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A Alternativa Fenomenal #28: O Ouro Perdido da TNA







Saudações a todos, e bem vindo a mais uma Alternativa Fenomenal. Na última edição desta coluna, apresentei aos leitores alguns nomes do cenário independente que tentaram a sorte nas grandes empresas mainstream (especificamente a WWE) mas que não obtiveram grande sucesso. Hoje mostrarei um caso semelhante, não envolvendo exclusivamente lutadores indy, mas mostrando três exemplos de lutadores renomados que não conseguiram obter sucesso em suas passagens pela TNA. Sem mais delongas, passemos ao texto;


Desde a sua criação, a TNA tem o costume de procurar estrelas da cena independente para integrar o seu roster. Dentre muitos de seus "Originals", vários nomes são conhecidos por terem sido criados na cena indy, como AJ Styles, Samoa Joe e Christopher Daniels. Além disso, também é comum que lutadores de outras companhias também figurem na TNA tanto por contratações após serem dispensados de suas antigas casas (como acontece com vários ex-WWE), bem como através de parcerias que lhes permitem o uso de lutadores prestigiados em suas fileiras (caso dos três citados anteriormente, trazidos por uma parceria com a RoH, bem como outros vindos de parcerias com a AAA, New Japan, entre outras).




No que diz respeito aos lutadores estrangeiros, o interesse não é unicamente financeiro; alguns vem com o desejo de adquirir conhecimento ao aprender o estilo americano de wrestling, de expandir sua reputação ao redor do mundo, ou meramente ganhar experiência ao combater em uma empresa de maior nome. Entretanto, da mesma forma como com lutadores independentes, não é incomum que estes estrangeiros não consigam alcançar sucesso, e sejam bastante mal aproveitados em sua estadia na América.

Nesta edição, dos três casos que apresentarei, teremos um lutador criado pelo cenário independente americano e dois lutadores estrangeiros, todos com fama mundial, mas que tiveram participações muito poucos expressivas na companhia de Dixie Carter, tanto por falhas de booking, como por falta de sorte propriamente dita, ilustrando bem a incômoda situação que pode ocorrer com alguns lutadores que chegam na TNA.





O primeiro caso será o do senhor Phil Brooks. Sim, podem acreditar, CM Punk já foi lutador ativo pela TNA. Punk juntou-se a companhia de Nashville em novembro de 2003, devido à uma parceria da Ring of Honor com a então NWA Total Nonstop Action, onde ele se juntou a Julio Dinero, Alexis Laree (futura Mickie James) e Raven, na stable The Gathering, onde este agia como um grandes fã do ex-lutador da ECW.

A vida desta stable porém, foi bastante curta (ela havia sido criada em setembro), pois Alexis sairia da TNA poucos dias depois para se juntar a WWE, e Julio e Punk realizariam um heel turn, em dezembro, atacando Raven numa six-man steel cage match contra Abyss e a Red Shirt Security (Joe E. Legend e Kevin NorthCutt). Após o combate, Raven ficaria fora da companhia por algum tempo, enquanto seus ex-protegidos seguiram em frente como The Gathering mas sob o comando de Father James Mitchell.





Punk e Dinero seguiriam juntos até março de 2004, tendo como uma única rivalidade relevante, contra o próprio Raven, onde majoritariamente interferiam em combates do mesmo contra os Disciples of the New Church, stable liderada por Mitchell que estava em feud com o ex-ECW, tendo combatido contra ele em duas ocasiões, vencendo uma e perdendo outra.


                                                         Imagem promocional da The Gathering


A saída de Punk da TNA deu-se por dois motivos. O primeiro foi, segundo o próprio lutador, porque os oficiais da promotora não estavam agradados com o trabalho dele e de Dinero como heels, afirmando que eles não estavam conseguindo uma conexão com os fãs. Devido a isso, a storyline que os envolvia foi suspensa indefinidamente e ambos ficaram sem ter o que fazer na companhia. 

O segundo motivo, foi o escândalo envolvendo o fundador da RoH, Rob Feinstein, pego em uma operação policial que investigava pedófilos, e que fez a TNA encerrar sua parceria com a "Rainha das Indys", emitindo uma ordem que impedia a participação de seus lutadores em qualquer evento da RoH. Punk entrou em uma disputa com os oficiais da então empresa de Jeff Jarrett, para continuar atuando em ambas as promotoras, mas após ver que não iria conseguir convencê-los, optou por retornar e permanecer na companhia de Maryland.


