Ultimas

Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 10 - Parte 4


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


(...)

O Verão é a altura mais ocupada do ano para o Dixon e a All-Star Wrestling, e foi por isso que eu fui quando fui. O meu primeiro espectáculo foi aquilo a que se referiam como "show de cidade," um espectáculo normal em frente a fãs de wrestling, mas durante os meses do Verão, a maioria dos eventos de Dixon tinham lugar em Butlins. Butlins, que é o que os Ingleses chamam de "campo de férias," é uma cadeia de resorts baratos à beira-mar para famílias que pagavam uma taxa que incluía tudo de alojamento e entretenimento (comida é extra). Estes resorts têm actos musicais, espectáculos de magia, e todo o tipo de entretenimento, incluindo wrestling. Como resultado, a maioria das pessoas a assistir aos espectáculos não é fã de wrestling; apenas calhava estarem lá e wrestling é uma novidade divertida.

Lutaríamos nas três localizações do Butlins - Bognor Regis, Skegness, e a minha favorita, Minehead - duas vezes cada uma, todas as semanas. Tipicamente faríamos Terça, Quarta e Quinta, numa localização do Butlins diferente a cada dia, depois voltaríamos no Sábado e no Domingo, às vezes com dose dupla aos Sábados, trabalhando em duas localizações diferentes no mesmo dia. Todas as semanas eu lutava num mínimo de cinco espectáculos, regularmente MAIS, porque decorreriam shows de cidade e outros shows de campo de férias metidos pelo meio.

Quando Regal me falou deste tipo de espectáculos, ele disse que era importante entender a audiência de Butlins: miúdos. Adultos também iriam, mas não eram fãs de wrestling; eles iam porque os filhos arrastavam-nos para lá. Regal expressou-me que a sua longevidade no wrestling - atravessar lesões e tudo - é devido ao que ele aprendeu em Butlins. Ele aprendeu a entreter e a fazê-lo sem colocar o corpo em demasiado risco noite após noite, visto que os miúdos não se importavam com grandes quedas ou manobras de alto impacto. Entreter era uma das minhas maiores fraquezas no meu jogo, então trabalhei nisso quase exclusivamente enquanto estava em Butlins.

Dixon queria que eu usasse a máscara de novo, o que era óptimo porque instantaneamente me tornava mais numa personagem. Apesar de eu originalmente ser um dos bons nos shows de cidade, os temas para os espectáculos de Butlins era a Inglaterra contra os Estados Unidos, com os Americanos como vilões. Sendo o American Dragon, estava claro para qual lado eu caía. Eu carregava a bandeira Americana até ao ringue e inicialmente apenas fazia as típicas cenas de mau do wrestling dos 80s. Em pouco tempo comecei a divertir-me e a ficar criativo. A minha voz nunca tinha sido boa, mas tornei-a ainda pior para o acto ao ir para o ringue e cantar o hino nacional Americano. Eu até me esquecia intencionalmente de palavras para irritar mais a plateia e eventualmente acrescentei promos ao microfone antes de cantar, o que me ajudou a ficar um pouco mais confortável noutra das minhas maiores fraquezas. No ringue, eu alternava entre tentar ser um vilão cruel e tentar fazer as pessoas rir, frequentemente no mesmo combate. Eu regularmente tentava encontrar quantas maneiras únicas possíveis de ser atingido no meio das pernas. O meu recorde foi ser atingido nos tomates doze vezes contra o Mason Ryan em Bognor Regis.

