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A Alternativa Fenomenal #13: O que aprendemos com a Lucha Underground?





Saudações a todos, e bem vindos a mais uma Alternativa Fenomenal. Infelizmente, há algumas semanas, tivemos a exibição do último show da primeira temporada da Lucha Underground, que deixou vários fãs órfãos desta que foi a maior surpresa em muitos anos no meio do pro wrestling. Para nosso grande deleite, este último evento, a Última Lucha, foi um show de majestosa qualidade, sendo comparado a outros grandes show como o Wrestle Kingdom 9 da New Japan e a Wrestlemania 31, sendo até considerado por boa parte dos fãs como o melhor evento do ano. Posto isso, creio que seja interessante repensarmos um pouco na trajetória da LU, e ver o que pudemos aprender com esta jovem, porém gloriosa empresa, que tanto alegrou nossas noites de quarta-feira. Sendo assim, passemos a esses ensinamentos; 

Uma das coisas que a LU mais mostrou nesta sua temporada foi ousadia, especialmente no que toca ao estilo de combate utilizado nas lutas. Por muitas vezes, as pessoas sentem-se cansadas de ver o estilo sempre usado na WWE (e na TNA também) e procuram por alguma empresa com estilo diferenciado. Essas mesmas pessoas, muito por questão de costume, acabam não apreciando um estilo mais acrobático e fantasioso como a lucha libre mexicana. Pensando nisso que a AAA (empresa-mãe da LU) resolveu criar esta promoção, como uma forma de atrair tanto o público americano, para que conhecessem seu trabalho, como também o público mexicano, apresentando algumas caras novas e novas storylines. E para realmente mostrar sua intenção em atrair todos os tipos de público, eles inovaram ao apresentar um estilo completamente próprio, combinando toda a psicologia de ringue e firmeza do estilo americano com a velocidade e beleza estética do estilo mexicano. Isso proporcionou combates rápidos, com boa dose psicológica e uma plasticidade poucas vezes vista na luta livre convencional americana. Esta nova forma de combate impressionou muito os fãs, tornando-se uma das marcas registradas da companhia. 




Além do estilo de combate, outra inovação veio na forma de produção dos segmentos. Normalmente, os segmentos como vemos na WWE e TNA se resumem a entrevistas aos lutadores, ou interações rápidas entre eles em ambientes bem iluminados (caso mais visto na WWE) e com toda a correria da produção ocorrendo em sua volta, onde se utilizam técnicas de gravação mais convencionais, e as interações ligam-se diretamente a storyline em que os wrestlers estejam envolvidos. Na LU, os segmentos foram produzidos de forma semelhante às cenas vistas em séries de TV, com o uso de técnicas de gravação próprias para esse tipo de programa (angulação das câmeras, filtros utilizados, uso de closes, entre outros pormenores), além de uma excelente adequação ao estilo do programa (já que estamos tratando de algo “underground”, nada melhor que apresentar cenários escuros, sombrios e que passem aquela impressão de estarmos acompanhando um campeonato clandestino). Acrescente-se também um ótimo roteiro, uma grande direção de cena (nesse ponto, meus sinceros agradecimentos ao produtor Robert Rodriguez e sua vasta experiência em Hollywood) e interações multi-storyline (onde os segmentos envolviam mais de uma storyline, mesmo que de forma implícita, ou mais sutil), e temos os segmentos mais bem produzidos e interessantes já vistos no meio do wrestling. Elogios a sua equipe de produção não faltaram, e os fãs também apreciaram imensamente este estilo único de desenvolvimento das estórias.




Diretamente ligada a produção dos segmentos, as storylines também não podem deixar de ser lembradas. Como pudemos ver, os writers puderam contar com uma grande liberdade para escrever os scripts dos shows, e uma melhor facilidade para desenvolver estórias mais longas, visto que tratou-se de um programa com 1 hora semanal (algo que podemos ver também no NXT). Da mesma forma que a gravação dos segmentos mostrou, os roteiros também seguiram um estilo mais sério de escrita, claramente inspirados nas séries de ação e, em alguns casos notáveis, em séries com temática mais fantasiosa. Isso contribuiu bastante para despertar o interesse dos espectadores, visto que a sensação de estar vendo um filme ou uma série é algo que não é passado em nenhum dos shows semanais das outras companhias. Uma mostra bastante clara dessa inspiração é o vídeo package mostrado ao final da Última Lucha, com aquilo que seriam os “finais de temporada” para cada luchador que atuou no evento. 




