Dias is That Damn Good #195 – "TNA, Uma Nova ECW"
Boas Pessoal!
Sejam bem vindos a mais um "Dias is That Damn
Good", o espaço com mais história na nossa CWO ;)
A TNA desde a sua génese tem passado por diversas fases
e transformações, sendo que as suas estratégias e políticas são,
geralmente, bastante inconstantes e alvo de sucessivas alterações.
Por consequência, sem um rumo claramente definido e consubstanciado
por uma verdadeira aposta de longo prazo, a companhia vê-se de forma
recorrente "atolada" em problemas de viabilidade
económico-financeira e obrigada a lidar com a instabilidade que essa
situação cria na gestão dos seus wrestlers, programas, ppvs e
diversos eventos. Ora, ao que parece, depois de ter passado, mais uma
vez, por uma dessas fases que acabei de referir, a empresa de Dixie
Carter está, novamente, a reorganizar-se e a apontar baterias para o
novo plano e estratégia.
No mesmo sentido e em consonância com este novo
caminho delineado, personalidades tornadas célebres pelas suas
passagens na histórica ECW (como Bully Ray, Tommy Dreamer, Tazz e Al
Snow) têm vindo a ganhar, cada vez mais, peso, importância e
preponderância no rumo criativo e administração da promotora.
Situação evidenciada, acima de tudo, se tivermos em linha de conta
a produção e conteúdos apresentados pela TNA nos seus mais
recentes programas e eventos e no modo como esta se parece ver a si
própria. Neste sentido, aquilo que me proponho abordar ao longo do
presente texto versará neste novo plano e estratégia alinhavados
pela TNA. Mas, também, nas transformações que dele advêm e suas
possíveis consequências, quer positivas, quer negativas.
Não percam, por isso, as próximas linhas...
Quando a TNA foi criada, em 2002, por Jerry Jarrett e
Jeff Jarrett, apesar das dificuldades e limitações que
representavam um mercado altamente monopolizado pela WWE, ainda o
clima e ambiente em redor da modalidade era extremamente efervescente
e entusiástico. Por estas razões, e porque não havia uma
verdadeira alternativa à promotora de Vince McMahon, a companhia de
Orlando, com maior ou menor acerto, foi conseguindo conquistar o seu
espaço, consolidar-se e desenvolver-se. Contudo, e como já tive
oportunidade de referir na introdução a este texto, a falta de
capacidade para preparar uma estratégia de longo prazo e para
apostar numa política de opções e decisões complementares à
mesma, não permitiu à TNA retirar todos os proveitos e resultados
esperados e necessários para estabelizá-la aos mais diversos
níveis. Consequentemente, a viabilidade economico-financeira da
promotora é uma problemática que está sempre na ordem do dia e,
ela própria, obriga a que, de tempos a tempos, se dêem avanços e
recuos, se verifique um reagrupar de forças e uma reorganização
estrutural. Aconteceu assim com o processo que gradualmente levou
Dixie Carter ao topo da empresa e, também, aquando das chegadas de
Hulk Hogan e Eric Bischoff. Ora, ao que tudo indica, e penso não
restarem grandes dúvidas a este respeito, é o reagrupar e
reorganizar do período pós-Hogan e Bischoff que se vive,
actualmente, na TNA.
No entanto, ultrapassar com sucesso o anterior momento
que a companhia de Dixie Carter vivia não se adivinha uma tarefa
fácil. Nós podemos criticar as más opções que foram tomadas e
questionar inúmeras oportunidades perdidas durante esse período em
que Hogan e Bischoff tinham preponderância no rumo da companhia, mas
nunca podemos esquecer que jamais a TNA havia sido tão grande como
nessa época, nunca a empresa teve uma organização e estrutura de
"main stream" como nessa altura e nunca, como nesse tempo,
a TNA conseguiu levar tantos fãs aos seus espectáculos, eventos e
arenas. Ainda a este respeito, recordo que nunca como neste período
a promotora apresentou uma produção tão moderna e de elevado nível
de qualidade. E é, de facto, uma pena que a má administração
financeira que se fez nessa época tenha deitado tudo a perder. Tal
como é uma lástima, reconheço, que com tanto star power, com
tantas personalidades de enorme visibilidade e mediatismo, com
storylines de elevado potencial e com talentos de grande qualidade, a
TNA não tenha conseguido, de certa forma, rejuvenescer o seu plantel
em posições chave através da criação de, pelo menos, um top
drawer.