Wrestlers Ingleses, que tinham anos de experiência a lutar em sítios como Butlins, tinham alguns óptimos spots de comédia que eu nunca tinha visto antes. O meu favorito era "A Cabeça, as Mãos e as Bollocks." O vilão atiraria o favorito dos fãs para fora do ringue. Quando o bom tentava entrar de novo no ringue, o mau pisava-lhe a mão, então ele procuraria uma senhora da fila da frente para lhe dar um beijo na mão para melhorar. Ele tentaria entrar outra vez, e depois o vilão atingia-o na cabeça, que a mesma senhora também beijaria. Depois os dois adversários basicamente trocavam de papéis; o vilão tentaria entrar no ringue e o favorito dos fãs pontapearia a corda do meio, que o atingiria nas bolas. O vilão depois voltaria à mesma senhora, apontar para o seu entre-pernas e pedir um beijo. Naturalmente, a senhora recusaria sempre levando a muitas risadas na plateia. Eu continuava a achar que um dia iriam encontrar a senhora errada, que realmente o faria, e depois se tornaria um tipo de espectáculo completamente diferente.

Estar nesse ambiente adicionou outra dimensão ao wrestling para mim; mudou a minha percepção do que wrestling podia ser e do que as pessoas queriam dele, especialmente no contexto de ser mais como um "espectáculo de variedades."

As viagens entre campos Butlins eram bastante longas, e não facilitava que a nossa base fosse numa pequena cidade perto de Liverpool chamada Birkenhead. Basicamente todas as viagens tinham mais de três horas, maioritariamente em estradas pequenas, curvas e cheias de rotundas. Eu nunca tinha sido propenso a enjoar no carro antes, mas acontecia-me algumas vezes nessas viagens.

As viagens eram parte da diversão, no entanto, e o pessoal que conheci pelo percurso tornaram-se algumas das minhas pessoas favoritas com que já viajei, como o Frankie Sloan (um primo do Robbie Brookside), que se tornou um bom amigo meu e é provavelmente o homem mais engraçado que já conheci. Se não se estivesse a conduzir (e eu nunca conduzia), podia-se dormir, mas apesar de todos termos CD players portáteis, normalmente ríamo-nos e brincávamos durante a maioria da viagem. Fazíamos as viagens juntos, montávamos e desmontávamos os ringues juntos, e se tivessemos uma noite livre em Butlins, saíamos juntos. Eu raramente fui a bares durante a minha carreira, mas na Inglaterra era diferente. Eu adorava sair, muito porque os gajos eram tão divertidos de conviver. Eu obviamente não bebia, mas encontrava contentamento em karaoke, e íamos todos fazer figuras de parvo nas pistas de dança.

Os wrestlers Ingleses também tinham um excelente sistema no qual se cometesses algum erro ou algum "crime" (crimes comuns eram cockblocking, um erro enorme num combate que fosse um embaraço para o trabalho, ou evitar montar o ringue), terias o teu caso julgado pelo wrestler sénior do grupo. Se considerado culpado, serias punido a ter que correr milhas. A meio de uma viagem, a carrinha deixaria o culpado na berma da estrada e ele teria que alcançar a carrinha em dez minutos ou seria forçado a correr mais uma milha.

Todo aquele tempo juntos desenvolveu camaradagem e, claro, com todo aquele tempo também vieram desavenças. Contudo, foi o mais próximo que eu já vi um balnéario de wrestling a chegar de uma família.

A meio da minha viagem, também acabei a fazer o meu primeiro espectáculo na Alemanha, graças a Robbie Brookside. Robbie, que eu originalmente conhecera quando vivia em Memphis, era um bom amigo de Regal e o par fez equipa quando eram jovens.

Nos espectáculos do Dixon, eu ocasionalmente lutava com o Robbie, apesar de ele ser mais colocado contra Americanos maiores nos eventos principais porque ele era um wrestler viajado pelo mundo e era a maior estrela do show. Ainda assim, ele estava constantemente a olhar por mim e, enquanto eu lá estava, pedia o seu conselho antes de o de qualquer outro. Robbie foi outro mentor influente para mim, não apenas em wrestling, mas na vida. Apesar de me lembrar do Regal a dizer-mo também, foi Robbie quem disse primeiro o seguinte: "O wrestling não te deve uma vida. Se não te estás a divertir, podes sempre ir fazer outra coisa. Nós temos sorte em sermos capazes de fazer vida a fazer o que fazemos." Tentei sempre lembrar-me disso.

