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WWE, recapagem e putrefação


A estagnação de empresas conceituadas, especialmente as de mais tempo de mercado, que mantém um monopólio duradouro, vem se tornando uma constante. É difícil atingir um público tão diversificado como o que se impõe na atualidade, âmbito de destaque da internet, por exemplo, que gradativamente derruba a antiga supremacia de meios como a televisão.

No entanto, é fácil perceber que existem reações para esse processo. Parece que há menos paciência com projetos e uma necessidade imediatista do sucesso. Notadamente atrás do seu tempo – como, a propósito, todas as outras empresas de wrestling -, a WWE ilustra, em parte, isso do que falo. Perceba.

Seria natural que, embora não tenha concorrência, se fizessem mudanças para, ao menos, evitar a queda anual nas audiências – tradição desde 2007, no mínimo. Mas não se faz.

Seria natural que, postos nove anos, se criassem estrelas que, hoje, 16/11, pudessem ser ditas como main eventers óbvios da Wrestlemania XXXI. Mas não se fez.

Preciosismo ou incompetência?

Retomando o ano de 2014, muito mudou no panorama desde a última vez que vos escrevi, no final de semana da Wrestlemania passada. Tenho acompanhado as coisas de longe, sobretudo nos últimos tempos, mas ainda que tenha me abstido de expor minhas opiniões, sempre que vejo um programa, tiro considerações acerca dele.

Brock Lesnar, por exemplo, é um dos meus favoritos. Sua genialidade no controle da personagem é única e dificilmente equiparada a qualquer outro no roster. A dinâmica estabelecida adjunto a Paul Heyman completa um pacote de intensidade no ringue, bem como de conexão ao publico. No entanto, é um incógnita para mim a equiparação de Lesnar com os outros, à medida que aparenta ser Lesnar o maior objeto de cuidado da WWE. Está aqui um conservadorismo. O investimento em Lesnar, especialmente nos últimos meses, foi somente feito porque se tem a garantia de retorno.

É diferente do “investir” em Ryback, em 2012, ou Rusev. Nenhum deles quebrou a streak ou fez próximo. É diferente de colocar um The Rock no mesmo ringue. Se fosse por isso, então Hurricane podia ser considerado um deus de sua época. É basilar que se diferencie isso. A WWE não falha em construir lutadores, isso porque simplesmente não os constrói. Um push é diferente de uma construção.

Os próprios Bryan e Punk foram descontinuados na sua alçada ao sucesso, remetidos aos mesmos processos de faxina outorgada que passa, por exemplo, Damien Sandow. Posso acreditar que o sucesso de ambos - inegavelmente as maiores expressões do período contemporâneo do wrestling - deveu-se, exclusivamente, ao consentimento do público.

Por isso, e agora sim retomando meu pensamento inicial, choca-me que a WWE seja uma das poucas empresas que aceita sua própria derrocada. Talvez, e pensando positivamente, ainda não tenha entendido que a palavra solução deve vir em paralelo à reciclagem.

Reciclem a WWE antes que vire um lixo, falando mais diretamente.

Para acentuar o que digo, vejam o exemplo do titulo mundial unificado. Celebra-se um ano de reinados pífios, mal elaborados, mal projetados, feitos “nas canelas”. Lesnar, legitimando a minha teoria de ser ele o único “golden boy” da WWE, sequer consegue reerguer o título. As ações da WWE limitaram-se no curto prazo, tentando dar um próximo passo ao homem que quebrou a streak, mas, na sua ânsia de fazer prevalecer o push, esqueceram de pensar no depois.

Eu sou do partido que acredita que é possível, de fato, fazer um bom programa sem um título mundial. A premissa da criação do título unificado foi, inclusive, essa. Se dizia que os americanos e intercontinentais passariam a valer mais. Não se viu isso. É como se, um ano depois, se tivesse subtraído um cinturão. E só.

