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Opinião Pacífica #6 - O Regresso


Olá a todos os leitores do Wrestling Notícias, o meu nome é Marco Paz e esta é a sexta edição do Opinião Pacífica. Depois de um hiato de, sensivelmente, um ano, estou de volta para dar continuação a este meu espaço de opinião. Estou de regresso e, desta vez, será para durar, espero eu.

Bem, para começar, acho que devo fazer uma pequena apresentação daquilo que será este espaço e da minha opinião geral em relação ao wrestling, para ficarmos todos bem esclarecidos sobre o que isto vai ser. O Opinião Pacífica vai servir, unicamente para eu expressar a minha mais sincera opinião sobre temas, mais ou menos atuais, mais ou menos controversos, mais ou menos “mainstream”, ou seja, sobre aquilo que eu achar que devo falar nessa semana.

O meu objectivo com este espaço é, indo de encontro à necessidade do Wrestling Notícias em ter alguém que fizesse alguma espécie de cobertura ao wrestling dito “independente” (apesar de o wrestling independente ser algo diferente da concepção que a maior parte tem, mas isso logo falarei), “educar” o público sobre o que realmente anda a acontecer no mundo “underground” do wrestling que, para ser honesto, cada vez mais deixa de ser assim tão “underground”.

Atenção, eu digo educar mas não pensem que vejo aqui armado em sábio e superior, com mais conhecimentos que tudo e todos, que a minha opinião é a mais correta de todas e que eu tenho razão em tudo o que digo. Não. Como disse, aquilo que venho apresentar aqui é a minha opinião e, como em tudo, tenho o direito de ter uma opinião errada sobre algo; é vosso trabalho, enquanto público e leitores, discutir comigo sobre o que discordarem e partilharem, também, a vossa opinião. Quando disse que vinha educar, é porque quero “espalhar conhecimento”, não técnico, mas sim, sobre o que realmente anda a acontecer no mundo extra-WWE.


Todos sabemos que a WWE é a maior empresa do mundo. Todos sabemos que a WWE está, tanto a nível de popularidade, tanto a nível de poder económico, tanto a nível de produção e influência, a centenas de quilómetros de tudo o resto que acontece no Wrestling. Mas, a verdade é que apesar de a WWE hoje está a quilómetros de tudo o resto que acontece no Wrestling, há dez ou quinze anos, estava a anos-luz. Ou seja, a cena dita “independente” do wrestling está cada vez mais a ganhar força, a ganhar popularidade entre os fãs, não só hardcore, apesar de ser o grande apoio destas empresas, mas sim também do público casual.

Cada vez mais, existem mais empresas de wrestling, a atrair cada vez mais público, a produzir cada vez mais shows, com mais regularidade e qualidade. Cada vez mais existem alternativas acessíveis e de qualidade face ao produto formatado à televisão norte americana que a companhia de Vince McMahon nos apresenta. E isto tudo significa uma coisa que acaba por ser o que realmente interessa aos fãs de wrestling: ver grandes nomes de wrestling a chegar a uma variedade de empresas. Se hoje podemos ter algo como Cody Rhodes ou Chris Jericho em ringues da New Japan, é exatamente graças a isto. A crescente popularidade do wrestling, pelo menos, do wrestling fora da WWE, a níveis não vistos desde a tão famosa Atitude Era.


E era exactamente sobre este tema que eu queria debruçar-me hoje: o facto de podermos ver estrelas como Cody e Jericho em companhias “menores” ou até pelo facto de pessoas como os Young Bucks, Will Ospreay e Marty Scurll, poderem optar por não ir para a WWE e como isto afeta o panorama global do wrestling.

Primeiramente, respondendo ao último ponto em que toquei no parágrafo anterior: Sim, tudo isto afecta e muito, o panorama global do wrestling. Cada vez mais o Wrestling está de volta à moda. Cada vez mais se ouve, outra vez, a ouvir-se falar de Wrestling. Cada vez mais, o Wrestling gera dinheiro, tanto para as empresas, como para os wrestlers. Hoje, pessoas como Nick e Matt Jackson, dois bons rapazes cristãos da Califórnia, conseguem fazer mais dinheiro apenas fazendo indys, do que se fossem para a WWE.

Mesmo a nível de companhias independentes, quem há cinco anos atrás que hoje em dia teríamos duas companhias na Inglaterra capazes de fazer shows com públicos a rondar os milhares? A ICW e a PROGRESS Wrestling, apesar de terem um certo apoio por parte da WWE, são dois grandes exemplos de como o wrestling independente está cada vez mais a emergir em todo o mundo. Mesmo nos Estados Unidos temos companhias como a Ring of Honor que atravessa o seu período de maior popularidade (infelizmente, isto coincide com o período de menor qualidade no produto que a companhia apresenta, mas isso pode muito bem ser tema para outra edição).

