Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 13 - Parte 3


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


(...)

No dia seguinte, tive a minha primeira (e, na verdade, a minha única) experiência de desrespeito da parte de outro Superstar, enquanto me dirigia de San Jose para Phoenix para a minha primeira Wrestlemania de sempre com a WWE. Todos nós que trabalhávamos nas gravações do Smackdown e do NXT estávamos no mesmo voo, incluindo os NXT Rookies. Nós os oito estávamos sentados em cabines perto de um bufete no aeroporto, juntamente com o Regal. Ezekiel Jackson, um tipo musculado de mais de 135kg que apenas andava a lutar há uns anos, veio à nossa beira e disse, "Qual de vocês rookies tem um lugar à face do corredor?" Ele tinha um lugar a meio e não estava contente com isso.

"Eu tenho," disse eu.
"Agora já não tens," respondeu ele. Já podia ver o que se estava a passar, mas ainda assim respondi, "Que queres dizer com isso?"
"Vou ficar com ele," disse ele.

A noite anterior (a cena da "streak de derrotas") já me tinha frustrado, e não me apetecia mesmo aturar merdas. "Não, na verdade não vais," disse eu. "E na verdade, se tivesses pedido com modos, eu teria todo o gosto em dar-te o meu lugar. Mas como não o fizeste, vou simplesmente dá-lo a outra pessoa."

O Jackson ficou furioso mas assim que ele estava prestes a responder, Regal castigou-o. "Tu sabes sequer com quem estás a falar?" disse ele. "Este homem é como um filho para mim e tem mais talento no mindinho que tu tens no teu corpo inteiro." Com isso, o Jackson foi-se embora, e eu dei o meu lugar à margem do corredor a outra pessoa e fiquei com o seu lugar a meio.

Após isso, a minha semana de Wrestlemania foi o máximo. Tivemos um punhado de aparições, apesar que não muitas. Tive uma sessão de autógrafos onde substituí o Evan Bourne, que era bastante popular na altura. Ele tinha uma fila de tamanho substancial quando o substituí, e quando o anúncio foi feito sobre isso, a desilusão da plateia foi audível enquanto metade da fila se ausentou.

Aventurei-me pela cidade usando transportes públicos, tentando encontrar a melhor comida vegana. A Ring of Honor estava a fazer os seus espectáculos anuais na vizinhança da Wrestlemania, então fui a um deles, apanhando boleia de uns fãs que também iam (incluindo um que é DJ na rádio em Philadelphia e que hoje me entrevista regularmente para promover futuros shows). No Domingo desse fim-de-semana, chegámos mesmo a participar na Wrestlemania XXVI - não de qualquer forma grande, mas ainda assim pudemos lá ir. No pré-show do pay-per-view, havia uma grande battle royal, e visto que éramos considerados Rookies, eles enviaram-nos para o palco para assistirmos "para que pudessemos aprender." O vencedor dessa battle royal foi o Yoshi Tatsu, um wrestler Japonês contra quem competi uma vez na New Japan quando ele era um miúdo. Eu guiei-o ao longo desse combate, e divertiu-me ligeiramente que eu agora estivesse ali a fingir aprender com ele.

Nesse espectáculo eu realmente aprendi, e fui emocionalmente tocado pelo combate de reforma do Shawn Michaels contra o Undertaker. Foi, de longe, o melhor combate do show. Não só isso, mas com uma plateia de setenta-e-dois mil pessoas e a atmosfera sendo simplesmente eléctrica, pode ser o combate mais memorável que eu já vi ao vivo. Eu assisti das bancadas para que pudesse absorver o seu todo inteiro. Shawn Michaels treinou-me, e ali estava eu, na minha primeira Wrestlemania e a sua última.

Para o NXT após a Wrestlemania, eles anunciaram os primeiros resultados da Pros Poll, um voto legítimo pelos WWE Pros, a classificar cada uma das nossas habilidades para sermos WWE Superstars. Visto que eles apenas tinham os Pros a escrever os seus pensamentos genuínos sobre as nossas posições, eu acabei por ficar em primeiro lugar, apesar de não ter vencido um único combate. Consigo imaginar que os fãs estivessem muito confusos, dada a ideia que ganhar ou perder é suposto importar. A Pros Poll era importante porque eras eliminado do programa se ficasses em último. A primeira, no entanto, era apenas uma demonstração; ninguém seria eliminado até à semana doze da competição, como nos disseram. Ainda assim, senti-me confiante que não importava quantos combates perdesse, desde que a votação fosse legítima, eu iria sair-me relativamente bem no programa.

