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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 7 - Parte 4


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


(...)

Após o torneio, Brian e eu não tínhamos a certeza do que fazer em relação aos nossos papéis como treinadores da APW. Fosse por mais nada, estávamos ambos falidos e o dinheiro dava-nos jeito. Apesar da oportunidade, Brian decidiu não aceitar. Antes de poder decidir, fiz uma chamada importante ao Donovan para perguntar se estava tudo bem com ele se eu aceitasse o emprego. Ele disse que estava na boa com isso e encorajou-me a fazê-lo porque seria uma boa experiência para mim. Se ele sentia mesmo isso ou não, não faço ideia, mas no dia seguinte, liguei ao Roland para lhe dizer que estava interessado. Eu ganharia 350$ por semana e era-me dado um lugar para ficar. Além disso, os meus fins-de-semana estariam livres para aceitar bookings independentes. Eu estava convencido. Notifiquei os meus empregadores - a escola e o Video Tonight, Tan Today - depois acabei o trimestre na faculdade comunitária. A 1 de Janeiro de 2002, mudei-me para Fremont, California, para tornar-me o treinador principal de uma escola de wrestling.

Quando me mudei para treinar na APW, não fazia mesmo ideia do que esperar. Roland deu-me a morada para onde eu iria viver e, quando cheguei, a casa onde estacionei era bonita e numa óptima vizinhança. O que não me apercebi é que eu estaria a viver com o próprio Roland, assim como outro promotor chamado Doug Anderson, que era o pai de uma das raparigas no programa de treinos, a Cheerleader Melissa. Também na casa está o tio de Roland, de oitenta-e-oito anos, o Al. Éramos uma bela família. Eu tinha um quarto pequeno no segundo andar da casa e, claro, estava de volta a dormir no chão.

Por um tempo, a escola de wrestling da APW era imensamente rentável - pelos padrões independentes, isto é. Roland e a All Pro Wrestling receberam uma tremenda exposição após terem sido exibidos em peso no documentário de wrestling "Beyond the Mat", no qual dois aprendizes da APW recebiam tryouts na WWE. Após o filme sair e conseguir algum sucesso, Roland foi capaz de cobrar taxas bem mais altas. Enquanto eu paguei 3900$ para treinar com o Shawn Michaels, Roland foi capaz de cobrar 6000$ por aluno. Não só isso, mas ele assinou contratos com novos alunos que requeria que eles pagassem o saldo completo mesmo se desistissem.

Cada aula era limitada a vinte alunos, e antes de eu lá chegar, quase todas as aulas estavam cheias. A sua estratégia parecia-me ser trabalhar os alunos até à morte para que apenas aqueles que realmente quisessem ficarem. Os desistentes iriam perder alguma da sua propina, o que não me parecia correcto.

Pela altura em que mudei para Fremont, Donovan Morgan e Mike Modest, outro dos ex-treinadores do Roland, tinham aberto uma escola e promoção chamada Pro Wrestling Iron na mesma área para competir com a APW. A organização rival ia cascar na APW de Roland na Internet, o que levou aos da APW a fazer o mesmo em relação à Pro Wrestling Iron.

A competição crescente criou um declínio agudo em alunos para a All Pro Wrestling, apesar de não ser esse o único factor a contribuir. Eu não estava apenas a cargo do treino, mas também da recruta. Eu era responsável por contactar qualquer um - de perto ou de todo o mundo - que preenchesse as inscrições. E o Roland não queria só que eu lhes ligasse uma vez. Ele queria que eu lhes ligasse, pelo menos, todos os meses durante um ano inteiro. O Donovan tinha feito isso, e a sua habilidade para ligar para as pessoas e vender-lhes a escola era uma das razões para que a APW tivesse tanto sucesso. Eu, por outro lado, era menos bom nisso.

Roland pediu-me para passar entre trinta minutos a uma hora em cada dia de treino a ligar para potenciais alunos. Eu fi-lo ao início, mas simplesmente não estava em mim tentar convencer as pessoas a tornar-se wrestlers, especialmente quando eu sabia o preço a pagar. Eu sempre achei que se alguém quisesse realmente lutar, o faria e sem necessidade de ser convencido a qualquer coisa. É por isso que sou um homem de negócios horrível.

Para ser honesto, eu não era lá muito melhor a treinar pessoas a lutar. Eu na verdade era muito bom a esmiuçar os movimentos do wrestling, mas era mau em motivação. Eu nunca precisei de mais alguém a motivar-me para trabalhar duro no wrestling, para ver as cassettes, ou para tentar coisas novas. Tudo isso era divertido para mim, logo nunca parecia trabalho. Nas minhas aulas, eu começava por mostrar-lhes alguma coisa, depois abri-lo para perguntarem o que queriam aprender. Foi assim que eu aprendi, mas eu fui auto-motivado. A cada sessão, eu dizia aos treinados para entrarem com três coisas na qual queriam trabalhar no dia seguinte, e muito raramente vinham com algo específico. Eu acabei por ser um treinador frustrado porque esperava que fossem auto-motivados como eu fui. Para a maioria dos alunos, parecia que o wrestling era apenas algo que queriam experimentar, não algo que estavam determinados a fazer. Eu tentei ser muito encorajador, mas para suceder no wrestling, precisas de um certo grau de paixão, e eu não tinha interesse em tentar inspirar paixão nas pessoas.