Também em terras nipónicas, a New Japan Pro Wretling está a atravessar uma das suas fases de maior sucesso, equiparando-se aos tempos da WCW em que esta também estava na ribalta. Aliás, acabou de sair um report há pouquíssimos dias de que a NJPW teve no último ano fiscal deles, que vai de Agosto até Julho do ano a seguir, ou seja, de 1 de Agosto de 2016 até 31 de Julho de 2017, foi o segundo ano mais lucrativo da história da empresa, lucrando cerca de 34 Milhões de Dollars, ficando apenas atrás de 1997.

A expansão internacional que a New Japan está a fazer está, de facto, a ter sucesso e isso é verificável pelos números obtidos, tanto a nível de lucros, como já foi visto, como a nível de audiências nos eventos. A cada ano que passa, os públicos da maior companhia do Japão e a segunda maior companhia do mundo, continuam a aumentar.


Este crescimento da New Japan não é por acaso. Se tivermos que marcar um período de tempo em que a companhia começou a crescer, desde o seu período de estagnação que marcou a década passada da companhia, talvez os anos de 2012-2013 sejam os melhores a apontar como “o início” desta ascensão da NJPW ao lugar número dois do wrestling mundial.

E isto porquê? Por duas razões bastante importantes: o regresso e a ascensão do actual Ace da companhia, Kazuchika Okada, à NJPW, depois da excursão que este realizou na TNA, regresso esse que levou a uma, senão mesmo há melhor feud do século e, certamente, a uma das melhores feuds da memória do wrestling, a feud de Okada contra Hiroshi Tanahashi; por outro lado, tivemos a formação de um grupo que iria mudar por completo a face do wrestling mundial: os Bullet Club. Estes dois acontecimentos, juntamente com a parceria da companhia com a Ring Of Honor, uma das maiores companhias de wrestling dos Estados Unidos da América, foi criando buzz e embalando cada vez mais a companhia para que esta chegasse onde está hoje.

Isto fez com que seja possível, hoje em dia, termos a maior alternativa ao império de Vince McMahon. Mas existe algo que tenho que tirar de cima dos meus ombros, porque acho que realmente existe esta ideia errada sobre o que realmente é a WWE. A WWE não é, de todo, uma empresa de Wrestling. Calma, eu sei, isto pode parecer controverso, mas acompanhem o meu raciocínio. E sim, eu sei que mais cedo eu disse que a WWE é a maior companhia de wrestling do mundo. Mas o que a WWE na verdade é, é uma companhia de entretenimento, entretenimento esse que, POR ACASO, é feito a partir do wrestling. Uma verdadeira companhia de produção de telenovelas e séries à americana, cheias de drama e enredos manhosos.

O principal objectivo é entreter o público e contar histórias, sejam elas a partir das storylines ou a partir do wrestling em ringue. Mas, a segunda variante, nunca é o foco, ao contrário de companhias como a NJPW que o foco principal é, de facto, o wrestling e a competição associado a um desporto competitivo. Esta é, de todo, a maior diferença entre as duas maiores companhias de wrestling no mundo atualmente e isto faz com que existam produtos imensamente diferentes, para gostos diferentes pois, sejamos honestos, nem todos têm que gostar do wrestling que se faz na NJPW, apesar de ele ser excelente.

Mas, mesmo assim, a atenção dada à vertente “wrestling” do entretenimento do produto que a companhia de Vince McMahon apresenta tem vindo a ser trabalhada nos últimos anos. Tem havido, cada vez mais, uma maior atenção quanto ao trabalho desenvolvido pelos lutadores e, tem havido também, uma preocupação de haver mais lutadores com maiores capacidades para proporcionarem grandes combates.

Basta compararmos as qualidades em ringue dos lutadores de hoje em dia com a qualidade em ringue dos lutadores de 2010, por exemplo. Se, por um lado, tínhamos alguns lutadores exímios em ringue como CM Punk, HBK ou Chris Jericho, se compararmos com os dias de hoje em que temos pessoas como Cesaro, Sami Zayn, AJ Styles, Kevin Owens, Samoa Joe, Finn Balor, Shinsuke Nakamura ou Seth Rollins no roster principal da companhia… acho que entendem onde quero chegar. De notar outro factor bastante importante: todos os nomes que acabei de citar são nomes que vieram de fora da WWE, seja das indys americanas ou do Japão.

