Ultimas

Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 11 - Parte 2


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


(...)

Entre digressões, eu continuei a lutar em shows independentes, maioritariamente para a Ring of Honor. Mais no início do ano, venci um torneio da ROH chamado Survival of the Fittest, que culminou em mim e o Austin Aries, que acabava de começar com a ROH uns meses antes. Gabe Sapolsky, o booker, adorou a final e subsequentemente agendou o Aries e eu para um combate Two-out-of-Three Falls nesse mês de Agosto no Testing the Limit. Eu estava a falar com o Gabe a caminho do aeroporto quando ele me disse que tinha anunciado que cada "fall" teria o limite de tempo de uma hora. Eu achei isso esquisito, especialmente visto que não havia plano para que alguma das "falls" chegasse a uma hora; ia apenas ser como qualquer outro combate Two-out-of-Three Falls. Mas depois comecei a pensar. Eu imaginei alavancar o significativo tempo-limite. Podíamos ir para um empate de final de hora em cada uma das primeiras "falls", depois - mesmo quando parecesse que íamos para um terceiro empate de hora - ali por volta dos cinquenta-e-cinco minutos, o Aries derrotar-me-ia. Liguei de volta ao Gabe e contei-lhe a minha ideia. Ao início ele pensava que eu estava a brincar e riu-se, mas quanto mais eu falava com ele, mais ele se apercebia que eu falava a sério. Dado o modelo de negócio da ROH, a coisa mais importante era vender DVDs e cassettes. Se fizessemos o que eu tinha planeado, seria o combate de pro wrestling mais longo na história moderna, e a minha justificação era que um monte de fãs da ROH assim como não-fãs da ROH comprá-lo-iam, mesmo que avançassem a sua maioria. O Gabe começou a mudar de ideias e eventualmente disse que eu podia fazê-lo se quisesse.

Quando aterrei em Philadelphia, contei o plano ao Aries. Gabe já tinha falado com ele anteriormente e, inicialmente, Aries pensava que ele estava a pregar-lhe uma "rib". Após aperceber-se que não era uma piada, não demorou muito até o Aries concordar com o conceito. A minha única preocupação era os fãs ao vivo e mantê-los envolvidos. Nada mata tão bem um combate como uma plateia que está aborrecida, mas eu tive aquilo que considerava uma ideia brilhante. Visto que éramos os últimos, teríamos o ring announcer a avisar os fãs que podia acabar a ser um combate longo e que nenhum dos artistas ficaria ofendido se um membro da audiência decidisse ir para casa. Isso mesmo, a minha brilhante ideia era encorajar as pessoas a sair a meio do meu combate. Eu pensei que seria mais fácil lutar as três horas se não tivessemos que nos preocupar com entreter as pessoas ao vivo, e eu sabia que o comentário tornaria mais fácil para as pessoas assistirem em casa. Infelizmente, pessoas não estavam a sair, mas estavam a ficar aborrecidas, logo improvisámos e fomos para o nosso plano de reserva, trocar algumas "falls" naquilo que se tornou um combate de setenta-e-seis minutos. Ainda é o combate mais longo da minha carreira, apesar que estive sempre desapontado por não termos cumprido as três horas inteiras.

Por volta desta mesma altura, o Inoki Dojo começou a organizar alguns espectáculos. Simon e Hiroko trabalharam com algumas outras pessoas que conheciam o lado da promoção do wrestling muito bem, e também solicitaram a alguns de nós que lá treinamos, conselhos em bookings para os shows. Sentámo-nos em várias reuniões longas a propor como devíamos agendar o primeiro show.

O Rocky Romero, o Bobby Quance e o TJ Perkins tinham feito uma longa digressão da CMLL (Consejo Mundial de Lucha Libre) no México, e o Rocky tinha feito amizade com o Negro Casas, uma das maiores estrelas Mexicanas. Visto que a programação televisiva da CMLL ia para o ar na área de Los Angeles, que tem uma numerosa população Hispânica, pensámos que trazer um ou dois tipos desses seria a nossa melhor aposta. A partir daí, podíamos encher o resto do card com aqueles de nós que treinaram no dojo, juntamente com alguns viajados. Todos pareciam concordar que esta seria a melhor aposta e partiram para o trabalho. Marcaram num restaurante/boate Mexicano para um espectáculo, e parecia que ia ser perfeito.

Saí para o Japão, e quando voltei, descobri que a ideia tinha mudado. Em vez de trazer lutadores Mexicanos para o espectáculo, mandaram vir dois wrestlers Japoneses chamados Nishimura e Takemura. Nishimura era bastante popular no Japão mas não muito conhecido nos States, e o Takemura mal era conhecido no Japão. O espectáculo foi um fiasco, atraindo cerca de quarenta-e-cinco pessoas e perdendo cerca de 30,000$, pelo que ouvi. As intenções eram boas, mas foi apenas mais um exemplo de uma das coisas importantes no wrestling: Tens que conhecer a tua audiência.