A única aluna que eu achei que realmente sucedeu foi a Sara Amato, que já viajou por todo o mundo a lutar e hoje é uma treinadora realizada de futuras Divas no WWE Performance Center. Antes da minha chegada à APW, a Sara já tinha estado a treinar com o Donovan, mas lesionou-se no joelho, logo estava essencialmente a começar do início quando lá cheguei. Ela trabalhou muito duro, estava constantemente a estudar cassettes e, no geral, era dura. Uma vez, eu estava a ensinar Back Body Drops, e a rapariga com quem ela estava no ringue colapsou debaixo dela, fazendo a Sara aterrar sobre o ombro e separá-lo. Ela soltou um "expletivo", rolou para fora do ringue, colocou o próprio ombro no sítio, depois voltou ao ringue para fazê-lo outra vez. Outra razão para eu ser um mau treinador: eu deixei-a tentar fazê-lo outra vez. Ela recebeu o Back Body Drop uma segunda vez, e quando aterrou, o ombro dela estourou outra vez. Mais uma vez, praguejou, rolou para fora, estourou-o de volta ao sítio, e estava pronta para voltar ao ringue. A esse ponto, eu intervim e disse-lhe que já estava feita para o dia, e a seguir instruí-a a ver um médico. Apesar da Sara não estar a fazer a decisão mais inteligente ao lutar com uma lesão daquela forma, demonstrou a sua paixão pelo wrestling. Quando pessoas me perguntam o que é preciso para ser um wrestler, eu digo sempre que paixão é a coisa mais importante. Bem, paixão e sorte.

Tudo isso dito, eu verdadeiramente desfrutava de treinar pessoas. Ensinar força-te a aprender melhor as tuas habilidades de modo a explicá-las a outras pessoas, e a esse ponto da minha carreira, ainda sendo tão novo para o wrestling, ajudou-me bastante. Além disso, gostei imenso da Bay Area, e apesar das minhas dúvidas quanto à situação habitacional, acabou por ser divertido. Roland, que faleceu em 2013, era gracioso e engraçado, e tinha sempre algo interessante para falar, maioritariamente mexericos de wrestling. Doug Anderson era um homem bondoso, que parecia estar sempre de bom espírito.

Viver com o tio de oitenta-e-oito anos do Roland foi o que tornou a situação verdadeiramente única. O Tio Al tinha dificuldade em ouvir e ver. Quando me mudei, ele era capaz de se vestir sozinho, mas após um mês e quê, Roland teve que começar a deixar as roupas para ele. Ele passou de usar as suas habituais boas calças e camisa de botão, para roupas que o Roland usava, que é a razão para que um dia o Tio Al saísse, confuso, com calções de basquetebol por cima das suas calças.

No octagésimo-nono aniversário do Tio Al, decidimos fazer-lhe uma festa surpresa, completa com um bolo de gelado e montes de decorações. Enquanto Roland e eu percorríamos a loja, Roland agarrou duas velas, uma que era um 8 e outra que era um 9. Eu detive-o e apontei o quão raro era pessoas viverem para chegar aos oitenta-e-nove anos. Roland concordou com a minha sugestão de celebrar com oitenta-e-nove velas. Era apenas uma questão de velas normais ou velas "mágicas", do tipo que não se apaga. Sem realmente pensar nas coisas, escolhemos as segundas.

Após o treino, convidámos todos os alunos a casa para a grande festa de aniversário do Tio Al. Demos a todos adereços de festa como chapéus e kazoos, e até tinha ainda encontrado uma data de máscaras de papel do Batman porque achámos que eram engraçadas e iam confundir o Tio Al. O treino estendeu-se até tarde, logo voltámos à casa por volta das 9 da noite, que era duas horas depois da habitual hora de deitar do Tio Al. Como ele não ouvia muito bem, o barulho de todos nós a entrar não o acordou. Rapidamente preparámos todas as decorações e começámos a trabalhar no bolo de gelado, que planeávamos levar ao seu quarto. Nem uma pessoa - nem sequer o Doug, que era um adulto sensível e razoável - mencionou que podia ser má ideia colocar oitenta-e-nova velas que não se apagam num bolo de gelado.

Organizámos todas as velas no bolo, que requeria que as puséssemos muito próximas umas das outras. Estávamos a menos de meio do caminho quando todas as velas pegaram fogo e criaram uma labareda tão alta que deixou marcas negras no tecto. Claro, o que fazemos todos? Começamos a tentar apagá-las... o que não resultou porque eram putas velas mágicas. Eu peguei no bolo e tentei correr com ele para a banca da cozinha, enquanto Roland ia acordar o Tio Al para que ele pudesse ver a confusão que armámos. A torneira da cozinha não funcionou, logo enquanto corria lá para fora, deixei cair o bolo no chão. A este ponto, o Tio Al - vestindo apenas os boxers e a regata branca - estava muito lentamente a sair do seu quarto, a gritar, "Que raio se está a passar?!" A Sara correu para buscar uma faca e um prato. Cortámos uma fatia do bolo recuperado e acendemos uma vela nele, e quando o Tio Al emergiu, demos-lhe o bolo enquanto todos lhe cantávamos os Parabéns. Inesperadamente, o Tio Al começou a chorar. Em quase nove décadas, foi a primeira festa de aniversário que alguma vez tivera.

No próximo capítulo: Partimos para o oitavo capítulo e já se fala de algo que conhecemos bem e que significará qualquer coisinha para Bryan: a Ring of Honor! Razões mais que muitas para cá estarem a ler na próxima semana.

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