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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 6


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!



Capítulo 6: Rock-n-Snake Connection
Quarta-Feira, 2 de Abril, 2014 - 20:42

Prédios de apartamentos contemporâneos alinham a Fulton Street, um estreito quarteirão da cidade com um aglomerado de restaurantes e bares da moda, incluindo o Rock-n-Sake Sushi. Lá fora, uma minivan pára e liberta Daniel Bryan e Brie Bella para o destino do jantar da noite. Brie, uma WWE Diva tornada estrela de reality TV, desliza para o exterior e rapidamente vira as cabeças de quem passa. É seguida por Bryan - afectuosamente referido pela Brie como "Sweet Face" - que sai do veículo nos seus TOMS cinzentos e camisa axadrezada, o seu equipamento de fora do ringue habitual.

O casal entra no restaurante, investiga o menu, e avança em direcção à mesa no canto ao fundo. Mais tarde, imerso em música pop consideravelmente alta e fraca luminosidade suportada por candeeiros de medusa de néon por cima, Bryan explica que "não é a nossa cena," mas a comida - peixe e salada frescos - é boa, com as críticas no Yelp a apoiar essa afirmação.

Prato após prato de pequenas porções começam a descender sobre a mesa dos "Braniel" com os dois a aproximar-se mais para conversar e recapitular os seus respectivos dias separados. Largam os pauzinhos e começam a escavar numa variedade de especialidades partilhadas. Tacos de atum, salada de pepino, rolos de sushi, gyoza, chá verde, e um pão com manteiga de amendoim e geleia para a sobremesa (lembrem-se: guloso) são todos lentamente desfrutados pela dupla entre conversa e risadinhas, como qualquer outro casal ao jantar. Pausam apenas para um fã da WWE que os descobre e lhes pede uma foto rápida. (A linda Brie faz de fotógrafa, ironicamente) Para alguns, esta interrupção pode ser um transtorno, mas o "Casal do Povo", "The People's Couple", fica feliz por colaborar.

Após acabar a sua comida, "Daniel-san" navega pelo seu iPhone enquanto a Brie se inclina para dar uma olhadela, com o brilho do aparelho a iluminar aquela que será facilmente a cara mais bela no restaurante. Os dias que se seguem serão velozes e furiosos, como eles sabem. Estão contentes esta noite por estarem juntos.



Não sou de comer carne por natureza. Quando eu era miúdo, o meu pai ia à caça e trazia para casa grandes veados e alces, então tínhamos um congelador cheio de bifes de veado e alce. A minha mãe cozinhava-o sempre para o jantar, mas eu nunca gostei realmente. Acho que era a textura, mas também pode ter sido por ver o meu pai a pendurar a carcassa em casa do amigo. Era desconcertante ver os olhos mortos de tão lindas criaturas. Eu espalhava a carne pelo prato numa tentativa de fazer parecer ter comido mais que o que realmente comi, e depois ir atrás dos feijões verdes e do puré de batata.

Sempre que cabia a mim preparar comida para mim, eu ia sempre para coisas como sandes de manteiga de amendoim e geleia. Eu era um pouco mimado nesse aspecto porque a minha mãe fazia sempre geleia caseira das framboesas do nosso jardim, já para não falar no pão caseiro dela. Assim que comecei a tentar aprender sobre ganhar músculo, eu lia as revistas de fitness, e todas me diziam que eu precisava de uma dieta de altas proteínas, cheia de carne. Frango e atum parecia ser o seu evangelho e era pregado em todas as revistas. Ainda não tinha aprendido a questionar a mídia, então dei o meu melhor para engolir tudo.

Em 2004, quando conheci o Austin Aries, fiquei surpreendido ao saber que era vegetariano. Ele estava em óptima forma sem comer qualquer carne e eu admirava-o bastante por isso. Separadamente, trocara de ler livros predominantemente fictícios para predominantemente não-fictícios durante os seguintes anos, e de repente, tinha uma crescente consciência sobre as condições horríveis em que os animais eram mantidos nos matadouros, assim como a subida substancial de carbono emitido na produção da carne, em oposição às plantas. Descobri que quando mergulhas fundo na ciência e nos problemas mundiais, muitos problemas começam a andar juntos. Em 2007, inspirado pelo Aries e pelos livros que andava a ler, tentei mudar para vegetariano. Infelizmente, não o fiz correctamente e comia coisas que eram fáceis em vez de coisas que eram saudáveis. Comia montes de pão só para me sentir cheio. Fez diferença no meu corpo, tanto na forma como eu me via no meu spandex, como na forma como me sentia. Andava sempre exausto e não tinha energia, e após cerca de quatro meses, achei que o vegeterianismo simplesmente não resultava para o meu corpo. Se eu tivesse falado com o Aries sobre como o fazer devidamente, ou se tivesse lido um livro sobre o assunto, tenho a certeza que teria visto o erro nos meus métodos.

Alguns anos depois, em 2009, com todo o treino duro em grappling e kickboxing que andava a fazer, acabei por apanhar três infecções por estafilococos (staph infection). Não é tão incomum quando se anda em tapetes constantemente. Eles limpavam e purificavam o ginásio todos os dias, mas está sujeito a surgir bactérias no tapete com todas as pessoas a entrar e a sair. Mas depois apanhei uma segunda infecção e depois uma terceira nesse Dezembro, o que me assustou porque tinha finalmente assinado com a WWE e já só estava à espera da chamada deles para começar. Preocupava-me pensar que se precisassem de mim em TV e eu lhes dissesse que não podia fazer nada por causa da minha infecção, que me despediam sem sequer ter tido uma oportunidade dada.

