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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 7 - Parte 3


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


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Apesar de estar muito muito deprimido após ter sido despedido, também fui muito afortunado nas oportunidades que recebi enquanto estava sob contrato. O ex-WWE Superstar Charlie Haas e o seu irmão Russ eram muito próximos do Jim Kettner, um promotor independente de topo, do Delaware, que mandava na East Coast Wrestling Association (ECWA). Em 1997, o Jim criou um torneio anual cada vez mais popular ao qual chamava Super 8, incluindo os oito melhores wrestlers independentes do país. Quando os irmãos Haas vieram a Memphis e viram o Brian e eu a lutar, eles disseram ao Jim que achavam que seríamos excelentes para o Super 8. O Charlie sugeriu que eu seria o adversário perfeito para o Low Ki, que andava a rasgar tudo na cena de wrestling independente do nordeste e era o prospecto de topo do Kettner. Quando ele ligou e me pediu para participar, aceitei de bom grado. Kettner trabalhava regularmente com a WWE para promover eventos ao vivo em Delaware e tinha uma boa relação com a organização. Ele prometeu à WWE (e a mim também) que me colocaria em combates onde teria a oportunidade de brilhar. E se o fez!

Na primeira ronda, lutei com o Brian; na segunda ronda, lutei com o Reckless Youth (que já tinha saído da WWE por esta altura); e na final, chegou a mim contra o Low Ki. Todos os meus três combates correram muito bem, e o combate com o Low Ki, especificamente, obteve uma óptima reacção, não só porque era a final mas porque estávamos a misturar wrestling de tapete pragmático com patadas e estaladas rígidas de uma forma que os fãs das independentes Americanos não estavam habituados. O Super 8 recebeu uma grande parte de cobertura, incluindo em revistas nacionais como a Pro Wrestling Illustrated, logo consegui muito boa publicidade a partir daí. Honestamente, se eu não tivesse competido no torneio, eu teria tido dificuldades em assegurar bookings assim que fui despedido, visto que antes do Super 8, ninguém me conhecia propriamente fora de San Antonio e Memphis.

Depois de ter sido despedido pelo sistema de desenvolvimento da WWE, mudei-me de volta para Washington - basicamente o que fazia quase sempre que não sabia o que fazer. Voltei a viver com a minha mãe e tentei pensar num novo plano. Não havia muito wrestling em Washington, mas eu tinha contactado uma companhia em Vancouver chamada Extremely Canadian Championship Wrestling (ECCW). Eles estavam interessados em usar-me, o que foi óptimo porque quase todos os fins-de-semana, organizavam três espectáculos. O Jim Kettner ainda me ia buscar para os seus shows da ECWA também, ocasionalmente, e eu achei que por entre estas oportunidades, mais o contínuo boca-a-boca à volta do American Dragon, eu podia essencialmente evitar arranjar um emprego "a sério" e viver das minhas poupanças.

Infelizmente, não pude. Apesar de inicialmente ter planeado ter o meu carro novo pago no final do ano, ter sido despedido dificultou a administração de pagamentos mensais e outras contas. Na ECCW, eu apenas estava a fazer 75$ Canadianos por espectáculo (cerca de 45$ Americanos), fora o custo da gasolina para a minha viagem de doze horas.

Quando trabalhava para o Kettner, fazia 100$, mas isso era - no máximo - uma vez por mês, e eu não estava a conseguir muitos mais bookings noutros sítios. Então acabei por arranjar dois empregos, um num programa extra-curricular para miúdos da escola primária e uma combinação de vídeoclube/solário chamada Video Tonight, Tan Today. Mesmo com uma agenda bastante preenchida, comecei a ter aulas na faculdade comunitária local também.

Bryan vence o torneio "King of the Indies" de 2001
(Foto por Dr. Mike Lano)

Tive um grande lançamento em Outubro de 2001, graças ao Roland Alexander, um promotor da California que mandava na All Pro Wrestling (APW). No ano anterior, ele tinha organizado um torneio chamado "King of the Indies". Ele próprio com base na Bay Area, Roland usava quase exclusivamente wrestlers da costa ocidental no seu primeiro torneio de oito homens. No ano seguinte ele decidiu fazer algo um pouco diferente ao torná-lo um torneio de dois dias e dezasseis homens e trazendo wrestlers de todo o país, assim como o Doug Williams da Inglaterra. Baseado nas nossas performances no Super 8, Roland ofereceu ao Brian e a mim um lugar a cada um no seu torneio de elite.

No primeiro dia, Roland colocou-me com o Brian na ronda de abertura. Como já tínhamos lutado um com o outro mais de cem vezes por essa altura, tivemos um combate muito bem que captou a atenção de uma lenda dos ringues em particular. Nick Bockwinkel, que estava entre vários outros lendários a presidir o espectáculo, abordou o Roland no final da primeira noite. "Se tu não colocares aquele tipo over," disse o Bockwinkel, a apontar directamente para mim a sugerir que eu vencesse, "és doido." Apesar de totalmente não ser o plano original, Roland aceitou o seu conselho - uma decisão que criou muito drama e controvérsia no dia seguinte.

