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Slobber Knocker #109: Como estragar Roman Reigns em poucos passos?


Bem-vindos a mais uma edição do Slobber Knocker! Reparei na fraca adesão no artigo anterior, será que preciso de arranjar temas mais interessantes? Terei eu conseguido rematar com o derradeiro tema? Pois, talvez não, não me parece que tenha aqui grande mina de ouro, mas sempre é assunto que dá que falar e que a mim deu, para já. Até calha em boa altura....

Numa altura em que a já anteriormente visível ascensão de Roman Reigns parece começar a atingir os seus pontos mais altos, começam a surgir as questões: será ele o próximo Face de topo? Irá ficar genérico? É uma boa escolha? E por vezes já vem com as respostas mais apressadas de que é overrated e que é isto e que é aquilo, só porque há mais malta e mais jovem a gostar dele. No entanto, uma coisa é certa. Se quiserem estragá-lo, conseguem-no com facilidade.

Olhando para o caso de John Cena, o actual Face de topo. Um tipo carregadinho de heat e que nem a mim me consegue entusiasmar mas que eu sei que é mais e tem mais do que aquilo que mostra, porque o limitaram. Por muito que desgoste a "enchente Cena" que nos metem pelos olhos dentro, não consigo detestá-lo, não só pela sua dedicação, mas porque sei que o tipo sabe o que faz e se contar os grandes combates a que já assistir que o tinham a ele como integrante... É uma lista muito extensa. Mas, lá está, estragaram-no. O mesmo pode acontecer com Roman Reigns.

Para evitar aquela bala que às vezes acontece quando alguns leitores vêem o título e abrem o artigo sem o ler, mas comentam - algo que me aconteceu há três semanas atrás - isto não está nem perto de ser um ataque a Reigns. Caramba, até pelo contrário. Há muito que os Shield eram os meus competidores favoritos e agora separados assim se mantêm e constituiríam um pódio, se eu os conseguisse ordenar e se não tivese mais alguns indivíduos fora do trio - eu tenho um "Fave Five" como o do Booker T. Apenas reconheço que Roman Reigns pode ter um destino menos agradável e analiso os vários caminhos por onde isso pode acontecer com facilidade.

Com o esclarecimento já de lado, posso avançar para o que interessa. A enumeração de factores onde podem cortar as pernas de Roman Reigns e retirar-lhe o encanto que nos faz adorá-lo actualmente:

A sua move-set


Todos gostamos de ver o seu "Superman Punch" e é daquele tipo de manobra divertida de se imitar. O Spear é sempre um bom finisher porque pode vir absolutamente do nada e executado pelo tipo certo, consegue sempre parecer devastador. Uma manobra original e muito bonita de se ver é aquela patada que ele estoura na tromba de um desprevenido na corda, com um surpreendente salto do exterior. Tudo coisas bonitas.

O problema é se isto entrar em piloto automático e não descolar daí. Até as próprias manobras começam a ser tão repetidas ao ponto de começarem a ficar mais aldrabadas com o tempo - comparem a Spinout Powerbomb do John Cena, aquela que ele faz antes do Five Knuckle Shuffle, de antigamente com as de agora, e digam lá se ele não "cortou nas despesas" da sua execução.

O Spear pode manter a sua intensidade mas o Superman Punch pode já banalizar-se. Esse move até já tem aquele pormenor: uma chamada. Muitos lutadores, todos praticamente, têm chamadas para os seus moves, é uma questão de conseguirem que pegue tão bem como outros. Se é para fazermos paralelismos negativos, será que conseguimos ver o soco no chão a funcionar como um "You Can't See Me" e o Superman Punch a ser um Five Knuckle Shuffle mais intenso e executado num adversário em pé? Não vamos pensar nisso, pois não.

A redução da sua move set é outro pecador a temer. Quando já tem estes três grandes e faz o suficiente com as suas raízes Samoanas ao não largar o Samoan Drop e acrescentando mais alguns básicos para constituir o seu combo automático... Abre-se aí um portão para que muito do entusiasmo dos seus combates fuja. O  que não devia acontecer. Então neste primeiro ponto, temos mesmo que esperar que eles não optem por este caminho fácil para fazer de Roman Reigns um lutador chato. Para já, ainda têm nele, algo muito bom: um powerhouse interessante e entusiasmante de se ver em ringue, algo com que eles andam a tentar atinar há muito tempo. Arruinar isto é blasfémia...