A administração de Dixie Carter tomou, todavia, a sua
decisão...a companhia, primeiramente, deu uns passos atrás,
reagrupou-se, cortou nas despesas, passou a gravar vários iMPACT's e
PPVs de seguida, deu oportunidade a alguns jovens wrestlers, fez
regressar o six-sided ring e ficou com um aspecto e dimensão mais
"caseiros". Seguidamente, reforçou o poder criativo de
algumas personalidades com peso e história na TNA e com um passado
célebre na ECW, e decidiu-se por fazer as novas gravações em
pavilhões e arenas um pouco mais pequenas. Por consequência, o
modelo de produção e os próprios conteúdos apresentados pela
empresa sofreram uma profunda alteração. Parece, aliás, que o modo
e forma como a companhia se vê e se concebe a si própria se
modificou substancialmente. A produção passou a ter uma concepção
bastante mais restrita e limitada, mais indy, sem o ecrã tintantron
e a clássica pirotecnia, as promos, os videos e as entrevistas de
backstage parecem filmadas com uma camera caseira e o ambiente
tornou-se bastante mais apertado e claustrofóbico. Por outro lado,
ao nível dos conteúdos, reforçou-se a importância da X-Division
como factor diferenciador da empresa e deu-se um novo "gás"
às divisões de equipas e feminina...fizeram-se regressar alguns
nomes fortes da modalidade como Devon, Matt Hardy e Rhino e, acima de
tudo, os combates e desenvolvimentos dentro do ringue viram o seu
peso e importância serem fortalecidos. Por último, no que respeita
exclusivamente às construções de combates e storylines, parece-me
que a influência dos "ECW Guys" se tem evidenciado
tremendamente...para o compreendermos, julgo que basta estarmos
atentos ao tipo de rivalidades que se têm travado, ao facto dos
embates se realizarem quase todos sem desqualificações e com muitas
"armas" pelo meio, ao tipo de promos e, especialmente, á forma como os
wrestlers e restantes talentos interagem com o público e/ou
vice-versa.
Podemos concluir, portanto, que a TNA assumiu uma
espécie de padrão/modelo bastante semelhante ao que preconizava a
extinta ECW. E é neste ponto que a promotora e, sobretudo, quem a
gere me deixa desiludido. Eu compreendo as dificuldades pelas quais a
TNA passa e percebo que não é fácil dar a volta à situação,
reconheço o esforço que os wrestlers, agentes, bookers, produtores e
writers têm feito e todo o seu empenho é de salutar...mas é
possível melhorar e crescer sem se cometerem erros tão grandes
quanto a apresentação de uma replica moderna da ex-promotora de
Paul Heyman. E vocês perguntam, mas é um erro assim tão grande
porquê?! Vejamos então um pouco da história da ECW...uma pequena
empresa de extreme pro wrestling com um núcleo de fãs e seguidores
fanáticos mas bastante restrito, envolvida constantemente em
problemas financeiros e contraindo sucessivamente dívidas aos seus
empregados, lutadores e fornecedores, produtora de espectáculos na
sua generalidade selvagens, sem um pingo de psicologia de ringue e
onde o efeito surpresa de um acontecimento hardcore e a genialidade
da utilização de uma "arma" perdia qualquer relevância
de tão generalizada que estava essa prática, uma companhia onde os
riscos corridos pelos talentos eram gigantescos e a possibilidade de
terminarem prematuramente as suas carreiras tinha uma percentagem
elevadíssima e, por essa razão, à mínima oportunidade escapavam
para a WWE ou WCW, etc. Confesso que nunca gostei da ECW embora
reconheça a importância que teve na criação de um hardcore style
mais moderno e inovador e no lançamento de algumas estrelas de
grande valor...agora, tudo o que disse, anteriormente, são, a meu
ver, razões mais do que suficientes para encarar com pessimismo
qualquer tipo de aproximação da TNA àquilo que constituiu a ECW. A
TNA precisa reagrupar e reorganizar-se?! Sim. Necessitava dar um
passos atrás para poder dar dois passos em frente?! De acordo.
Precisava de uma nova estratégia e plano?! Claramente. O caminho que
está a seguir é o mais correcto?! Temo e tenho quase a certeza que
não...a não ser que a TNA queira ser apenas mais uma indy e tenha
deixado de ambicionar constituir-se numa verdadeira "main stream"
que, com o tempo, poderia tornar-se concorrente da WWE...a não ser que a TNA tenha deixado de lutar por um verdadeiro spot em prime-time.
E
para vocês, a TNA está ou não a ficar cada vez mais parecida com a
ECW?! Deve ser esse o seu caminho?!
Um Abraço,
Dias Ferreira
PS:
Não se esqueçam de indicar assuntos e temas que gostariam que eu
abordasse.