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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 5 - Parte 3


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!



(...)

A viagem ao Japão foi uma óptima experiência de aprendizagem, tanto de uma perspectiva de wrestling como de abertura de olhos para culturas diferentes. O único aspecto negativo foi a meio da digressão quando fiquei inconsciente pela primeira vez. Durante um combate tag team, tentei um Moonsault da segunda corda para o chão, mas o pé escorregou e eu bati de cabeça no chão de betão. Quando voltei a mim, eu estava no ringue e não fazia ideia do que se estava a passar. Eu sabia que precisava de fazer o tag com o Lance, então prendi o meu adversário num Full Nelson e apliquei-lhe um Suplex de cabeça. Porque é que fiz isso e não apenas uma manobra mais básica como um Snapmare ou um Headlock para o deter, não faço ideia. Para piorar, ele estava a ser muito gentil comigo, sabendo que eu estava magoado, no entanto arremessei-o com um Dragon Suplex. E depois fiz o tag para sair. Não acho que tenha entrado durante o resto do combate, o que é bom. Apesar de ter sido a primeira vez que fiquei inconsciente, não seria a última. No que a lesões diz respeito, concussões têm sido a praga número um ao longo da minha carreira.

Em Fevereiro de 2000, uns meses depois da digressão Japonesa, Shawn conseguiu-nos um combate tryout fora do ar (ou "dark") com a WWE, no Smackdown em Austin.

Era eu e o Shooter Schultz, outro dos alunos do Shawn, contra o Lance Cade e o Brian Kendrick. Originalmente foi-nos dito por um produtor da WWE que teríamos doze minutos para lutar, então naturalmente, planeámos um combate de doze minutos. Depois, pouco antes do espectáculo começar, foi-nos dito que apenas tínhamos seis minutos. Nenhum de nós sabia o que fazer porque nunca nos tinha acontecido antes, enquanto que agora me apercebo que é uma ocorrência comum na WWE. Contámos ao Shawn, e foi aí que se tornou bom ter o Shawn Michaels como defensor. Ele esperava que os agentes da WWE dessem uma olhadela mais minuciosa a nós, então ele disparou, gritando sobre "os seus miúdos" e exigindo mais tempo para nós. Conseguimos dez minutos.

Os quatro fomos para lá e atirámos tudo o que podíamos ao combate - para uma reacção morna da plateia de Austin. Fizemos muita coisa que agora sei que não devíamos ter feito. O Lance executou um Chokeslam, uma manobra que várias pessoas no plantel utilizavam, o que tipicamente tornaria essa manobra fora dos limites do que qualquer outro pudesse usar. Também fizemos vários mergulhos para fora do ringue, uma delas dando-me a minha primeira concussão documentada. Não estávamos habituados a ter a rampa ali e o Lance tropeçou quando tentou apanhar-me no meu Springboard Somersault. Aterrei de cabeça na rampa, o que me deixou desorientado. Depois disso, o médico da WWE disse-me que eu tinha uma concussão, tudo bem, mas não muito se sabia sobre concussões na altura, então ele apenas aconselhou os outros a garantir que eu não dormisse a seguir.

Quando voltámos a atravessámos a cortina, Shawn estava lá à espera e estava todo enérgico por nós. "Sim! Foi brutal," dizia ele. Ele começou a dizer a qualquer um que ouvisse que nos deviam contratar. Shawn é um tipo excelente para teres do teu lado. Imediatamente a seguir à nossa prova, ele começou a pressionar a WWE para nos contratar. O nosso tryout foi na Terça-Feira e, na Quinta-Feira, Shawn ainda não tinha ouvido nada, então ele ligou e ameaçou levar-nos para a promoção rival da WWE, a WCW, visto que era amigo do Kevin Nash, que tinha muita influência por lá. Nessa Sexta-Feira, a WWE ofereceu-nos aos quatro - a mim, ao Brian, ao Lance e ao Shooter - contratos de desenvolvimento. Como eu disse, o Shawn é excelente para teres do teu lado.

Os nossos contratos de desenvolvimento eram de 500$ por semana, o que me fazia sentir-me como o gajo mais rico do mundo. Tinha conseguido recentemente um emprego na Great American Cookies dentro do centro comercial próximo, e apesar de eu normalmente avisar sempre com duas semanas de antecedência quando deixava um trabalho, desta vez simplesmente deixei de aparecer. Nem sequer lá fui para buscar o meu cheque pelo tempo que lá trabalhei, algo nada característico meu.