                                                         O fundador da Ring of Honor, Rob Feinstein


A questão aqui pode ser vista por dois ângulos. Primeiramente, foi notável a falta de interesse dos oficiais da TNA em sequer trabalhar com Punk, uma vez que optaram por não dar-lhe nenhuma storyline após dizerem que ele "não havia se conectado com o público". Neste caso, bastava dar-lhe um face turn, e inseri-lo numa boa rivalidade, que permitisse que ele mostrasse suas mic-skills e sua habilidade em ringue. Entretanto, basicamente o consideraram como um objeto sem utilidade, e praticamente o excluíram da empresa, o que já seria motivo suficiente para o mesmo não desejar continuar trabalhando lá.

Depois temos aquilo que pode ser considerado como uma certa falta de sorte do "Straight Edge Superstar", com a controvérsia envolvendo o fundador da RoH. Punk explicitamente tinha o desejo de combater em ambas as empresas, mas novamente os oficiais se mostraram irredutíveis em suas decisões, e como Punk estava se tornando uma das principais estrelas da empresa independente, tomou a decisão de sair da TNA.

Pode-se dizer, que os oficiais claramente subestimaram as capacidades de CM Punk em sua estada na companhia de Nashville. Não acreditaram que o mesmo poderia estabelecer uma conexão com os fãs, muito menos lhe deram o direito de combater nos shows. Neste ponto, não há muito como defender a TNA, pois com estas decisões equivocadas, perderam um lutador que facilmente poderia se tornar uma de suas pedras fundamentais.





Em seguida. passamos ao caso de Gilbert Cosme, conhecido pelas alcunhas de El Mesías e Mil Muertes. Sua passagem na TNA foi abordada inicialmente no artigo específico sobre sua carreira (podem ver ele aqui), e lá vimos que ele realizou sua estréia na companhia em setembro de 2007, no No Surrender, como Judas Mesias, um vampiro que, em storyline, seria filho de Father James Mitchell e irmão de Abyss. No evento, ele abduziu o "Monster" através de um buraco no ringue, feito que repetiu em sua estréia no Impact, onde novamente atacou o gigante.

Durante sua passagem na TNA, Abyss foi o único com quem manteve rivalidade, enfrentando-o após muitos ataques em duas ocasiões, no Final Resolution, em janeiro de 2008, onde obteve a vitória, e em seguida no Against All Odds, em fevereiro, onde sofreu a derrota que encerraria sua feud. Poucas semanas depois, em março, ele seria liberado de seu contrato com a empresa.





Cosme voltaria a aparecer na TNA em apenas duas outras ocasiões, ambas em 2013. Primeiro, ele fez uma participação no One Night Only: Hardcore Justice 2, em uma derrota para Joseph Park, e depois no One Night Only: World Cup of Wrestling, como membro do time International, perdendo um combate para James Storm.

O que podemos tirar daqui, é que novamente a TNA falhou em não saber o que fazer com o lutador. Após o fim da rivalidade com Abyss, Mesias poderia ter seguido em outras feuds, podendo inclusive ter sofrido alguma mudança em sua gimmick (talvez retirando o personagem vampiresco, e deixando-o apenas como um lutador psicótico e violento, nos moldes da atual personagem Bram), já que o mesmo provou-se bem sucedido ao atuar como monster heel em outras companhias.


                                                           Mesias, junto a Father James Mitchell


Não só com sua aparência, mas Mesias também possui a capacidade de aprender facilmente os estilos de wrestling comuns aos demais países, como pode ser visto em sua passagem na Lucha Underground, onde adaptou com sucesso o estilo americano à sua expertise em lucha libre. O lutador também possui carisma o suficiente para conseguir manter uma conexão com os fãs, mesmo sem a necessidade de realizar grandes promos, fato que também poderia ser remediado ao aliá-lo com outro manager.

Na visão de muitos, foi uma oportunidade perdida de manter no roster alguém que poderia ser um midcarder de grande futuro, e (com algum empenho dos writers) um possível campeão mundial, visto que ele possui todas as capacidades necessárias para tal, como já provou ao redor do mundo.





Por fim, falarei do caso do atual "Rainmaker", Okada Kazuchika. Okada estreou em fevereiro de 2010 na TNA, devido a um acordo da New Japan com a empresa de Nashville onde o lutador ficaria uma temporada de pelo menos dois anos nos EUA para desenvolvimento de seus talentos.

Em seus primeiros dois meses na empresa, ele competiu apenas em dark matches, enfrentado nomes como Alex Shelley, Jay Lethal e Christopher Daniels, sendo derrotado em todos os combates. Sua estréia em televisão ocorreu em abril, no Xplosion, em uma tag team match junto a Homicide, onde perderam para a Generation ME (The Young Bucks na RoH).