O material das promos


Indo directos ao assunto: o domínio do microfone ainda não é dos seus fortes. Nos Shield parecia mais eficaz, pois tinha um papel diferente no grupo e o seu trabalho ao microfone não precisava de passar do curto e grosso, enquanto Seth Rollins ali trabalhava para melhorar esse seu ponto fraco e Dean Ambrose limitava-se a ser o Dean Ambrose para brilhar. A solo, talvez necessite de frasear algo mais para vender uma personagem e os seus objectivos.

E, infelizmente, já parecem estar a expor as fendas nesse aspecto. O material das suas promos tem andado muito fraquinho e, por vezes, para manter aquele ar de"badass" de poucas palavras, tenta manter a postura anterior e por vezes temos que aumentar o volume apenas para ouvir o que ele tem a dizer. Aí temos uma vulnerabilidade em Reigns e quando as promos que lhe dão consistem em repetir exactamente o que o Cena acabou de lhe dizer, mas a ele, como forma de o intimidar... Sabemos que ele não tem do melhor material em mãos para trabalhar.

Uma coisa que um tipo com esta atitude de que não é bonzinho, mas é um tipo de mau que o público goste de apoiar pode ter os seus lados negativos. E pode acontecer outra coisa que tramou outro indivíduo de alto calibre. E, não tarda nada, e corremos o risco de ter Roman Reigns a dar promos à Randy Orton. Monótonas, com pouca emoção e com pouco propósito - e isto depois de já sabermos que Randy também fazia melhor que aquilo. Quando quase que esperamos que ele chegue a dizer "My name... Is Roman Reigns", temos que pensar que alguma coisa está a falhar.

Reigns devia ser como era antes: curto, grosso e directo ao assunto. Não perder tempo a falar baixinho para tentar intimidar, porque daqui a nada não se ouve, e não lhe darem linhas que só falta dizer "Quem diz é quem é", para parecer intenso e que não está para aguentar balelas dos outros. Ele intimida com o seu aspecto, a voz devia ser só para servir de acento e se for preciso espetar um berro ou outro, assim seja, que isso até era do mais engraçado que ele tinha. Mas, infelizmente, já parecem estar a virar o barco para o lado errado, em termos de promos. A ver se há salvação porque o seu trabalho de micro tem vindo a deixá-lo fraco, ultimamente...

Sorrisinhos e simpatia


Na vida real, isto não é uma coisa má. É sempre bom ver alguém simpático e a transmitir alegria, são das pessoas com quem dá gosto conviver. E não há maior desgosto que um carrancudo antipático com algum problema que é culpa de toda a gente. Mas como no wrestling gostamos de ver coisas separadas da realidade, nem sempre precisamos de um Sr. Risinhos a tornar-se genérico e chato de se ver. Caramba, o tipo faz vida de andar à pancada!

É típico do babyface de alto relevo tornar-se assim, sem ser assim logo. O próprio John Cena manteve a postura malcriadona da sua antiga gimmick, ao virar Face, e não perdia tanto tempo a "apertar mãos e beijar bebés" quanto perdia a mandar bocas javardas aos seus adversários, sob a forma de rimas. Apenas foi progressivamente mudando para uma espécie de Ned Flanders que nem se importa que a malta o deteste. Um caso também recente é o de Sheamus que, mantendo-se o bom brigueiro que é, só fica sério quando o chateiam muito, porque de resto parece um comediante stand-up a contar as histórias da família. Nem o Daniel Bryan se safou, mesmo que alguma percentagem desses sorrisos fossem legítima felicidade por estar tão descontroladamente over. A excepção à regra podia ser Randy Orton e a sua atitude de lobo solitário, mas até ele tinha chegado ao ponto de ser mais um Face genérico - que até a cheap pops já recorreu - que não se ria, porque vivia alguma amargura também.

Também não digo que eles deviam ser todos umas terapias de raiva andantes, mas deviam ter um certo tom de apelo aos fãs sem se tornarem uns "Goody Two-Shoes". Eu não sou daqueles que só louva as coisas antigas, nada disso, mas nos tempos da Attitude Era, não era nisso que se baseavam os Faces de topoe nós bem sabemos o que é que movimentava tipos como Steve Austin e The Rock e nenhum deles teve que recorrer ao sorrisinho - por muito popular que seja agora o sorriso do Sr. Johnson. Tinham atitude. E lá porque "atitude" está no nome da era, não significa que seja exclusiva dela. Estejam à vontade, podem usá-la sempre e em todos.

