, visto que não sabes os resultados até ao último minuto, pode tornar as coisas muito desafiadoras.

O Kane e eu não queríamos que uma sondagem de fãs determinasse o nome da nossa equipa. Nós gostávamos mesmo do nome Team Friendship e já nos tinham ocorrido várias ideias para t-shirts brutais, que incluíam caricaturas nossas com nuvens e arco-íris. Tenho a certeza que teria sido um verdadeiro vencedor, mas nunca pudémos descobrir. Numa sondagem entre Team Friendship, Team Teamwork (um nome que eu realmente usei nas independentes quando fiz equipa com o Austin Aries e sugeri como uma opção descartável aqui, sabendo que os fãs não votariam nela), e Team Hell No, o WWE Universe escolheu Team Hell No como vencedor com 59% dos votos. Percebo porque é que os fãs votaram nela; o Kane era supostamente um demónio do Inferno (Hell) e eu dizia muito "No!", logo parecia encaixar bem. Mas de uma perspectiva de merchandise, nós éramos uma equipa apropriada para miúdos, e muitos poucos pais permitiriam que os seus filhos usassem camisolas que dissessem "hell" nelas. Com certeza, apesar de termos sido uma equipa popular, as nossas camisas não venderam tão bem quanto deviam, e eu culpo o nome. Além disso, quão divertido é "Team Friendship"?

Pouco depois de começarmos a fazer equipa, Kane e eu vencemos o WWE Tag Team Championship do R-Truth (que eu conhecia desde que ele tinha trinta anos) e do Kofi Kingston. Ao início éramos apenas uma equipa de comédia que discutia muito, e a ideia era romper-nos e fazer-nos rivalizar pouco depois. Em vez disso, como combinámos tão bem, acabamos a fazer equipa pelos seguintes nove meses. Durante esse tempo fiquei a conhecer o Kane muito melhor, mas foi um processo lento. O nome verdadeiro do Kane é Glenn, e vou referir-me a ele como tal daqui em diante, porque chamar-lhe Kane agora parece estranho. O Glenn é alguém que é quase universalmente respeitado no balneário. Ele estreou-se como o irmão mais novo maléfico do Undertaker em 1997, apesar de ter lutado anteriormente na WWE como o "falso" sósia do Diesel, personagem original interpretada pelo Kevin Nash, e como Isaac Yankem ainda antes disso. Eu concluí o liceu em 1999, logo foi quando o comecei que o Kane apareceu pela primeira vez na WWE, e um veterano como o Glenn podia ser intimidante para a juventude nova a entrar, como eu. Ele também é relativamente calado excepto com os seus amigos mais próximos, então eu não o pude conhecer muito bem até começarmos a trabalhar juntos. Assim que começámos, porém, eu pude ver um lado completamente diferente dele.

(...)

No próximo capítulo: Após esta interessantíssima visão interna para um dos grandes momentos da carreira de Daniel Bryan, aguardemos pela segunda parte deste capítulo para algo não menos interessante: o lado da relação pessoal entre Bryan e... Glenn. A não perder!

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