Há conserto. Ponham lutadores como Dean Ambrose, Bray Wyatt e outros que estão na zona intermediaria do main event a lutarem pelos cinturões menores. Lembro-me, ainda hoje, da renovação posta a Wrestlemania XXV (esqueçam o WWE Title nessa altura), em que Chris Jericho e Rey Mysterio apresentaram batalhas de alto nível, as quais poderiam ser, com toda a certeza, revisitadas no mesmo patamar por essa leva de Indy wrestlers que abundam o roster de hoje. Além disso, 2009 também trouxe-nos uma feud intensa de CM Punk e Jeff Hardy, a qual propiciou o inicio da real carreira de sucesso de Punk na WWE. Uma rivalidade do Smackdown, que na época (já não tendo PPV exclusivo) ainda era sério.


Façamos a disjunção dessa necessidade múltipla de lutadores intocáveis, que na verdade são arcaicos, retrógrados e só representam a volta ao passado. O mundo de hoje prova que o público é desinteressado em “mesmice”. É muito fácil ligar o computador e começar a ver o que se quer, quando se quer. Eu não preciso nem esperar o RAW ser transmitido no FOX Sports 2. Posso simplesmente ignorar isso e revisitar os primórdios do Nitro ou coisas assim.

Essa nostalgia, entretanto, ainda que positiva, não deve ser o lema do que é apresentado em 2014. É preciso entender que esse papel é de vídeo-arquivos (aqueles que já estão na WWE Network). A tendência é contrária disso. O que prende um espectador, na verdade, não é uma volta da Attitude Era, mas o estabelecimento de uma nova era, a qual possa trazer inovação.

A reciclagem que falta na WWE é o entendimento que esgotaram-se as fontes outrora inesgotáveis do wrestling. A engrenagem sempre foi de buscar storylines engarrafadas, dar-lhes novo titulo, adaptar ao presente e colocar na programação. É assim em 98. É assim hoje, com a Autoridade.

A recapagem de ideias atingiu o cúmulo. Desde que assisto a WWE, e não faz tanto tempo, nunca vi tamanho descomprometimento com o produto. Talvez por causa da WWE Network, o que vejo, cada
vez mais, é o enfiar goela abaixo dos fãs aquilo que, nem sempre, é o que deveria ser enfiado. O Hell in a cell, por exxemplo, é o inicio de uma série de PPVs sem o campeão e, desde já, me elucidou o despreparo dos criativos em saber o que fazer.

Enquanto isso, nós, como reles mortais, sabemos o que fazer. Renovem a empresa. Aproveitem que o título ativo mais importante hoje é de Ziggler e ponham-no a lutar no alto card. Se esse não tiver a capacidade, explorem caminhos alternativos. Mas façam!

Até quando teremos de ver o enxugamento da Autoridade, explorando onde não há mais o que explorar. Faz-se agora o vulgar e gradual esfacelamento da stable, um a um, retomando o clichê de destruição de stables; todavia, o problema é que isso pode demorar anos. Ano que vem sai Kane. Em 2016 sai Seth Rollins. Em 2017, por fim, Triple H combate quem quer que seja no main event da Wrestlemania.

Valha-me!

Pode parecer choroso o meu discurso, mas é importante que todo esse lirismo passe a você, leitor, o meu real descontentamento com o que vejo. O ano de 2014 está sendo muito melhor que o de 2013, não há o que se negar. Contudo, muda-se a peça teatral, mas os peões ficam os mesmos.

Refuto que o main event de um PPV seja novamente o Time WWE, capitaneado por John Cena, contra um grupo de marginais que sequestram a empresa. Isso é pisar na cara dos fãs, como se fossem estúpidos o suficiente para entender que, há um mês atrás, Cena sequer estava no mesmo plano temporal que os Autoridades.

Não pense que minha opinião é ultra-revolucionária. Ainda gosto, reitero, de ver um combate de Brock Lesnar VS. The Rock num main event. O problema é a conjuntura não mudar. Quando descrevo, no texto, a lentidão de reformas na WWE, refiro-me a um panorama geral, e não em casos específicos.

E isso é o mais preocupante: o problema na WWE não passa por um ponto, mas por todo um conjunto de erros e velhacarias que tendem a se manter.

Mas eu sou um mero espectador e o que faço é escrever, tentando destarte cooptar mais alguns para o rebanho de inconformados.

Eu, a propósito, devo voltar a escrever mais regularmente, agora que tenho os domingos livres do estudo.


Obrigado a todos.
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