Inicialmente, Donovan Morgan, que era o treinador principal na escola da All Pro Wrestling (a verdadeira máquina de dinheiro da promoção), estava agendado para me derrotar nas semifinais e seguir para vencer o torneio. Ele estava fervoroso com a troca, mas não era essa a única coisa que o tinha chateado.

Na manhã do segundo dia do torneio, Roland - imensamente impressionado com o nosso desempenho na noite anterior - ofereceu a mim e ao Brian cargos como treinadores na escola da APW. Ele explicou que precisava de um novo treinador principal porque o Donovan andava a passar muito tempo a lutar no Japão. Apesar de os dois sermos ainda relativamente inexperientes, Rolan dizia acreditar que seríamos óptimos treinadores. Dissemos-lhe que íamos pensar no assunto e em seguida fomos perguntar ao Donovan como era o trabalho - não sabendo, claro, que o Rolan não lhe tinha contado sobre a proposta. Donovan estava furioso, porém com o Rolan, não connosco.

Nessa noite, lutei com o Doug Williams, o que foi divertido porque ele sabia como fazer todo o wrestling estilo Europeu que o Regal me tinha ensinado. O ímpeto mudou mais tarde, nas semifinais, quando lutei com o Donovan. Sentindo-se traído e desencorajado, ele não se esforçou muito no nosso combate ou quis fazer alguma coisa para fazê-la uma performance memorável, o que era compreensível. Foi um combate curto e sem brilho, ao contrário do meu encontro na ronda final com o Low Ki, que era essencialmente uma revanche da final do Super 8. Lutámos por quase trinta minutos, incorporando os mesmos elementos que fizeram do nosso anterior combate único. Venci com uma manobra de submissão que eu começara a usar no Super 8 como o meu finisher: o Cattle Mutilation, um duplo Chicken Wing em ponte com o meu adversário sobre o estômago. Esta manobra tornou-se o meu cartão de chamada para o resto do meu tempo nas independentes.

Reconhecendo que o uso de algo chamado Cattle Mutilation (Mutilação de Gado) por um ex-vegano pode ser um pouco inesperado, creio que a origem do nome da manobra possa precisar de alguma explicação. Eu primeiro vi a pega num show da National Wrestling Alliance (NWA) chamado Future Shock '89, um torneio entre as estrelas de topo da NWA da altura, incluindo o Great Muta, que era um dos wrestlers mais entusiasmantes daquele período. De repente, a meio do combate, Muta saca desse duplo Chicken Wing em ponte. Não teve reacção e mal foi mencionado pelos comentadores, mas eu achei que era espectacular. Comecei a usá-lo quando estava em Memphis, mesmo que poucas vezes como finisher. Quando o usava, chamava-lhe a "coisa com o duplo Chicken Wing em ponte." A primeira vez que ouvi as palavras "Cattle Mutilation" foi quando lutei com o Reckless Youth no Super 8. Eu disse-lhe que queria derrotá-lo com um Full Nelson Suplex, mas dado que já tinha acabado de derrotar o Brian Kendrick com essa submissão na ronda anterior, ele disse-me que achava que também devia derrotá-lo com o Cattle Mutilation. Eu não fazia ideia do que ele estava a falar. "Cattle Mutilation," disse ele, "é como se chama a submissão." Ele olhou para mim como se eu fosse parvinho e retirou-se. Tomei o seu conselho para o finish, mas achava que o nome era maluco e assumi que não o ouviria outra vez. Pouco depois, no entanto, quando lutei com o Christopher Daniels, ele também lhe chamava o Cattle Mutilation. Pela altura em que a Ring of Honor (ROH) começou, toda a gente lhe chamava isso. Toda a gente, isto é, excepto eu. Eu não fazia ideia de onde vinha o nome e odiava a imagem, logo teimei em chamar-lhe a minha coisa do duplo Chicken Wing em ponte. Só por finais de 2002 é que finalmente aceitei que a manobra seria sempre conhecida como Cattle Mutilation, apesar dos meus maiores esforços. É assim a vida.

Imediatamente a seguir à minha vitória no torneio King of the Indies, fui presenteado com um troféu enorme, com o qual realmente pude ficar (ao contrário de outros troféus de wrestling, que normalmente são só para o show e são retirados pouco depois de serem dados). Mas mais importante que o troféu foi isto ter-me posicionado como um wrestler de main-event nas independentes. Aquele torneio de dois dias da APW, nos dias 26 e 27 de Outubro, foi a inspiração para a Ring of Honor, e a minha vitória fez as pessoas ver-me como um gajo de topo logo, incluindo as pessoas responsáveis pela Ring of Honor quando esta veio a ser.

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No próximo capítulo: Concluiremos este sétimo capítulo com mais uma peripécia em que Bryan se meteu. Então o moço, ainda tão novo e a começar a carreira... Já vai ser treinador? Pois vai... E se acham que vocês, no lugar dele, faziam má figura... Ele não fez muito melhor. Têm mesmo que ler como Bryan se comportou dentro e fora do ringue, como jovem treinador!

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