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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 7 - Parte 1


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!



Capítulo 7: Obra de "ART"
Quinta-Feira, 3 de Abril, 2014 - 10:58

"Braniel" saem do seu quarto de hotel e separam-se no elevador; Brie cumprimenta alguns fãs da WWE a caminho do salão de beleza, e Daniel chega para a sua consulta de terapia na ART (Active Release Tecniques) numa calma suíte de hotel transformada em estúdio terapêutico.

Ainda com a garrafa de água filtrada OKO em mão, Bryan consulta com o praticante, descrevendo sensibilidade e vários efeitos do estilo de vida altamente físico de um atleta profissional. Ele estende-se na mesa - primeiro de barriga para cima, depois de costas - e o especialista utiliza forte pressão para romper tecido cicatricial nos músculos excessivamente usados. O pescoço e membros de Bryan são balançados para trás e para a frente; de seguida está preso em algo que lembra um Half Nelson. Repete. Pelo fim da sessão, qualquer desconforto inicial rende-se ao relaxamento dos músculos. Está preparado para a seguinte fase do bem-estar diário: uma sessão de exercício.



O Lance, o Brian, o Shooter Schultz e eu mudámo-nos para Memphis em meados de Junho de 2000, quase um ano depois do exacto dia em que deixei Aberdeen por San Antonio. Mudar para o Memphis foi um pouco enervante para todos nós, porque nunca tínhamos estado fora da bolha protectora do Shawn, no que ao wrestling diz respeito. Shawn foi sempre muito protector connosco e tratava-nos como seus filhos. Havia muita coisa que não sabíamos como fazer que o Shawn certificou-se que nos ajudava, como conseguir os nossos apartamentos ou ter a sua mulher, Rebecca, levar ao Lance e a mim à agência tratar do passaporte antes de termos ido para o Japão. No Memphis fomos forçados a sair debaixo da asa do Shawn e tivemos que aprender a fazer tudo por nossa conta. Provavelmente já era tempo. Brian, Shooter e eu conseguimos uma casa de cidade com três quartos, juntos, e pouco depois de nos mudarmos para lá, fomos ao Raw em Nashville e ao Smackdown em Memphis para mostrarmos as caras.

Fomos com o Terry Golden, o promotor e dono da Memphis Championship Wrestling (MCW), que era o nome da promoção de desenvolvimento. O Terry foi mesmo simpático connosco, mas estava ainda muito longe de ir aos shows com o Shawn. O Raw em Nashville foi a primeira vez que conheci o William Regal.

Regal era uma figura intimidadora, particularmente para alguém como eu que só andava a lutar há menos de um ano. É alto, com um queixo forte, e tinha a reputação de ser um shooter, o que significava que sabia legitimamente como te magoar. Ele tinha começado a lutar aos quinze anos, a fazer espectáculos em feiras populares onde às vezes tinha que enfrentar membros da audiência. Regal subiu da forma dura e lutou pelo mundo inteiro antes de chegar aos Estados Unidos para competir na WCW em 1993. O que o torna ainda mais intimidador é a forma suave como fala, por vezes tão suave que tens que te esforçar para o ouvir, e o facto de ter a confiança de um homem que sabe do que é capaz.

Regal estava no sistema de desenvolvimento da WWE para provar que já tinha enxotado a sua dependência de comprimidos, sobre a qual é bastante franco e honesto no seu livro, Walking a Golden Mile. Apenas conheço o Regal desde que ele está sóbrio, logo é difícil para mim imaginá-lo como a ruína que era antes de ficar limpo. Antes de o conhecer, tinha ouvido as histórias - como ele ter mijado num passageiro de um voo ou entrar em "shoot" (isto é, usar manobras e holds legítimos) com o Bill Goldberg num combate em directo na TV, o que não era verdade. Estar na MCW era a oportunidade para Regal provar que podia manter-se sóbrio e, se conseguisse, a WWE trá-lo-ia de volta para a TV. Não só ele se manteve sóbrio, como acabou por ser a pessoa mais influente da minha carreira.