Ou seja, com isto tudo o que eu quero dizer é: a WWE é sem dúvida a maior companhia de wrestling do mundo, apesar de, não ser uma companhia de wrestling, de todo. Algo estranho, eu sei. Mas, lá por ser a maior do mundo e estar bem acima das restantes, não quer dizer que esta não seja influenciada por aquilo que acontece fora do seu “Universe”. Basta, durante os shows da companhia, olharmos para o público e, em específico, para as suas camisolas e, rapidamente perceberão do que é que eu estou a falar. A companhia, por mais que se quisesse isolar do mundo, como durante muitos anos Vince McMahon quis fazer, simplesmente é impossível e Triple H foi esperto o suficiente para perceber isso e fez uma das coisas mais inteligentes que eu penso ter visto nos últimos anos: utilizar as indys como fonte de alimentação ao plantel da companhia, através de um sistema de filtragem chamado NXT.


O NXT veio, indubitavelmente, mudar a percepção do público em relação ao wrestling independente. Quer seja pelo facto de que, na “terceira brand” da companhia, dar-se muito mais atenção ao wrestling em si; quer seja pelo facto de que imensas estrelas das independentes passam por lá antes de ir pro Main Roster ou até sem sequer passar por lá; quer seja pelo facto de que existe uma abertura muito mais lá para se abordar o tema “companhias independentes”.

Quantas vezes já vimos referências a outras companhias em eventos do NXT? Quer sejam video-packages contendo combates de lutadores em outras companhias como a PROGRESS, ICW ou EVOLVE, por exemplo, quer seja os donos dessas mesmas companhias aparecerem e serem mencionados durante NXT Takeovers, o NXT dá muito mais atenção e, de certa forma, respeito ao que se faz no mundo fora da WWE. Se ainda não estão convencidos disso, acho que basta referir mais um facto: Triple H a aparecer num show da ICW há pouco tempo. Quando é que foi a última vez que viram uma das pessoas que manda na WWE a aparecer num show de outra companhia? Que eu me lembre (e atenção, apesar de tudo, o meu conhecimento de wrestling não é absoluto, de todo, por isso posso estar enganado), nunca.

Mas isto levanta ainda uma outra questão: Até que ponto é que esta aproximação da WWE às indys não tem segundas intenções?

Isto é uma pergunta algo complicada de responder por várias razões. Primeiro porque é impossível sabermos as verdadeiras intenções da companhia quanto a este tema. Segundo, porque conseguimos ver imensos prós e contras a esta aproximação e, pelo menos na minha opinião, é quase impossível pesar os dois lados e ver qual dos dois será mais “pesado”, quer seja a curto, a médio e a longo prazo.

Por um lado, temos as companhias independentes a crescer. Companhias como, já referi, a PROGRESS Wrestling e a ICW ou, até, a EVOLVE Wrestling, têm beneficiado imensamente de ter uma parceria com a WWE. A atenção que estas têm recebido por estarem constantemente a ser referenciadas pela companhia, por terem aparições especiais de lutadores da companhia nos seus shows, tem ajudado imensamente a que estas cresçam de forma exponencial. Uma prova disso? Públicos cada vez maiores aos eventos das companhias, com estas a conseguirem encher arenas de milhares de pessoas; a ICW tem a sua própria “wrestlemania”, chamada de Fear&Loathing, que mete um público de cerca de 7 mil pessoas no SSE Hydro. Outra? A PROGRESS Wrestling vai realizar, o ano passado, um show com um público a rondar as 2400 pessoas. Nada mau, pois não? Bem, pro ano, vão realizar um show na Wembley Arena (não é o estádio, calma), o mesmo sítio onde a WWE realizou NXT Takeover: London e meteu mais de 10 mil pessoas. Agora, digam-me lá, uma companhia independente a realizar um show de wrestling e a ter um público de 10 mil pessoas? Isto é, ou não é, incrível?

Não estou a dizer que isto tudo é “culpa” da WWE; Mark Dallas (dono da ICW), Jim Smallman, Jon Briley e Glen Joseph (donos da PROGRESS Wrestling) são os verdadeiros responsáveis por isto tudo. Bem, eles e, sem dúvida, os fãs. Mas a verdade é que, sem um “empurrãozinho” da WWE, nada disto seria possível, ou pelo menos, demoraria muito mais tempo a ser conseguido. Desde fazer combates de qualificação para o Cruiserweight Classic nas companhias ou a constante publicidade “oferecida” a estas companhias, Triple H tem sido um grande ajudante do “BOOM” que se está a verificar no wrestling independente, sobretudo, no Reino Unido.

Mas por outro lado, existe uma coisa chamada “WWE UK Championship” e existiu, no início do ano, um pequeno torneio chamado de “WWE UK Tournament”. Ora, como já devem ter reparado, estou-me a concentrar mais no UK. Isto porque simplesmente é a minha área de maior interesse e conhecimento e aviso já que, daqui para a frente, do que depender de mim, ouvirão falar muito mais da cena independente do Reino Unido. Como eu estava a dizer, o WWE UK Championship… uma faca de dois gumes. Se, por um lado, é uma excelente forma de dar atenção a wrestlers do UK que, de outra forma, seria difícil de eles obterem algum tempo de antena na WWE, por outro lado, é uma forma de “captar” esses mesmos talentos e “prendê-los” de alguma forma à WWE.