Na semana seguinte, a WWE mudou inteiramente os planos sobre o que o NXT devia ser, e basicamente transformaram-no numa piada. Em vez de o fazer um veículo para exibirmos os nossos dotes como wrestlers, eles decidiram encher o programa com desafios parvos que tinham nada a ver com wrestling; carregávamos barris, fazíamos corridas de obstáculos, e tínhamos duelos como os American Gladiators num concurso chamado "Rock 'Em, Sock 'Em Rookies". A meio de um desafio, tínhamos que subir escadas a correr e beber um grande copo de refrigerante o mais rápido que conseguissemos. (Originalmente era suposto sermos nós a comer um cachorro quente, mas como eu era vegano e eles não conseguiram encontrar salsichas vegetarianas, foi trocado.) Como eu normalmente não bebo bebidas carbonadas, precisei de quase sessenta segundos para completar apenas essa tarefa. Pois é, num programa que era regularmente visto por um milhão de pessoas, espectadores do NXT sujeitaram-se a um minuto inteiro a assistir a alguém a tentar beber um refrigerante. Isso sim é televisão de qualidade.

A única razão para querer saber era que se vencesses os desafios, obtinhas pontos, e pela altura em que fizéssemos a primeira eliminação, quem tivesse mais pontos estava imune a ser expulso. Mas os desafios eram tão ilógicos e desmoralizadores que no final, todos os tratávamos como uma piada - excepto o Skip Sheffield (mais tarde conhecido como The Ryback), que demonstrou uma vontade inegável de vencer até o mais idiótico dos jogos.

Por cima dos desafios, os comentadores continuavam consistentemente a deitar-nos abaixo, especialmente o Michael Cole. Qualquer pequeno erro no ringue ou no microfone seria chamado à atenção instantaneamente, e a audiência seria lembrada de como éramos "apenas rookies." Eu era persistentemente massacrado por ser um "nerd", aparentemente porque eu tinha lutado nas independentes por tanto tempo e tinha um seguimento de tamanho decente na Internet. Em vez de fazermos coisas para nos tornar mais populares, éramos tratados como palermas. É difícil para mim imaginar o Undertaker a alguma vez conseguir tornar-se a lenda que ele é hoje se, quando o vissem pela primeira vez, ele estivesse a cair de "monkey bars" untadas enquanto os comentadores diziam-te que ele era estúpido por tentar ser um "homem morto." Mas lá está, é possível que a WWE nunca tivesse visto o potencial em qualquer de nós para ser esse tipo de estrela.

Não só éramos apresentados de maneiras que nos faziam parecer uns imbecis, também éramos separados do resto do balneário. Apesar de todos nós os oito estarmos sob contrato com a WWE, tínhamos que nos mudar num balneário separado, que normalmente não era um roupeiro sequer. Eles colocariam tubos e cortinas para cobrir um pequeno corredor, sem casa-de-banho ou chuveiro. Uma vez a nossa área de muda designada estava no meio de mesas colocadas para os gajos da equipa local comer durante os intervalos. Tínhamos que segurar toalhas sobre nós enquanto nos mudávamos para que pessoas a comer a sua comida não tivessem que nos ver as pilas.

Mesmo apesar da minha personagem ter acabado por ser um nerd que perdia todos os combates (acabei o NXT com um ressonante 0-10), tentei manter-me positivo. Houve uma semana a meio da temporada em que, após vir de uma reunião de produção de TV, o Arn Anderson disse-me que a única forma de eu alguma vez conseguir uma verdadeira oportunidade seria se os fãs ficassem do meu lado. Ele disse-me que acreditava em mim e assegurou-me que os fãs conseguem notar quando alguém é do verdadeiro.

Uma semana antes da primeira eliminação, noutra entrevista sem guião, o Matt Striker perguntou a cada um de nós no final do programa quem nós achávamos que devia ser eliminado. A maioria apontou para o Michael Tarver devido à sua má atitude, mas visto que eu já tinha perdido para ele nessa mesma noite, não fazia sentido na história que eu dissesse ele. Visto que eu já tinha perdido para todos os outros no programa, não fazia sentido eu dizer qualquer um dos outros também. Então, achando que seria a coisa certa de tipo bom e humilde, não tendo vencido um combate, disse que eu devia ser eliminado. Mais tarde, o Miz disse-me que eu não devia sequer ter colocado essa percepção nas mentes dos fãs. Eu estava a enfrentar uma batalha ascendente já como estava. Para mim, parecia lógico; além disso, eu achei que não havia forma de ficar em último lugar na Pros Poll e ser eliminado.