Com isso em mente, quem eu vejo que esteja a ser construído de forma impecável como Face... É mesmo Dean Ambrose. O próprio já se chamou um "scumbag", mas a malta adora-o e com razão. Roman Reigns... Para já também não pendeu para o mau caminho, ainda. Mantêm-no sempre como um indivíduo intenso, sereno e com pouca vontade de passar cartão a alguém. Os únicos momentos em que muda é com a Renee Young, mas até gosto dessa parte, costuma ser engraçado e até nem me parece mal que a única coisa que o faça ceder seja a presença de uma mulher bonita, acontece a todos. Já falei do problema que essa atitude até o faz falar um pouco baixo demais. Mas para já, têm algo aí. Se não quiserem deitar tudo por terra e colocá-lo todo sorridente, a beijar as nádegas aos fãs e a disparar piadas foleiras - o que ainda é a bagagem pesada do Cena, já há muitos anos - então ainda se podem safar... Esperemos que vejam sempre isso. Porque nem acho que isso combine um mínimo com um tipo como o Roman Reigns...

Banalização da gimmick


Para já ainda têm alguma coisa palpável e Roman Reigns mantém a gimmick dos Shield. Com a separação, Dean Ambrose tem vindo a tornar-se aquele psicótico sinistro que já era conhecido antes e que agora regressa, enquanto Seth Rollins vai trabalhando o simples facto de ser um tremendo lutador vendido à autoridade. Já Roman Reigns mantém vivos os Shield através de si mesmo e é ele que mantém a gimmick do trio em si.

O que isso traz é pouco mais do que uma attire e uma entrada diferente de todas as outras - por muito que o Sandman queira discordar, isto nos dias de hoje é diferente. Não pode continuar a gimmick de "Hounds of Justice" porque as coisas que eles faziam não lhe dão muito jeito para fazer sozinho e agora o seu maior interesse é um títulozinho. Mas ainda tem uma gimmick. Muitos chegam ao topo e a gimmick vendem-na e em promoção.

Estamos de novo a entrar numa era bastante baseada em gimmicks, como podemos ver na palete de cores que existe no NXT. O que para mim é óptimo, especialmente quando acabamos de sair de uma altura em que muitos dos lutadores não passavam disso: gajos. Deixar Reigns chegar ao topo para largar as suas particularidades e tornar-se apenas um tipo que está no topo, o interesse vai perder-se. Não digo que ele fique eternamente como uma sobra dos Shield e que nunca encontre o caminho para o ringue pela rampa. Mas não há necessidade de o banalizar tanto, se for esse o plano.

Para já tem um futuro próximo garantido, com esta personagem. Assim que o decidem renovar, é apenas uma questão de o manterem com o interesse e não o... "desrenovar"...

Sobre-exposição


Estamos numa boa altura, em termos de talentos. Temos uma bela colecção de tremendos talentos, de sangue jovem, cuja única coisa a fazer é saber aproveitá-los, porque isto já é gente formada. Os que já estão no main roster, os que ainda estão no NXT, os que foram agora contratados e ainda não chegaram ao NXT. Dá gosto olhar para o roster. O problema é que nem sempre dá gosto olhar para os programas televisivos, porque não se vê o tal aproveitamento.

Para já, temos gente a receber bom destaque, como é o caso do próprio Roman Reigns, de Seth Rollins, de Dean Ambrose ou Bray Wyatt. Cesaro parece ter tido outro travão e Dolph Ziggler é o eterno sobe-não-sobe. Este até já é muito veterano para o considerarmos como um futuro qualquer coisa. Todos sabemos que, ao longo de anos mais recentes... Foi uma overdose de John Cena. CM Punk recompensado com um brutal reinado de mais de um ano como WWE Champion? Óptimo, mas o Cena ainda é mais importante e é ele que fecha os PPVs. Até o seu combate com o John Laurinaitis era mais importante. Temos Cena lesionado? Oportunidade para o homem descansar e o público descansar dele. Nada disso, encham-nos de segmentos a acompanhar a sua recuperação e apressem as coisas para que ele regresse. Não é preciso ele estar a 100%.

E é isto até chegarem aos PPV grandes em que vêm os part-timers roubar mais um pouco de atenção. Porque, de resto, a sensação que fica é que o midcard está lá para encher e que é tudo para o senhor lá dos topos. Que nestes últimos anos foi o Cena, outrora foi o Hogan, mas este vem de outros tempos em que o público em geral o respeitava e o elevava ao topo da cadeia, sem precisar de o atafulhar pelos olhos das pessoas, à força - souberam logo o que fazer para lucrar, ao início.