Robbie era o Campeão para um promotor mais velho na Alemanha, que andava a administrar shows de wrestling há anos. Eles andavam a fazer duas semanas e meia seguidas de espectáculos no mesmo local, uma tenda colocada no meio de uma feira popular, que era uma tradição de longa data de wrestling Alemão. O promotor estava hesitante em usar-me quando Robbie falou no assunto. Ele, como Dixon, gostava de usar Americanos maiores ou alguns que tivessem nomes estabelecidos. Para ele, eu era um lutador pequeno e desconhecido, e ele não sabia se os fãs iam gostar de mim. Robbie era persistente, no entanto, e conseguiu agendar-me num espectáculo, onde ele e eu lutámos num combate two-out-of-three-falls pelo seu título. O que o tornou único para mim foi que utilizaram o sistema de rondas para combates por títulos. O nosso deu-se ao longo de doze rondas de três minutos.

Antes, mencionei que o combate com o Paul London foi o melhor combate que eu tinha tido na altura. Este foi o combate que o ultrapassou. Robbie era odiado na Alemanha e, apesar de os fãs nunca me terem visto antes, não tardaram muito a começar a torcer por mim. No combate do Paul London, eu era o "general do ringue", mesmo que eu lutasse há menos de quatro anos por aquela altura. Neste combate, Robbie tomou o controlo, e ele foi fantástico. Ele disse-me quando e o que fazer, e tudo o que ele me instruía era perfeito para o que a plateia queria. Ele era um mauzão depravado e e eu era um bonzinho fogoso e, quando o combate acabou, apesar de ter perdido, a plateia aplaudiu-me na minha saída. Quando cheguei aos bastidores, Robbie deu-me um grande abraço, e depois o promotor veio ter comigo para me dar os parabéns pelo combate. Depois disso, também admitiu a Robbie que estava errado em relação a mim e que eu tinha sido uma óptima escolha para o campeonato. Quando Robbie me disse o que o promotor tinha dito, ele parecia tão orgulhoso. Dado o quanto ele me ajudou, vê-lo tão satisfeito com o que tínhamos feito foi bem melhor até que lutar no Tokyo Dome.

Acabei por ficar na Inglaterra por pouco mais de seis meses. Mesmo antes de voltar para os Estados Unidos, lutei por dezassete dias seguidos, fazendo vinte-e-um espectáculos nesse tempo. Por vezes seria em frente a quase mil pessoas; por outras seria em frente a menos de quinze. Mas foi brutal. Verdade seja dita, se o Brian Dixon tivesse sido capaz de pagar um pouquinho mais, eu provavelmente nunca tinha saído. O estilo de vida era realmente apelativo para mim. Eu não tinha muita coisa porque não havia espaço na maleta da qual eu literalmente vivi por meio ano. Não havia stress, ou pressão, apenas percorrer as estradas com tipos interessantes e a lutar. Vivíamos praticamente como ciganos. Era perfeito.

Tento encontrar-me com o Frankie sempre que vou à Inglaterra, quando fazemos lá espectáculos com a WWE. Adoro poder ver o Brian Dixon e a sua família quando ocasionalmente vêm aos shows, e encontro-me com gajos como o Mikey Whiplash de vez em quando. Adoro vê-los a todos. E sempre que volto, tenho aquela saudade secreta no coração pelos dias passados quando tudo era um pouco mais inocente para mim. Foi a maior diversão que eu já tive no wrestling.

No próximo capítulo: Como já devem ter entendido, agora já não há travões nesta biografia e já estamos a acompanhar uma rica carreira de Daniel Bryan! Na próxima semana introduzimos o capítulo 11 e voltámos a solos familiares, incluindo a Ring of Honor. Com um Bryan mais maduro e prestes a dar o seu derradeiro salto. A não perder!

Com tecnologia do Blogger.