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Opinião Pacifica #4 - "Say hello to the Bad Guy!"



Cada vez mais, os vilões vêm a ganhar popularidade em todo o mundo, não só no wrestling, mas também no cinema, na TV ou até na "vida real". As pessoas identificam-se cada vez mais com as ações e as palavras de alguém que supostamente, deveria ser visto como alguém que está no lado do "mal". Vilões a serem apoiados e aplaudidos em quanto o herói é apupado é um cenário cada vez mais real e comum hoje em dia. No Wrestling, principalmente, onde cada vez mais o kayfabe é quebrado e a barreira entre a ficção e a realidade é, muitas vezes, impersetivel ou até inexistente e existe cada vez mais liberdade de microfone para os wrestlers dizerem aquilo que pensam, sendo que muitas vezes é difícil separar o wrestler, a personagem, da pessoa em si. 

Numa geração onde o ser humano anda cada vez mais frustrado pela sua vida, pelos seus problemas, a pela pressão da sociedade e pelo cansaço, não só físico, mas, sobretudo psicológico que a rotina diária lhe causa, este tenta encontrar um escape, algo que o distraia dos seus incômodos e, principalmente, alguém que o entenda, que o compreenda, alguém que pense como ele. É aqui que o Vilão entra. É aqui que um bom Vilão faz o seu papel. Um bom Vilão não é "mau" apenas porque sim ou porque lhe apetece. Um bom Vilão tem o controlo da situação e da sua vida, algo que falta a muita gente. Um bom Vilão é carismático e consegue captar um auditório com as suas palavras e gestos, algo que muitos desejavam ter e conseguir fazer. Um bom Vilão tem motivos para agir, tem uma história e tem emoções, tudo elementos que conseguem fazer com que o publico fique muito mais investido nele e que consiga ficar do lado dele. Um bom exemplo disto é a história contada no famoso comic-book, que eventualmente conquistou uma versão áudio e recentemente até, um filme animado, The Killing Joke, que retrata a história de Joker, as suas origens e os seus motivos. Algo simples como dar um passado a um vilão já bastante conhecido, para que as pessoas possam perceber o que o levou a fazer o que faz, faz com que as pessoas se identificam com estes e comecem mesmo a gostar do vilão.



Um bom Vilão sabe manipular as pessoas e, principalmente, usa-las para conquistar o seu derradeiro objetivo. Sempre ouvi dizer, desde que comecei a frequentar a internet para adquirir conhecimentos sobre o mundo do wrestling, que ser-se face é muito mais difícil do que ser-se heel. Pois eu digo, com toda a certeza, que é muito mais difícil ser-se um bom heel do que um bom face. Ambos são papeis extremamente difíceis, mas considero o bom heel mais difícil. Porque? Porque um bom face é aquele que consegue fazer as pessoas gostar dele, ponto. Um bom heel é aquele que leva as pessoas a ter uma de duas reações: ou de o odiar de morte, ou de obter o apoio do publico de forma a virar o publico contra o face. E no segundo caso, então, estamos na presença de um vilão com uma capacidade enorme!

Desde o enorme sucesso do segundo filme da trilogia do Batman de Christopher Nolan, em que temos a presença da brilhante e lendária atuação de Heath Ledger como Joker, que os vilões ganharam uma nova dimensão. Começou a ser-se "fixe" e comum até gostar-se de mauzões e começamos a ter mais heels, não só no Wrestling, mas no entretenimento em geral. Mas no Wrestling, demorou-se um pouco até começar a aparecer heels com uma dimensão suficiente para que pudêssemos ficar por detrás deles e apoia-los. Foi apenas em 2011 que começamos a ver a ascensão de lutadores que cativassem o publico o suficiente para que estes fossem apoiados pelas massas, mesmo que, de uma forma ou outra, as suas ações fossem menos boas ou até mesmo, vilanescas. CM Punk e Kevin Steen foras, na minha opinião, as duas personagens que trouxeram de volta o glamour de se ser um Vilão. Sim, eu sei, Punk não era propriamente um heel no Summer of Punk, mas este começou a história como heel e agia como heel no inicio. Apenas era um heel que lutava contra um heel maior, a autoridade de Vince McMahon. Mas como estava a dizer, Depois começaram a aparecer personagens que saiam daquele estigma de anti-sistema que Steen e Punk tinham, para dinamizar e diversificar mais a coisa, como o "Eater of Worlds" Bray Wyatt, o "Rainmaker" Kazuchika Okada ou o "Panama Playboy" Adam Cole, que trouxeram um certo estilo e uma mistica diferente aos Vilões do wrestling.