Mais tarde nesse ano, continuei a tentar ajudar o Simon e o Hiroko ao recomendar que considerassem o Jamie Noble, um cruiserweight áspero, porém imensamente talentoso. Eu tinha lutado com o Jamie em inícios de 2003 no programa sindicado da WWE, o Velocity - uma das várias vezes que trabalhei para a WWE como um talento de aprimoramento. À maior parte do talento de aprimoramento era dada muito pouca ofensiva visto que estávamos lá para deixar os talentos contratados da WWE o melhor visto possível. O Jamie apenas queria ter um bom combate, no entanto, logo tivemos acção para um lado e para o outro, comigo a conseguir consideravelmente mais ofensiva do que uma situação dessas garantia. O nosso curto combate de TV correu muito bem, logo em finais de 2004, quando o Jamie foi dispensado da WWE, imediatamente fui ter com o Simon e o Hiroko. Disse-lhes que ele seria perfeito para a New Japan e que o seu talento podia mesmo fortalecer a divisão gaijin juniors.

A ligação foi feita com a New Japan e o Jamie foi agendado para a tour de Dezembro. Ele e eu fizemos equipa regularmente, e apesar de o ter encontrado antes, pude conhecer o Jamie no Japão. Ele tem um óptimo sentido de humor, que se torna ainda mais engraçado com o seu carregado sotaque de West Virgina. Na altura, ele tinha acabado de ter um bebé, e a maneira como ele falava dele fazia o meu coração derreter. Tivemos uma excelente digressão juntos que incluiu um divertido combate pelos Junior Tag Team Championships contra o Jado e o Gedo. No final da tour, o Jamie deu-me um grande abraço e agradeceu-me por ajudá-lo. (Desde então, ele já me ajudou mil vezes mais do que eu já o ajudei a ele, como explicarei mais tarde.)

Eu adorava lutar na New Japan, e quando 2004 acabou, eu visionava passar o resto da minha carreira lá - semelhante à maneira como o Scott Norton tinha passado a maioria da sua - mas não estava destinado a ser. Essa digressão de Dezembro foi a última vez que trabalhei para a New Japan Pro Wrestling.

O início de 2005 pareceu-se muito com o meu 2004: lutava todos os fins-de-semana em shows independentes e tinha uma tour da New Japan agendada para Fevereiro. Contudo, duas semanas antes da tour supostamente começar, eu ainda não tinha o meu visto. Simon e Hiroko, que eram quem realmente lidava com a New Japan, não sabiam porque é que ainda não tinha chegado mas voltaram a contactar-me no dia seguinte. Eles pediram desculpas e disseram que eu estaria na digressão de Março, o que não me importava porque dava jeito ao meu corpo as semanas de folga.

Anteriormente à tour de Março, eu continuei a inquirir sobre o meu visto, e Simon e Hiroko continuaram a assegurar-me que estaria lá a qualquer momento. Dez dias antes de ser suposto começar, disseram-me que eu também não estaria na digressão de Março. Admito que, quando aconteceu a segunda vez, comecei a ficar frustrado porque vivendo em Santa Monica, é difícil conseguir bookings independentes à última hora. Promoções independentes têm orçamentos limitados, logo um voo para um wrestler independente como eu - cuja experiência também já valia um pagamento mais alto - de L.A. com pouca antecedência não estava dentro das suas possibilidades financeiras, especialmente visto que não tinham muito tempo para o promover. Fui capaz de apanhar um par de shows da ROH e um booking da Pro Wrestling Guerrilla porque estavam na área de L.A., mas era praticamente só isso.

Abril era uma tour de "Young Lions" para a New Japan, logo eu sabia que também não estaria nessa, mas eles afirmaram que me queriam em Maio para o torneio Best of the Super Juniors. Em meados de Abril, o mesmo voltou a acontecer. Não fazia ideia do que se estava a passar. A New Japan sempre parecia feliz com o meu trabalho e eu tinha uma boa relação com o Simon e o Hiroko; tudo em relação a isto parecia suspeito. Após a terceira desilusão, decidi voltar para a Inglaterra já que, mais uma vez, bookings independentes eram mais difíceis de aparecer. Não era muito dinheiro, mas eu sabia que estaria a lutar e a divertir-me, logo fui a conduzir até Aberdeen para deixar o meu carro lá para a viagem e preparar-me para a minha jornada.

Em inícios de Maio, pouco antes da tour de Super Juniors, recebi uma chamada do Simon, que disse que a New Japan de facto me queria para a digressão desse mês, mas como eu era uma adição de último minuto, eles necessitariam de baixar o meu pagamento 500$ por semana. Eu disse-lhe obrigado mas não, obrigado. Mesmo com o corte no pagamento, eu teria feito mais dinheiro nas três semanas em digressão com a New Japan do que faria a trabalhar o Verão inteiro na Inglaterra. Foi uma das poucas vezes em que tomei uma decisão no wrestling porque estava chateado e sentia-me desrespeitado. Nunca descobri exactamente o porquê de tudo isso ter acontecido, apesar de ter aprendido mais tarde que teve algo a ver com políticas entre o Inoki Dojo e a New Japan. Eu era essencialmente um peão numa batalha maior. Como resultado, nunca mais voltei ao Inoki Dojo ou à New Japan, que é uma pena porque eu adorava ambos.

(...)

No próximo capítulo: Grande passo na carreira do jovem Bryan Danielson. Sim, ele já percorreu o mundo, fez fama e ganhou ouro. Mas vem agora o derradeiro momento: tornar-se a principal cara de uma companhia! A não perder!

Com tecnologia do Blogger.