Achava que era estranho que outros tipos no ginásio que treinavam tão duro que eu, ou mais ainda, não pareciam apanhar qualquer infecção. Não havia propriamente uma epidemia. Então após a terceira, tive uma longa conversa com o meu médico em Las Vegas. Discutimos não só as minhas infecções - que ele atribuiu ao meu fraco sistema imunitário - mas também as minhas elevadas enzimas hepáticas e o meu colesterol alto. Ele sugeriu que virasse vegano, sendo a teoria que carnes, queijos, lacticínios e outras comidas levam demasiada energia do corpo para se digerir. Ao eliminar essas coisas, libertaria mais da energia natural do meu corpo para combater as bactérias. Se o fizesse, ele esperava que eu visse uma enorme melhoria no meu bem-estar geral, desde que o fizesse correctamente. Desta vez fi-lo.

O meu médico deu-me uma lista de livros para ler antes de trocar para o estilo de vida vegano. Li "The China Study", "Thrive" e "Becoming Vegan" - e deram-me um melhor entendimento sobre como comer para incrementar a minha saúde e manter a minha força.

Ao início tive bastantes dificuldades com esta nova dieta, mas por quanto mais tempo a fazia, melhor eu me sentia. Requeria uma maneira totalmente nova de comer, especialmente na estrada. Maior parte da comida era trazida por mim, porque frequentemente haveria nada saudável e vegano para comer que tivesse as proteínas que eu requeria. Era frustrante, especialmente após os espectáculos, quando o Sheamus e o Ted DiBiase comiam fast food e tudo o que eu tinha era um bagel seco com manteiga de amêndoa. Por vezes, tudo o que eu queria era algo quente, mas havia muito pouco disponível. Comida diurna também se tornou frustrante para a malta, porque encontrar um lugar que correspondesse às minhas necessidades era difícil. Houve um período em que o William Regal também andava connosco, o que tornou as coisas mais difíceis porque ele precisava de comer sem glúten. Entre ele a evitar glúten e eu a ser vegano, os dois estávamos a levar o Teddy e o Sheamus à loucura.

A minha dieta também tinha implicações sobre como as pessoas me viam. O meu primeiro combate no NXT contra o Chris Jericho correu muito bem e quando o Chris voltou lá para trás, exprimiu ao Vince McMahon o óptimo trabalho que eu tinha feito. Como o Chris conta, o Vince respondeu quase com nojo, grunhindo e depois dizendo, "Ele? Ele nem sequer come carne!"

A reacção da minha família a tornar-me vegano foi igualmente engraçada, especialmente com o meu pai sendo grande caçador e comedor de carne. Ainda assim, apoiaram e deram o seu melhor para preparar-me comida quando eu voltava de visita. Para o meu aniversário, a minha mãe até teve todo o frete de substituir ingredientes no seu bolo de abóbora, a minha sobremesa favorita dela. Ela não sabia muito sobre veganismo, mas tentava aprender apenas para mim.

Apesar das dificuldades e frustração de encontrar comida na estrada, senti-me o meu melhor em anos. Tinha energia, dormia melhor e, no geral, sentia-me bastante bem. Ajudou que enquanto eu estive a viver em Las Vegas havia um lugar vegano chamado Red Velvet Cafe que fazia bolinhos maravilhosos. Preocupava-me que não teria nada divertido para comer nos meus dias de folga, mas acabei por ter nada com que me preocupar, porque aqueles bolinhos eram melhores que os regulares!

A minha dieta era baseada em fruta fresca e vegetais, e eu usava coisas como feijões, quinoa e tofu para as minhas proteínas. Soja era a fonte predominante de proteínas disponível na estrada; Eu estava constantemente à procura de lugares que tivessem hamburguers veggie não processados, e maior parte deles tinha uma grande quantidade de soja neles. Infelizmente, muita soja é geneticamente modificada e pouco depois da Wrestlemania em 2012, comecei a ficar bastante doente outra vez. Não conseguia entender por muito tempo, mas depois fizemos uma análise ao sangue e descobrimos que eu tinha uma severa intolerância à soja.

Quando eu estava em casa e a preparar a minha própria comida, evitar soja era fácil. Andar na estrada, contudo, era outra história. Tentei andar sem soja na estrada por um tempo mas tornei-me cada vez mais frustrado com todas as comidas veganas que já não podia comer, deixando-me sem boas alternativas para proteínas. Eu andava a beber quatro ou cinco batidos de proteínas veganos por dia e tudo isso andava a deixar-me maluco. Com muito pesar, tomei a decisão de começar a acrescentar alguns produtos de animais de volta à minha dieta. Quase me fez sentir derrotado, como se eu tivesse tomado uma posição mas depois tivesse falhado.

No próximo capítulo: Retomámos o percurso "académico" de Daniel Bryan. Já sabemos que o nosso estimado já tinha assinado com a WWE. Então que se segue? Não percam um interessantíssimo sétimo capítulo onde seremos introduzidos a dois factores importantíssimos na carreira de Bryan: A MCW e William Regal!

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