O timing do acordo resultou a meu favor também. Na semana seguinte, eu estava a fazer o meu primeiro combate de escadote, no qual Brian e eu lutámos contra uma equipa chamada Boards of Education pelos TWA Tag Team Championships. Foi a primeira vez que estivemos no evento principal de um show da TWA, então queríamos colocar o baralho todo sobre a mesa. A certo ponto, montei uma escada de doze pés no ringue e saltei do segundo degrau a contar de cima, com um Somersault sobre a corda superior para cima do meu adversário, Ruben Cruz, no chão. O escadote mexeu-se quando eu saltava, o que não me permitiu obter distância suficiente para o atingir. O Ruben quase sprintou para me apanhar, mas não foi suficiente, e eu aterrei com força no chão, separando o meu ombro direito. Continuámos a lutar por mais dez minutos, o que me incluiu a estupidamente executar uma Elbow Drop do topo da escada, que tenho a certeza que não ajudou. Brian e eu perdemos o combate mas brigámos com os Board of Education de seguida, conseguindo ficar por cima e colocando-os aos dois encima de uma mesa, sobre o chão. O Brian e eu saltámos dos topos dos cantos do ringue para os nossos adversários e colidimos pela mesa dentro. Foi a minha primeira vez a atravessar uma mesa, e foi suficientemente mau dado o estado do meu ombro, mas assim que eu atravessava, a minha cabeça bateu na pata da barreira de metal, deixando-me inconsciente por mais de um minuto inteiro. Não fui capaz de lutar durante as seguintes seis semanas, então senti-me com muita sorte por ter garantido aqueles 500$ por semana. Se tivesse acontecido uma semana mais cedo, a minha carreira inteira teria sido muito diferente.

Esse combate mudou a minha perspectiva sobre como eu devia lutar. Devido ao meu tamanho, eu pensava que precisava de lutar um estilo mais daredevil, mas não era prático porque independentemente do quão excitante o estilo pudesse ser, se eu continuasse a magoar-me, teria uma carreira bastante curta. Resolvi trocar para um estilo de wrestling mais de tapete, já que todas as minhas lesões tinham ocorrido durante grandes saltos para o chão. Calculei que se fosse ter alguma longevidade, precisava de ser mais técnico e lutar mais no chão, como o Dean Malenko. Por isso foi uma dádiva de Deus quando a WWE nos chamou e enviou para o seu sistema de desenvolvimento em Memphis, Tennessee, onde conheci William Regal pela primeira vez.

O seguimento ao combate de escadote com os Board of Education foi um combate numa jaula de aço que no fim de contas, reforçou mais a minha necessidade de tomar menos riscos e mais decisões inteligentes dentro do ringue. Para fazer o combate de jaula sentir como a briga final e derradeira entre as nossas equipas, decidimos que todos os quatro no combate de equipas iríamos recorrer ao blade - por outras palavras, cortar-nos de propósito para derramar sangue. Foi a minha primeira vez e admito que foi um panorama aterrorizador.

O Shawn mostrou-nos como fazer a lâmina: pegas numa navalha e cortas-la para ficar com uma ponta bem afiada. Depois afixas-la à tua fita do pulso para poderes aceder a ela durante o combate. Existem dois métodos para realmente derramar sangue: podes colocá-la na testa e rodá-la, ou podes colocá-la na testa e abrir o golpe. A forma inteligente é colocar e torcer; é o método que deixa menos cicatrizes. (Nunca fui muito confiante que esse método desse sangue suficiente, então eu sempre fui de cortar. Tenho algumas cicatrizes na testa actualmente, logo agora apercebo-me que provavelmente devia ter aprendido o método da torção em vez desse.) A parte que mais me arrasou os nervos, contudo, foi que eu não sabia o que fazer com aquela lâmina incrivelmente afiada nos dedos, assim que a tivesse usado. O Shawn disse-me que normalmente a colocava nas calças ou - para meu total choque - às vezes metia-a na boca. Nenhum desses soava a um bom sítio para este objecto cortante afiado.

A preparar-me para o combate, tinha rasgado a minha máscara na parede da jaula para providenciar fácil acesso à minha pele por baixo dela. Quando chegou o momento, preparei-me, depois coloquei a lâmina pela minha testa dentro e rasguei. Não doeu assim muito, mas o que eu notei imediatamente foi um som muito distinto, o som de rasgar. Em vez de a colocar pelas minhas calças dentro - que soava louco - eu rapidamente entreguei a lâmina ao árbitro e instruí-o para a meter no bolso. Infelizmente, eu apenas consegui uma única queda de sangue e nada mais que um arranhão na testa, então eu aprendi outra lição valiosa para o futuro, nessa noite: ter várias navalhas comigo.

Apesar de todos os quatro termos tentado o blade nesse combate, a única pessoa que realmente conseguiu bom sangue foi o Brian Kendrick. O nosso falhanço e pobre plano, francamente, apenas reflectiu a estupidez de ser um rookie e tentar fazer coisas que não eram necessárias. Como com tudo, aprendes com experiências destas.

No próximo capítulo: E já acompanhámos Bryan até ao seu primeiro contacto com a WWE! Na próxima semana, entraremos por um campo mais pessoal e, no sexto capítulo, o nosso adorado e retornado Superstar explica-nos a sua dieta vegana, as razões e os seus hábitos. Curiosos? Marquem presença!

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