Digam o que disserem, o UK Tournament e o tal show que a WWE iria produzir no UK (quem se lembra disso? Ahm? Certamente a WWE já não) apenas foram concebidos para combater uma coisa: a emergente popularidade do wrestling independente no UK sem que a WWE tivesse qualquer controlo nele. O tal programa era uma resposta clara à ameaça da World of Sports voltar ao activo com um programa de televisão (que até aconteceu, por um episódio na noite de passagem de ano que, diga-se de passagem, teve muito boas audiências). Como a WOS não seguiu em frente com o tal programa, caiu também por terra a ideia da WWE em fazer o tal programa no UK.

Mas o título do UK continua a existir e, verdade seja dita, tem sido imensamente bem aproveitada pelas várias companhias que podem contar com a presença, quer fosse d Tyler Bate, no início, quer seja agora de Pete Dunne. E eu digo “as várias companhias que podem contar com a presença” destes dois, porque, verdade seja dita, elas não são muitas. Aliás, se não estou enganado, as únicas duas companhias que, realmente podem fazer uso da imagem de Pete Dunne, são, exactamente, a PROGRESS Wrestling e a ICW, as duas companhias que têm parceria com a WWE. Sei que ele tem lutado em mais companhias como a Fight Club: PRO, a ATTACK! Pro Wrestling (companhia do próprio Pete Dunne juntamente com Mark Andrews, outro grande nome do wrestling britânico) ou até na Lucha Forever, mas são companhias que não têm shows online, ou então, Pete luta em dark matches, como é o caso da Lucha Forever.

Outro caso problemático nisto foi a WCPW, companhia que estava a ganhar imensa popularidade mas que a WWE decidiu dificultar a vida, “tirando-lhes” a possibilidade de utilizar muitos dos lutadores que eram regulares na companhia como os British Strong Style (Pete Dunne, Tyler Bate e Trent Seven) ou Joseph Conners (que na altura era WCPW Champion).

Todos sabemos que a WWE sempre teve uma atitude destrutiva da sua concorrência directa: vimos isso durante a época dos territórios quando Vince McMahon “roubou” as maiores estrelas dos seus rivais e criou uma empresa recheada de super estrelas como Dusty, Hogan, Rowdy e Steambot (entre outros), quer fosse durante a Attitude Era em que enquanto não tirou a ECW e a WCW de actividade, Vince não descansou, quer seja hoje em dia, com esta ânsia de querer controlar tudo o que se faz no mundo.

A única coisa que realmente me estranha é esta calma da companhia em relação ao que se faz no Japão, mas, mesmo assim, já temos visto os primeiros sinais do que pode ser considerada também essa tentativa de ocupar o mercado nipónico, quer seja através das contratações de estrelas do Japão (AJ Styles, Nakamura, Karl Anderson, DOC Gallows, Finn Balor, Asuka ou Kairi Sane), quer seja através da própria presença da WWE lá através de house shows e especiais como foi o Beast in the East.


Com isto tudo e, em jeito de conclusão porque já me estendi mais do que esperava, o panorama global do wrestling está, de facto, a mudar e, a WWE, a maior companhia do mundo nessa área, não está imune a essas mudanças. Aliás, como temos visto, está de facto, até, a reagir a essas ditas mudanças. Não que se sinta ameaçada, mas, de certa forma, está a proteger-se quanto à eventual ameaça da sua posição como rei incontestável do mundo do wrestling, posição da qual desfruta, no mínimo, desde 2001, altura em que a companhia adquiriu a WCW e a ECW.

Mas, estejam atentos. Estejam de olhos bem abertos porque o mundo de wrestling está a atravessar uma das melhores fases para se ser fã. Existem companhias para todos os gostos, combates de todos os feitios, wrestlers de todos os estilos. Realmente, só não gosta quem não quer e, só reclama da falta de melhor produto, quem não quer. Por isso, não tenham medo de pesquisar, de procurar por um produto diferente do que aquele que vos é apresentado numa primeira instância, não tenham medo de arriscar coisas mais obscuras e, se precisarem de “uma luzes”, estou aqui para isso.

Este primeiro artigo foi algo muito mais geral e, nas próximas semanas, planeio dar-vos a conhecer uma série de companhias que poderão ser do vosso agrado, isto senão aparecer algum tema do qual eu veja interesse em falar. Ouviram falar mais de mim meus amigos e, felizmente, terão que me aturar durante muito mais tempo.

Este foi o regresso do Opinião Pacífica, a primeira, ou sexta, como quiserem, edição de muitas que estarão para vir. E, não percam a próxima Opinião Pacífica, porque nós… TAMBÉM NÃO! PEACE!
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