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Brock Lesnar: Death Clutch - Parte I (Cap. 4) | Literatura Wrestling


Com o objetivo de divulgar histórias contadas pelos próprios lutadores em livros adaptados e traduzidos pelos colaboradores deste blog, a Literatura Wrestling trás, nestes próximos meses, toda a vida de uma das estrelas mais conhecidas no mundo do wrestling atualmente num só livro.

Semanalmente será publicado uma parte do livro "Brock Lesnar: Death Clutch", escrito e publicado em 2011 pelo próprio Brock e por seu amigo de longa data, Paul Heyman, começando pelo prefácio e acabando nos agradecimentos (parte final do livro). Esperemos que gostem das histórias!


Parte I: Criado para ser um campeão
Um desvio no meu caminho para o NCAA Heavyweight Championship

Os treinadores da UM (Universidade de Minnesota), Marty e J, queriam que eu me mudasse para Minneapolis assim que terminasse o colégio júnior para que começasse a trabalhar com os pesos pesados deles, como Billy Pierce e Shelton Benjamin. Mas, como sempre, não tinha dinheiro e não poderia pagar por um lugar em Minneapolis.

Foi aí que surgiu Alan Rice. Ele era um ex-atleta olímpico e um grande entusiasta dos Gophers de Minneapolis. Ele era proprietário de uma fraternidade no campus. Alan disse-me que havia um quarto vago no sótão e que me alugariam por pouca coisa, cerca de 100 dólares por mês. Isso pareceu-me um ótimo negócio.

Deixem-me vos contar uma coisa, se Rice me tivesse cobrado 20 centavos por mês por aquela espelunca, ainda seria muito caro. Era absolutamente horrendo. Quando ele disse que era no sótão, não era brincadeira. Isto não era apenas um quarto em cima de uma casa de fraternidade, era de fato um sótão fedorento. Havia pombos lá. Era empoeirado. Era apertado. Era frio. Eu estava a viver num miserável sótão em Minnesota!

Para pagar o aluguel daquela porcaria de lugar, e para ter algum dinheiro para comer, eu comecei a trabalhar numa demolição para uma companhia de construção. Era o emprego perfeito para mim. Acordava todos os dias às 7 da manhã, e até o meio da tarde eu demolia coisas com uma marreta. E quando eu acabava de usar aquela marreta de 7 quilos, eu ainda tinha tempo para os meus exercícios da tarde no ginásio.

Sim, eu estava a pagar minhas dívidas, mas eu sabia que isso tudo valeria a pena.Estava determinado a vencer o título da Divisão 1 da NCAA, e eu faria tudo o que pudesse para conseguir chegar lá. A Universidade de Minnesota era um programa em ascensão e eu iria ser a estrela deles. Mas então a situação tomou um rumo inesperado.

Assim que estava a acostumar-me com a minha rotina, J Robinson ligou-me e disse que havia um problema. Eles queriam que eu estivesse integrado na universidade até ao Outono, mas o histórico da minha faculdade júnior estava vinte e quatro créditos abaixo do limite mínimo para a transferência ser aceite. Vocês estão a brincar comigo? Eu estava furioso. Tudo o que eu conseguia pensar foi, “Vocês tinham todo o meu histórico e sabiam quais aulas estava a ter. Eu tenho 19 anos. Vocês são os treinadores de wrestling. Isso era algo que vocês deveriam ter apercebido logo de seguida.” Mas ali estávamos nós, sentados no escritório de J, e ele estava-mea dizer que faltavam 24 créditos.

Vocês conseguem acreditar nisto?

Depois de tudo o que tinha passado, não iria desistir dos meus sonhos. Eu não iria deixar que o sistema me vencesse. Eu iria tomar conta do meu próprio destino. Infelizmente, as sessões de verão já tinham começado na maioria das faculdades.