Portanto, seria muito bom ver Roman Reigns no topo, como tem vindo a ser actualmente. Mas também seria bom ver o resto da malta lá também. Tudo bem que o nome dele já é daqueles que tem direito a uma pausa antes para preparar o pop. Mas se o Dean Ambrose tiver melhores e mais legítimas reacções, se Daniel Bryan se mantiver tão over como se ainda estivesse à caça do seu primeiro título e se o povo continuar a cantar "We want Ziggler"... Porque é que ele não há de partilhar um pouco da ribalta? É a WWE, a luzinha da ribalta ainda é bem grande, cabem muitos. Isso já para não falar em Sami Zayns e Adrian Nevilles que possam subir do NXT e mais alguns Steens, Devitts e Kentas que ainda estão a chegar. Roman Reigns no topo, tudo bem. Roman Reigns a enjoar, não. Ninguém gosta disso. "Let's go Roman! Roman sucks!" já seria um acto repetido.

Super-vitórias


Directamente relacionado com o primeiro ponto, da redução de move set. É normal que um desporto fictício como o wrestling precise de um herói. Os super-heróis é que, se calhar, nos dias de hoje, não dão lá muito gosto de ver. Hulk Hogan desenvolveu essa fórmula nos seus tempos e naqueles dias resultava lindamente e mexia com a miudagem e até com a "graduagem". Mas com a evolução dos tempos, a mudança da forma de encarar o wrestling e com os segredos já não tão secretos... Já não há muita paciência para isso.

Actualmente quem anda com esse fardo ainda é o John Cena. Daniel Bryan já pôde experimentar a sua boa dose de vitórias "underdog", mas no caso dele, um tipo como ele, vemos bem onde está o factor "underdog", enquanto que com Cena seja mais difícil, ainda para mais uma década e quinze títulos Mundiais depois. Ainda para mais quando há aquelas situações em que é necessário termos um bom combate, aqueles PPV em que pedem ao Cena para trabalhar a sério e ele demonstra que o sabe fazer. Tira ainda mais piada àquele combate instantâneo de Cena a levar porrada o tempo todo, para deixar de vender as coisas repentinamente e ganhar porque "Cena wins LOL". É claro que esta fórmula não pega agora.

Uma maneira malandra de olhar para as coisas num caso como o de Roman Reigns seria: quando o víssemos a ganhar combates desta forma, a levar pancada de meia-noite e a ter um "boost" repentino que eventualmente vai dar num "Superman Punch"... É sinal que ele conseguiu lá chegar. O problema é que não queremos ver isso. Nem nele, nem em ninguém. Se é para ser o lutador de topo e representante de uma companhia, então que o seja ao ter dos melhores combates, os exemplares - maneira de dizer, também é suposto haver grandes batalhões no midcard e convém - e não ao ter os mais chatos e automáticos.

Como mau sinal, já temos "Superman" no nome de uma manobra de assinatura sua. Sim, tem a ver com a sua aplicação e tal, mas pode causar medo. Causando a ligação com o primeiro ponto, é a última coisa que queremos ver em Roman Reigns no futuro: ver os seus combates reduzidos àqueles três moves e mais um par deles para Inglês ver. Queremos acção exaltante!

Com certeza que haverão mais coisas que podem arruinar tudo - digo-o já, como gajo que também usa cabelo comprido, que se corta o cabelo, morre para mim! - mas falando em poucos passos, recorro aos mais simples e mais evidentes. Uma abordagem à Slobber Knocker, que atinge a sua streak de 3 artigos seguidos com um título sob a forma de interrogação - não foi intencional.

A interrogação do título é só uma forma estilística de o escrever, mas pode muito bem ser uma pergunta para todos vós, porque agora passo a palavra a vós para comentarem este assunto como bem entenderem. Que tenha mais que os meus últimos artigos... O que nem é preciso muito, por acaso. Mas o artigo é todo vosso, dêem lá a vossa opinião quanto a Roman Reigns, ao seu estatuto, ao quanto ele se pode estragar, aos factores aqui apresentados e à constituição de um babyface de topo. Tudo e mais alguma coisa, também me podem chamar WWE Kid, aqui dá para tudo. Mas a acrescentar à interrogação do título, aqui fica o novo hábito interrogatório de todos os Slobber Knockers recentes:

"O que acham que pode faltar em Roman Reigns para este ser uma estrela de topo completa?"

Comentem, continuem a acompanhar e estejam atentos na próxima semana, se estiver de volta como planeio - se calhar por ninguém estar atento, ninguém vê e os meus artigos passam despercebidos. Brincadeiras à parte, até à próxima semana, fiquem bem e continuem a desfrutar do Verão - cá deste lado, pelo menos.

Cumprimentos,
Chris JRM

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