Quando foi altura para a primeira eliminação na Terça-feira seguinte, foi-nos dito para nos alinharmos ao lado do ringue antes do programa começar, de novo sem nos ser dito o que se estava a passar. Striker veio e lembrou os fãs que na semana anterior nos tinha perguntado quem devia ser eliminado. Michael Tarver também tinha dito ele próprio, com a sua justificação sendo que todos estariam mais seguros sem ele por perto. O Striker a seguir disse, "A gerência da WWE acha que se um Superstar não acredita nele mesmo, então como pode alguém acreditar nesse WWE Superstar?" E com isso, disse ao Michael Tarver que tinha sido eliminado pela gerência.

Após Tarver sair, o Striker dirigiu-se lentamente ao longo da fila a mim. Reproduziram o vídeo comigo a dizer que eu devia ser eliminado, e eu sabia o que estava a vir: Striker anunciou que eu também estava eliminado. Enquanto eu subia lentamente a rampa para a saída, um milhão de coisas me passavam pela cabeça, mas aquele que permanecia a destacar-se na minha mente era que a WWE tinha feito isto para provar um caso. Todas as coisas que eu tinha ouvido de tipos como o Colt Cabana sobre os sentimentos negativos da WWE em relação a wrestlers independentes pareciam estar confirmadas. Visto que eu tinha sido um porta estandarte para wrestling independente ao longo daqueles últimos anos, de repente fazia todo o sentido porque é que me gozavam no programa, apesar de ser um dos melhores performers. Depois achei que eles de uma vez me despediriam depois disto e eu voltaria para as independentes como um falhanço. Quando atravessei a "Gorilla position" (o espaço imediatamente do outro lado da cortina, nomeado em homenagem a Gorilla Monsoon), eu fui informado que teria uma entrevista com o Striker após o intervalo publicitário e que eu devia apenas responder como achasse certo.

A entrevista começou bem com uma pergunta francamente inofensiva sobre eu achar se tudo aquilo tinha sido justo. Eu sabia que estas perguntas eram dadas ao Matt por produtores e provavelmente pelo próprio Vince, mas a segunda questão foi insultuosa. Ele perguntou, "Arrependes-te de deixar a cena independente, onde foste um peixe grande num lago pequeno, para acabares por te afogar no mar que é a WWE?"

Vai-te foder. De maneira ou forma nenhuma eu tinha-me "afogado" na WWE. Fui escrito como um perdedor e ainda assim era o gajo mais popular no programa. Isto apenas me confirmou aquilo que pensei ao subir a rampa. Mas respondi com relativa calma.

"Bom, é engraçado, porque o 'Daniel Bryan' nunca lutou na cena independente," disse eu. "Se fores ao YouTube procurar por 'Daniel Bryan', tudo o que vês é WWE. Mas havia este gajo, meu, ele andava lá, ele andava a encavar as cabeças das pessoas à patada; pessoas chamavam-lhe o melhor wrestler do mundo. Ele era um Campeão no Japão, no México e na Europa. E sabes qual era o nome dele?"

Antes de eu o poder dizer, o Striker cortou-me dizendo, "O que se segue para esse tipo?" Eu podia praticamente ouvir a berraria no seu ouvido, mas eu continuei. Minimizei os dotes do "Daniel Bryan", dizendo que esse gajo não conseguia sequer derrotar rookies. E depois disse-o. "O 'Daniel Bryan' pode estar acabado, mas o Bryan Danielson - só Deus sabe o que lhe vai acontecer."

Quando eu disse o meu nome verdadeiro, teve mesmo reacção dos fãs. Também teve uma reacção do Vince; aparentemente, ele atirou o seu headset. Estava no estado de espírito que se eu fosse despedido, ao menos ia meter o meu próprio nome antes de me dirigir de volta às independentes. Mas porque o NXT não era bem em directo (tinha atraso de uma hora), eles mandaram-me refazer a entrevista, e o Striker fez perguntas diferentes. Quando o programa foi para o ar, contudo, deram a original em TV. Vince deve ter mudado de ideias entretanto.

(...)

No próximo capítulo: Para concluir o capítulo 13, tem que ficar a parte mais curiosa e até mais divertida. A relação entre Bryan e Vince McMahon. O velho Vince! Claro que só pode ser peculiar e vocês devem estar cá para saber algumas coisas sobre Vince a lidar com o seu talento jovem nos bastidores. Podem vir a surpreender-se...

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