J queria que eu fosse para algum sítio que tivesse uma equipa de wrestlingcom quem poderia praticar, e ele tinha uma conexão com a Faculdade Comunitária de Lasson, em Susanville, Califórnia, onde a equipa era muito boa. O plano original era eu passar o verão e o outono em Lasson e depois então transferirem-me para a Universidade. Eu pensava que era uma grande mudança de ares mudar de uma quinta em Dakota do Sul para a grande cidade de Minneapolis, mesmo que ficasse a poucos quilómetros de distância. Mas Califórnia? J também disse que eu teria de mudar para o Japão. Pelo que eu sabia, estavam a um mundo de distância.

Eu imediatamente voltei ao meu sótão na casa de fraternidade, peguei em todas as minhas coisas e voltei para a minha casa em Webster. Durante o caminho, pensava em como havia de dizer aos meus pais que eu não era um Golden Gopher na Universidade de Minnesota, e que iria mudar para a Califórnia dentro de 2 dias.

Eu nunca conseguia pensar na melhor maneira de dar a notícia, por isso simplesmente disse tudo de uma vez aos meus pais, “Eu não estou apto para a universidade e preciso de conseguir créditos numa faculdade na Califórnia.” Eles olharam para mim como se eu estivesse maluco, mas a minha mente já tinha decidido. Se for isto o que precisava de fazer para entrar na equipade wrestling da UM, então é isso o que irei fazer. Não havia discussão.

Eu deixei a casa com o meu Mazda RX-7 de 10 anos para a Faculdade Comunitária de Lasson em Susanville, Califórnia, como o meu destino. Eu lembro-me de pensar que esta poderia ser uma viagem realmente divertida.

Eu não sabia de nada sobre o lugar para onde estava a ir. Não sabia onde iria ficar. Não sabia onde é que iria comer ou treinar. Tudo o que eu sabia era que a viagem para Susanville era longa, e quando eu cheguei lá, foi bem a tempo do início das aulas.

Eu lembro-me de conduzir até chegar a Salt lake City, Utah, por volta das 5 da manhã num Domingo. Eu parei numa paragem de camiões e fiz uma pequena sesta, mas sabia que se eu não movesse o meu rabo de volta para a estrada, não iria conseguir aqueles créditos. E sem créditos, não iria conseguir ingressar no programa de wrestling da UM. Como pode J Robinson não ter visto que me faltavam 24 créditos?

Finalmente tinha chegado à Faculdade Comunitária de Lasson, às 5:30 da manhã na Segunda – o dia que as aulas começaram. Imediatamente, tentei ligar para o treinador de wrestling. Obviamente, ninguém atendeu – apenas garotos da quinta estariam em pé às 5:30 da manhã. Então deixei uma mensagem e fiquei sentado ao lado do telefone público esperando que ele tocasse.

Eu não sei se estava a dormir ou meio a dormir, mas às 7 da manhã o telefone tocou e era o treinador. Ele disse que iria encontrar-se comigo na faculdade dentro de meia hora. Eu estava completamente exausto da minha viagem corta-mato, mas eu precisava daqueles malditos créditos.

Quando me encontrei com o treinador, ele perguntou-me se eu tinha familiares de qualquer forma em algum lado do estado da Califórnia. Caso sim, eu poderia matricular-me como residente. Acontece que eu tinha 2 tias que viviam na Califórnia. Então usei uma das suas moradas, e 16 créditos iriam apenas custar-me $160. Isso ainda era muito dinheiro para mim, porque quando eu chegueia Califórnia, eu tinha exatamente $480 nos meus bolsos e nada no banco.

Eu gastei $160 na matrícula, o que me deixou com $320. Eu sabia que teria de comer, portanto deixei $200 depositados no programa de alimentação da faculdade. Isso garantia-me o pequeno-almoço, almoço e jantar no refeitório todos os dias, o que me deixou com $120 para gastar. Mas a faculdade na Califórnia não era algo que me agradava. Eu estava naquele lugar como uma grande ferida infectada num dedo.

