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Literatura Wrestling | Yes! My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania - Capítulo 5 - Parte 2


Está de volta a Literatura Wrestling, o espaço de traduções do blog que vos traz uma obra biográfica, na íntegra, reveladora das origens, vida e decorrer da carreira de alguns dos mais marcantes wrestlers que percorreram os ringues que acompanhámos com tanto gosto.

Todas as semanas vos traremos um excerto do livro "Yes!: My Improbable Journey to the Main Event of Wrestlemania", publicado em 2015 por Daniel Bryan e pelo co-autor Craig Tello, a contar o crescimento e peripécias do "Yes! Man" até à sua chegada à WWE e ao main event da Wrestlemania. Boa leitura!


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Fizemos uma conferência de imprensa com o Shawn assim que chegámos ao Japão, e em seguida fomos ao grande espectáculo da FMW para assistir enquanto Shawn arbitrava. Eu tinha visto montes de wrestling Japonês, cuja maioria era muito técnico e atlético, e eu adorava o estilo. A FMW era um pouco diferente, no entanto. Tinha algum wrestling técnico e manobras aéreas fantásticas, mas também tinha muita briga e wrestling hardcore. Isto não era propriamente típico no Japão, mas com tantas companhias de wrestling diferentes, este calhava ser o niche da FMW. A sua maior estrela era uma personagem high-flyer chamado Hayabusa, que lutava com o Mr. Gannosuke no combate que Shawn arbitrava. Enquanto assistíamos à video package promocional, eu não conseguia acreditar. Para construir para o combate, o Mr. Gannosuke tinha explodido um foguete no rabo do Hayabusa! É assim mesmo, ele meteu o tubo do foguete no rabo do Hayabusa, acendeu-o e ele explodiu. Os olhos do Shawn estavam impagáveis quando ele viu aquilo pela primeira vez. O cérebro dele parece ter explodido. Asseguraram ao Lance e a mim que não haveria fogo-de-artifício colocado nos nossos rabos.

Após esse show, Shawn voou de volta para San Antonio enquanto nós ficámos. Fizemos uma semana de treino no dojo da FMW com o Masato Tanaka, um excelente wrestler que já tínhamos visto antes na Extreme Championship Wrestling. Tanaka é um tipo Japonês denso, musculado e notoriamente duro. Porém na minha mente, o que mais me lembro é a imagem dele, à saída do dojo, a saltar para a sua bicicleta motorizada e a dizer "Bye-bye!" numa voz inesperadamente aguda.

Após o nosso treino, começámos uma digressão de dez dias, pela qual fomos pagos 1000$. Dado o quão pobre eu era, parecia uma quantidade incrível de dinheiro. Pensava que nunca mais ia ter que trabalhar.

Houve muita coisa que me confundiu na minha primeira viagem ao Japão. Na nossa primeira noite num quarto de hotel na digressão, o Lance bateu à minha porta e perguntou-me se eu já tinha estado na casa-de-banho. Eu disse-lhe que não, então ele entrou e conduziu-me directo à pequena casa-de-banho. A sanita tinha luzes e botões, um deles que ele premiu, dizendo-me depois para me afastar. Uma pequena haste saiu de baixo do tampo da sanita e borrifou água bem onde estaria o rabo de uma pessoa. Esguichou tão forte que a água saiu pela porta fora. Aprendi que era um bidé mecânico. Antes da viagem, eu nem sabia que bidés existiam.

Muitas das pequenas cidades Japonesas às quais fomos não tinham sanitas do estilo ocidental. Tinham o que nós chamávamos de sanitas Japonesas, que eram essencialmente buracos de porcelana no chão. Ninguém nos disse como as usar, não é que não fôssemos capazes de descobrir. Tinha que tirar as calças completamente e por vezes até a camisola se tivesse que fazer cocó, só para garantir que não ficava com nada em mim.

Anos mais tarde, quando trabalhei para a New Japan Pro Wrestling, o wrestler veterano Scott Norton contou-me uma história horripilante de como uma vez ele já estava vestido para um grande combate mas depois precisou de ir à casa-de-banho. Eles apenas tinham as sanitas do estilo Japonês, então ele baixou a singlet e fez o que tinha a fazer, mas de alguma forma conseguiu ficar com cócó nele. O seu combate era a seguir e ele não tinha tempo para mudar de equipamento, então ele foi tomar um duche com o equipamento posto. Visto que o Scott experienciou isto mesmo depois de tantas vezes no Japão, já não me sinto tão mal.

Uma noite, alguma da malta levou-me a mim e ao Lance a esta espécie de bar onde todas que serviam eram mulheres que andavam de bikini. De repente um DJ grita "It's party time!" em Inglês, com o seu sotaque Japonês. As miúdas retiraram os tops e correram a sentar-se nos colos dos clientes, onde pinchavam para cima e para baixo ao som da música. A música acabaria e elas apenas se levantavam, colocavam de novo os tops, diziam "Bye-byyyye!!" e voltavam a servir bebidas novamente. Lance e eu ainda ambos tínhamos apenas dezoito anos, e foi a coisa mais louca que eu já tinha visto. Os wrestlers Japoneses riram-se do quão desconfortáveis estávamos.

Também tive dificuldades com a comida. Na altura eu não gostava de experimentar muito com o que comia. Gostava do básico como sandes de manteiga de amendoim e geleia, fruta, saladas e, às vezes, quando me sentia aventureiro, noodles. No Japão, o pessoal ocasionalmente levava-nos para sushi e eu batalhava para ter estômago para o peixe cru. Hoje em dia, adoro comida Japonesa - e todo o tipo de comida, na verdade - e a minha mãe, que me via a recusar tudo menos o mais básico, está maravilhada.

Apesar de toda a minha confusão cultural durante a minha primeira viagem ao Japão, diverti-me imenso. Lutámos sete combates em dez dias, e o Lance e eu fazíamos equipa em todos os espectáculos para lutar com dois dos tipos da FMW. Aprendia algo novo todas as noites com os wrestlers Japoneses.

Os dois espectáculos finais da digressão tiveram lugar no Korakuen Hall, um edifício pequeno mas lendário em Tóquio onde alguém que tenha sido alguém já lutou. Lutar lá foi uma experiência fenomenal, e as plateias eram estupendas. Não estavam propriamente excitados por me ver a mim ou ao Lance, dois wrestlers jovens e verdes que eles mal conheciam, mas aplaudiam quando fazíamos algo bom e perdoavam muito quando não éramos tão bons. O último combate foi o meu favorito da digressão. Enfrentámos dois dos wrestlers mais jovens e, pela primeira vez, fiz um Springboard Front Somersault para a plateia - uma manobra que viria a tornar-se uma marca para mim anos depois.

No final da digressão, agradeceram-nos, deram-nos o nosso cachê em dinheiro, e disseram-nos que adoravam receber-nos de novo. Na verdade apenas queriam o Lance de novo porque, apesar de nenhum de nós ser ainda muito bom, o Lance era grande e tinha a gimmick de cowboy que apelava à audiência Japonesa. Quando ele voltou à FMW para uma segunda tour sem mim, eu percebi o acordo. Com o meu tamanho, se eu queria ter sucesso, precisava de ficar muito melhor.

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No próximo capítulo: A coisa está a evoluir. Bryan já volta do Japão... E consegue o seu primeiro contacto com a WWE! Muito antes da sua estadia que lhe deu fama. Entre essa aventura embrionária e outras novas aventuras - como o blading - não existem razões para não lerem a terceira e última parte do quinto capítulo na próxima semana!

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