Falando dos lutadores, fomos apresentados a um roster bastante diversificado, composto por vários nomes conhecidos da AAA (Mil Muertes/El Mesías, Blue Demon Jr, Drago, Fenix, Pentagón Jr, Aerostar, entre outros), lutadores das indys americanas (Prince Puma/Ricochet, Son of Havoc/Matt Cross, Killshot/Shane Strickland, Ivelisse Veléz, Brian Cage) e famosos ex-WWEs (Johnny Mundo/John Morrison, Big Ryck/Ezeckiel Jackson, Daivari, Chavo Guerrero, Alberto “El Patrón”/Alberto Del Rio). Essa diversificação foi a grande chave para criar o estilo combinado que utilizam nas lutas, adaptando bem os conhecimentos que cada lutador possui, e os mesclando de forma que, mesmo sendo algo “único”, fiquem perceptíveis os pormenores específicos ao estilo individual de cada um. Destacaram-se muito também, os managers Konnan e Catrina (ex-Maxine da WWE), fundamentais no desenvolvimento das storylines envolvendo seus protegidos (chamo mais atenção para Catrina, que pode demonstrar muito do que sabe fazer e não pode nos apresentar na empresa de Stanford) e o GM da companhia, Dario Cueto, uma cara completamente nova para os espectadores, mas que mostrou de forma impressionante seu talento como gestor heel, sendo manipulativo, engenhoso e algumas vezes covarde, tal como as grandes autoridades heels da indústria.

Rapidamente, creio que também seja interessante destacar a ousadia dos produtores em relação ao alinhamento de alguns lutadores, como Blue Demon Jr, uma das maiores lendas do México e um conhecido luchador face, que sofreu uma interessante turn baseada justamente em seu orgulho como mexicano, que o fez tornar-se obcecado com a idéia de ser o verdadeiro representante do México, Texano, um grande lutador heel na AAA, que acabou mostrando enorme empatia com o público da LU e apresentou um bom trabalho como face, e Pentagón Jr, mostrado inicialmente como heel violento, e finalizando a temporada com o mais amado tweener da empresa, mesmo mantendo seu estilo de combate mais duro.




De lembrar-se também da ousadia em inserir lutadoras em combates e storylines contra lutadores homens, algo poucas vezes visto no wrestling americano. Ver os casos de Sexy Star e Ivelisse Veléz (e muito provavelmente Black Lotus na segunda temporada), luchadoras tratadas como iguais em relação a seus colegas homens, e podendo demonstrar sem medo suas habilidades (chegando ao ponto de Ivelisse ter sido LU Trios Champion), foi algo bastante satisfatório para várias pessoas (eu inclusive) que já estavam indiferentes ao wrestling feminino, devido ao grande fato da WWE por muito tempo ter ignorado sua divisão feminina, pelo ainda pouco conhecimento acerca do NXT (que, felizmente hoje não deve mais ser um problema), pela falta de visibilidade das indys especializadas, e dos contínuos problemas em relação ao booking que a TNA apresentava.




Podemos claramente destacar algumas inovações no que tocam a gimmick matches apresentadas pela LU. Estipulações incomuns, como a Aztec Warfare (um tipo de Royal Rumble, onde a eliminação ocorre apenas por pinfall e submissão), o Believer’s Backlash (lumberjack match onde fãs estariam ao redor do ringue, cada um com um cinto, podendo atacar os lutadores que saíssem do ringue), ou as famosas Deathmatches (que aqui apareceram duas vezes, uma como Deathmatch propriamente dita, e outra sob o nome de Cero Miedo match) fizeram-se notáveis aos espectadores, especialmente pela bela forma como foram conduzidas, e pela importância dada a elas no contexto a que foram aplicadas (o Aztec Warfare coroou o primeiro LU Champion de sempre).




Para finalizar, sobre os títulos da companhia, para além do LU Championship, o tradicional prêmio máximo da companhia, tivemos também os (inéditos para muitos) LU Trios Championship, que criou uma divisão muito mais ambiciosa do que uma divisão de tags convencionais (especialmente pelo fato de termos um roster de tamanho mediano que, no entanto, não impediu o desenvolvimento de grandes feuds e combates em torno dos cinturões) e o LU Gift of the Gods Championship, um formato extremamente inovador, onde lutadores disputam combates qualificatórios pela posse de 7 medalhas aztecas, que juntas formam um cinturão que dá ao vencedor do combate final (uma 7-way match entre os possuidores das medalhas), o direito de requerer um combate pelo LU Championship a qualquer momento que desejar (mas, diferentemente de um cash-in do Money in the Bank, haverá um espaço de tempo de uma semana entre o anúncio e o combate), tendo o revés de, caso demore muito a utilizar o “poder” do cinturão, defendê-lo contra outros lutadores que desejem usufruir desta oportunidade. 




Creio que não seja segredo para ninguém que a Lucha Underground apresentou o produto mais interessante e inovador que pudemos ver em muito tempo. Com pouco menos de um ano de vida, a companhia mostrou ter capacidades suficientes para produzir shows e eventos claramente superiores a muita coisa apresentada pelas companhias mais famosas. Infelizmente, agora cabe a nós esperar até janeiro de 2016, prazo máximo prometido pelo produtor executivo Eric Van Wagenen para o retorno do show, para voltarmos a nos deleitar sobre toda a criatividade e qualidade proporcionada pela LU. Caso seja de desejo dos leitores, podem deixar nos comentários, aquilo que mais gostaram nesta primeira temporada da Lucha Underground. Aproveitem o artigo e até a próxima. 



OBS: Este artigo vem a pedido do leitor João Paulo, que me pareceu ser um grande fã da LU, e que assim como eu, vai ter que amargar a espera pela season 2.
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