Eu tinha as minhas aulas e comida bem tratada, mas toda aquela aventura não faria sentido algum se eu não fosse aprovado nas aulas, e isso era muito difícil de fazer sem nenhum livro. Mas se eu tivesse pagado por todos os livros que precisava, eu não teria dinheiro suficiente para outra coisa qualquer. Portanto eu dividia livros com os outros lutadores. Parece fácil de dizer, mas eu realmente odiava dividir livros com eles o tempo todo.

Ainda assim, Susanville, Califórnia, sempre será um lugar especial para mim. Eu quase iniciei a minha carreira de lutador lá.

Eu encontrei um pequeno ginásio que tinha equipamentos de levantamento de peso e um dojo de artes marciais mistas. Esse foi o meu primeiro treino de MMA. Numa noite, os rapazes da ginásio iriam para Reno, Nevada, para um combate. Eu liguei para J Robinson para avisá-lo de que estava a planear lutar em Reno para ganhar algum dinheiro. Ele disse-me logo que poderia estar a colocar as minhas hipóteses de me tornar um atleta da Divisão I em jogo, se eu fizesse isso. Isso era tudo o que eu precisava de ouvir e acabei por não ir. Se eu tivesse tomado o gosto pelo MMA naquela vez, quem sabe? Talvez eu não tivesse de voltar mais para a faculdade.

Um dia, eu gostaria de levar a minha esposa e os meus filhos até Susanville, só por ir. Talvez eu refaça todo o caminho. Mostrar aos meus filhos por onde passei, o que eu tive que fazer para chegar até a Universidade de Minnessota.

Eu não estou a reclamar. Eu estou contente por ter pago as minhas dívidas e por ter encontrado o meu caminho.

Após o meu verão na Califórnia, eu precisava de apenas 8 créditos para entrar na UM. Eu liguei para a conselheira da UM e perguntei se ela poderia ajudar-me a assegurar que todos os meus créditos foram transferidos da Califórnia de volta para a Faculdade Estadual de Bismarck. Então conduzi de Lasson até Bismarck e iniciei o semestre de outono na minha antiga faculdade. Mas a BSC (Bismarck State College) não tinha mais um programa de wrestling, e eu sabia que tinha que fazer alguma coisa para manter-me numa boa condição física.

Já que não tinha ninguém para lutar comigo na BSC, eu conduzi até a Universidade de Mary, uma NAIA (National Association of Intercollegiate Athletics, ou Associação Nacional de Atletismo Intercolegial) fora de Bismarck, e eu treinei com a equipa deles todos os dias.

Tendo um desempenho acima do esperado, eu consegui 12 créditos naquele outono, embora eu precisasse apenas de 8. Eu não queria correr nenhum risco desta vez.

Na BSC, eu estava a viver com o meu velho amigo Mike Eckert, que era o meu vizinho do dormitório no ano anterior. Mike era muito fixe. A mesma velha história: Eu não tinha muito dinheiro, então Mike dividia o quarto comigo. Era um cubículo onde podíamos relaxar um pouco, mas foi importante para mim porque não tinha mais para onde ir. Eu estou grato por ter esta oportunidade de dizer a todos o que Mike fez por mim naquele outono.

Eu rapidamente encaixei-me na rotina da BSC. Levantamento de pesos pela manhã. Aulas sem parar. Treino de wrestling com a equipa da Universidade Mary. Trabalhos de casa. Mas, todos os dias, tudo o que eu podia pensar era que estava um dia mais perto da equipa de wrestling Golden Gopher da UM. Eu queria aquele uniforme de equipa da UM e tudo o que vinha junto com ele.

Eu terminei o semestre na BSC e fui aprovado em todas as disciplinas. Depois fui-me embora 2 semanas antes para poder chegar à Minneapolis antes do feriado de Natal, porque eu queria estar pronto para o próximo semestre na UM. Também queria conhecer os meus colegas, porque iria ser acrescentado à equipa imediatamente.