Durante o período de abril a junho, ele combateu apenas no Xplosion, somando derrotas para a Ink, Inc (Shannon Moore e Jesse Neal), em nova parceria com Homicide, e para Douglas Williams. Suas aparições eram bastante escassas ainda, e sua estréia no Impact ocorreria apenas em julho, durante a storyline de invasão das lendas da ECW, onde tentou junto a vários outros lutadores da TNA impedir que os ex-ECW tomassem o show.

Sua primeira vitória na TNA ocorreu em uma dark match contra Kid Kash, em agosto, e desde então ele continuou aparecendo apenas no Xplosion e somando derrota atrás de derrota, tanto em lutas de singulares como em tag matches.

Sua segunda participação no Impact, em janeiro de 2011, ele passa a atuar como face, participando da rivalidade entre Samoa Joe e "The Pope" D'Angelo Dinero, agora sob o nome de Okato (inspirado no personagem da série The Green Hornet). Com seu novo nome ele realiza sua estréia em pay-per-view no Against All Odds, em fevereiro, impedindo que Dinero fugisse de seu combate contra Joe, sendo que o "Pope" ataca ambos após ser derrotado.


                                                       Okada vestindo o traje e a máscara de Okato


Sua estréia em combates no Impact aconteceu em março, numa vitória por desqualificação sobre Dinero, num combate que encerrou sua participação na feud entre este e Samoa Joe. Após isto, ele voltou a competir sob seu verdadeiro nome, até seu último combate em junho, numa derrota para Alex Shelley, no Xplosion. Em outubro, ele é oficialmente liberado pela TNA, tendo esta sido uma das razões para o fim da parceria entre a companhia e a NJPW.




Também não há como defender muito a TNA neste caso. Apesar de Kazuchika ter estado num tour de desenvolvimento, ele já possuía 6 anos de experiência profissional (tenso sido treinado por nada mais, nada menos que Último Dragón e Nagata Yuji), e já havia combatido contra vários main eventers de peso da NJPW, como Nakamura Shinsuke e Goto Hirooki.

A decisão dos oficiais de torná-lo um mero jobber com aparições escassas no B-show da companhia, foi algo extremamente equivocado. Mesmo sua única participação em uma rivalidade em TV, foi como um simples coadjuvante que competiu apenas uma vez em ringue. Não é difícil pensar nas possibilidades que poderiam ter sido criadas caso Okada fosse bem utilizado, com o mesmo claramente podendo ter sido um grande expoente da X-Division, ou um midcarder de sucesso.

Na visão de muitos (e eu até compartilho um pouco desse ponto de vista), o mal aproveitamento de Okada foi fruto do famoso preconceito que as companhias americanas possuem com lutadores vindos do Japão (e algumas vezes com lutadores latinos também). Em vários casos, os wrestlers nipônicos são relegados a gimmicks esdrúxulas, participações em rivalidades de pouco destaque, e poucas aparições em TV. Desta forma, mesmo um jovem talentoso como Okada não teria praticamente nenhuma oportunidade, e, como foi visto, a decisão da companhia em liberá-lo após usá-lo de forma tão medíocre, resultou no fim de uma parceria que estava sendo bastante vantajosa para a TNA.


Claramente os leitores puderam notar pelos casos apresentados, que a TNA possui em seu passado erros tão grandes no que diz respeito ao mau uso de talentos promissores quanto os da WWE. Entretanto, não devemos também ignorar a excelência que a empresa apresentou na criação e desenvolvimento de vários novos lutadores (como EC3, Drew Galloway, Eli Drake, etc), bem como na renovação de antigos rostos (como Eric Young e Matt Hardy, com suas facetas heels, e os Decay, que praticamente salvaram a carreira de Crazzy Steve e deram um novo fôlego para a de Abyss.

Erros como esse não são exclusivos de uma ou outra companhia mas, através deles, é esperado que as mesmas aprendam como melhor gerir seus talentos para que casos como os citados não se repitam, e lutadores que no futuro poderiam ser seus grandes astros se percam devido à falta de oportunidades.

Da mesma forma que no artigo anterior, deixo para que os leitores digam nos comentários quem mais eles acreditam que foi mal aproveitado pela TNA, seja a pessoa um indy wrestler ou um lutador vindo de outra companhia (estrangeira ou mesmo da WWE). Boa leitura a todos, e até a próxima.



PS: Este artigo vem a pedido do leitor GiøøØ! Pʀᴏ-Wʀᴇsᴛʟɴɢ Exᴛᴛʀᴇᴍᴇ (nome curioso, o seu).
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