O William Regal que conheci era nada como o homem sobre quem tinha ouvido histórias. Ele era manso de fala e engraçado, e tinha um interesse genuíno em ajudar qualquer um que quisesse ser ajudado. Regal virou-se para o Brian e para mim de imediato quando viu o quão ansiosos estávamos por aprender. Ele introduziu-nos ao estilo Europeu de wrestling, que era fortemente baseado em submissões, contra-ataques e wrestling de tapete avançado - algo que eu nunca tinha visto antes, particularmente assim que se tornava cada vez mais difícil encontrar vídeocassettes de wrestling Europeu que funcionassem num leitor Americano.

Ao início, os múltiplos treinadores que tínhamos em Memphis - incluindo o Jim Neidhart e outros - eram gajos sob contrato com a WWE, a ajudar até serem chamados de volta ao plantel principal ou dispensados. A certo ponto, o Regal trouxe um wrestler Inglês chamado Robbie Brookside, que tinha ajudado a treinar o próprio Regal, com o objectivo de arranjar um papel como treinador para o Robbie, em Memphis. Essa foi a primeira vez que conheci Robbie e, como o Regal, também ele se tornou um wrestler muito influente na minha carreira.

Visto que eu estava a tentar trocar para um estilo menos arriscado, Regal era o professor perfeito para mim. Ele entrava em detalhe a explicar os mais belos pormenores de holds básicos, e porque é que certos contra-ataques fazem sentido e outros não, dada a inteligência visual intuitiva que pessoas têm sobre o corpo humano. Ele abriu todo um novo mundo de wrestlers como o Johnny Saint e o Mark "Rollerball" Rocco, que eram excelentes wrestlers, e a forma como Regal pensava e falava sobre wrestling transformou a forma como eu pensava e falava sobre wrestling. Fazia sentido para mim. Contudo, por muito interessados que o Brian e eu estivessemos em aprender o estilo Europeu, muita da outra malta não estava muito entusiasmada. No estilo rápido, de TV ao vivo, da WWE, alguns viam o wrestling de tapete e contra-ataques como lentos e relativamente aborrecidos. Não estavam interessados nos específicos dos wristlocks contra-atacantes, nem estavam receptivos às ideias mais abrangentes de Regal de que o wrestling devia fazer sentido.

Havia excepções, claro, como este tipo chamado Reckless Youth, que era um dos mais notáveis wrestlers independentes antes de ter assinado com a WWE. Tinha ouvido falar dele através da Pro Wrestling Illustrated, onde ele teria publicidade porque era conhecido por ter combates excelentes por todo o país fora. Como uma esponja, ele absorvia o que Regal ensinava, e visto que tinha anos de experiência nas independentes, ele era óptimo a integrá-lo nos seus combates. Nos primeiros meses que estive em Memphis, acabei a lutar muito com o Reckless, o que foi uma óptima experiência de aprendizagem, porque pude experimentar todas as coisas que o Regal nos estava a ensinar com alguém que tinha uma melhor ideia do que o wrestling devia ser do que eu. Após cada combate, eu perguntava ao Regal o que ele achava, e ele apontava coisas que eu tinha feito bem e coisas que eu podia ter feito melhor. Brian e eu também tínhamos começado a tentar gravar os nossos combates, o que também ajudou.

Infelizmente para nós, Regal foi chamado de volta para a televisão da WWE não muito depois de termos chegado a Memphis. Ele tinha lá estado um ano e não só tinha permanecido sóbrio como estava a actuar a um outro nível. Regal teve um combate com o Chris Benoit no show em memória do Brian Pillman nesse ano, que me deixou pasmado. Foi um exemplo perfeito de como o wrestling de tapete agressivo podia resultar no ambiente moderno do wrestling. Após vê-lo pensei, "Puta merda! Esse é o tipo de wrestling que eu tenho que fazer!" Apesar de apenas termos estado em Memphis juntos por uns meses, Regal tornou-se o meu mentor, e manteve-se o meu mentor desde então. Ele é a pessoa a quem recorro para conselhos até hoje.

(...)

No próximo capítulo: Já sabemos que Daniel Bryan encontrou a luz em William Regal! Mas... Seria tudo o resto em relação à MCW assim tão bom? E por quanto tempo se aguentou lá? Para o saberem terão que continuar a ler o sétimo capítulo, na próxima semana!

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