Finalmente a credibilidade estava a começar a ser devolvida aos "bad guys" do mundo do wrestling. O estilo, o carisma, a liberdade, a "cockyness", a mistica, a agressividade, mas acima de tudo, a credibilidade das suas personagens, foram o que, para mim, voltarem a fazer com que eu voltasse a ter interesse no wrestling em 2011. Já à alguns anos que tinha deixado de assistir wrestling mas tentava acompanhar muito por alto o que acontecia, mas nada despertava-me interesse, algo que me cativasse a voltar. Durante alguns anos, os Heels do wrestling era heels que caçavam em grupo, sendo que faziam força dos números mas individualmente eram fracos e personagens aborrecidas. Sim, tivemos casos de exceção como EDGE, Chris Jericho ou até um JBL, mas faltava alguma coisa. Algo que personagens como Razor Ramon, Ted Dibiase ou os NWO tinham anteriormente dado à industria. Algo que as novas personagens vinham a ter. As personagens da Ruthless Agression Era e da PG Era eram, a meu ver, personagens demasiado genéricas e cruas, sem grandes adereços ou diferenças que fizessem destingir umas das outras. Com o aparecer de personagens mais "animadas", permitiu também que a criatividade desabrocha-se e começasse-se a fazer mais na área dos heels e também no wrestling em geral.

Qualquer história de qualidade necessita de três elementos: um herói, um vilão e um motivo pelo qual o bem e o mal entram em disputa. Até em histórias de herói vs herói, um dos defensores do bem acaba por fazer o papel de "heel", aquele que vai mais longe para atingir os seus fins, aquele que está disposto a ir mais longe e a fazer mais para vencer. Alguns exemplos disso é a storyline de Ambrose vs Ziggler que está a tomar lugar neste exato momento ou a história que vimos no filme de Batman vs Superman entre os dois protagonistas, em que Batman acaba por ser dos dois protagonistas, aquele que interpreta o papel de mais mau.



Ser-se um bom vilão é uma das duas coisas que não se aprende no wrestling, sendo que a segunda acaba por completar a primeira, sendo esta o Carisma. Podemos aprender todos os truques e todas as técnicas de ringue e tornar-mo-nos nos melhores wrestler do mundo dentro do ringue, podemos aprender a falar ao microfone ou a contar uma história. Podemos aprender a fazer expressões faciais ou a vender um move, ou até mesmo construir um look. Mas o Carisma não se aprender e isso é necessário para se ser um bom Vilão. Até ser-se um bom face se aprende no wrestling, como é o caso de The Rock que foi bastante rejeitado no inicio como face mas depois de um heel turn, passou a ser adorado quando voltou ao papel de face.

Hoje em dia temos o privilégio de termos muitos excelentes vilões. Personagens como Kenny Omega que representam um vilão mais "gangster" e "badass", ou Marty Scurll que é inspirado pelo personagem de Alex DeLarge do filme "Clockwork Orange" de Stanley Kubrick, um autentico clássico do cinema e um dos melhores filmes de sempre na minha opinião, ou até algo mais "gore", agressivo e psicopático como Jimmy Havoc, ou um simples Vilão brutamontes com uma grande boca como Kevin Owens, passando por alguém muito "animesco" e animado mas sombrio como Tetsuya Naito, são apenas alguns exemplos da estupidamente incrível qualidade que existe no wrestling hoje em dia em termos de vilões. Todos estes são wrestlers que conseguem por arenas inteiras a insulta-los e a mostrar-lhes o dedo do meio (deveriam dar uma olhadela no reinado de Jimmy Havoc enquanto PROGRESS Champion, uma das melhores histórias e demonstrações de como se ser um heel que vi na minha vida).



O papel de um vilão é um pouco ingrato. O heel existe, na sua essência, para em algum ponto da história ser derrotado por o herói. O heel existe para sair por baixo e meter o face over. Ser-se heel é saber-se que nunca serás a cara da companhia, que nunca serás a atração principal ou a pessoa em que realmente o foco de luz está apontado. O foco de luz até pode estar em ti por alguns momentos, mas isso é só para construir o ódio que vai ser usado para o face over mais tarde. Mas, e quando a qualidade do vilão é tal que este começa a ser mais popular que o herói? E quando as coisas descontrolam-se e o publico, inesperadamente, fica do lado do heel e apupa o face? E quando situações como a de Tetsuya Naito, que foi fortemente apoiado pelo publico no Invasion Attack deste ano, sendo que ele era o Heel da história, e o publico acaba mesmo por apupar Kazuchika Okada, a cara da companhia e o principal face do Japão? São situações que nos deixam a pensar e que fazem com que o papel do Vilão comece a mudar no mundo do wrestling. Será que iremos começar a ver cada vez mais destaque aos "Bad Guys"? Será que alguma vez poderemos ver realmente um heel como cara de uma companhia?

O meu nome é Marco Paz e este foi o Opinião pacifica desta semana. PEACE!



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