Quando cheguei a Minneapolis, eu movi-me juntamente com Tim Hartung e Chad Kraft, e esses rapazes realmente sacrificaram-se por mim. A UM precisava de um novo e grande peso-pesado, portanto muitas pessoas vieram-me ajudar. A época foi boa e eu estava a ser guiado na direção correta. Eu estava finalmente a viver o meu sonho. Eu iria participar no meu primeiro torneio como Gopher, e perdi para Trent Hynek nas semi-finais do Omaha Open. Bem-vindo à Divisão I da NCAA.

Eu perdi. E isso deixou-me muito frustrado. Lá estava eu, aquele que disse para todos que iria ser o campeão de pesos-pesados da Divisão I da NCAA. Eu era o foco da equipa. A figura de destaque. Eu era para ser a estrela dos pesos-pesados. E lá estava eu, no meu primeiro torneio, e perdi. Era muito vergonhoso para mim.

Eu apenas perdi 2 vezes naquele ano, naquele primeiro torneio e no meu último. Nas finais da NCAA, eu perdi para Stephen Neal 3–2. Hoje, Neal é o“right guard”(jogador que faz a proteção do Quarterback) de Tom Brady no New England Patriots, e ele usa 2 anéis do Super Bowl. Naquela época, ele era o atual campeão dos pesos-pesados do wrestling da NCAA.

Eu perdi a luta porque Neal foi melhor do que eu naquele dia. Isso foi uma lição para mim. Nunca respeites demais um adversário. Eu acredito que neste dia, se eu tivesse ido com tudo para cima de Neal,eu teria vencido as finais da NCAA de 1999. Mas eu aprendi com o meu erro.

Eu tinha muito respeito por Neal. Ele era o campeão nacional da NCAA. Isso mudou o modo como eu comportei-me durante o combate. Isso tirou-me da minha estratégia. Eu pensei que era melhor do que aquilo que realmente era. Eu pensei muito sobre aquela derrota por 3–2, e finalmente dei conta de que nunca iria conquistar os prémios grandes se eu mostrasse aquele tipo de respeito para os meus adversários novamente. Nunca mais. Se alguém quiser o meu respeito, é melhor ele derrotar-me. Essa é a única forma de consegui-lo.

A derrota para Neal fez-me relembrar dos torneios que disputei aos 5 anos de idade, e como a minha mãe ficou desiludida quando perdia um combate. Eu odiava desiludi-la e odiava o sentimento que vem com a derrota. Eu fiquei envergonhado quando perdi a minha primeira grande luta no torneio de colégio para Trent Hynek, mas isto foi pior. Eu passei por toda esta porcaria na Califórnia – de volta para a BSC, peguei livros emprestados, consegui parceiros de wrestling na Universidade de Mary – só para entrar na equipa da Universidade de Minnesota... e então perdi o meu grande combate.

Eu ouço as pessoas dizerem “É uma honra chegar às finais, e que deverias sentir-te privilegiado de poder participar num torneio desse nível.” Isso é uma grande treta. Eu sou um competidor, e eu aprendi com John Schiley,quando tinha 5 anos de idade, que tu competes para vencer. Ou sou o número 1 ou então sou um derrotado. E perder é uma porcaria.

Eu odiei perder para Neal. Se vocês acham que estava a consumir-me por ter perdido para Frank Mir durante a minha carreira profissional, vocês deveriam ter-me visto quando perdi as finais da Divisão I da NCAA em 1999. Eu tinha apenas mais um ano para tornar os meus sonhos numa realidade, e naquele momento eu decidi que iria com tudo. Não havia um atleta universitário que seria capaz de me parar.

Traduzido por: Kleber (nWo4Life)
Adaptado por: FaBiNhO

No próximo capítulo: Brock Lesnar nos contará como ele se saiu nas finais da NCAA! Se você perder o próximo capítulo, ganhará uma passagem só de ida para Suplex City!
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