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Mac in Touch # 89 - Bryan é para "casar"


Edição 89 no Mac in Touch. O caminho para a centena de artigos vai ficando cada vez mais curta em apenas um ano e meio de colaboração com o Wrestling Notícias e isso é de louvar (é mais verdadeiro falar disto agora, num artigo com um número menos "popular", do que no "90" ou no "99"). entre a irregularidade que vai pautando a comunidade de wrestling online nos últimos anos em termos de compromissos dos cronistas com os blogues.....

Assim, eu e vocês, leitores, estamos cada vez mais de parabéns (sem vocês, sem a vossa participação, sem os vossos comentários, positivos ou negativos) não manteria a frequência de escrita..

Este artigo vai pegar num assunto bastante pessoal. Vou divagar um bocadinho naquilo que é a paixão por uma pessoa do sexo oposto, e depois entrar num tema relacionado com a nossa indústria, e que tem estado em destaque, a meu ver: a gestão da personagem "Daniel Bryan".

Como vou relacionar as duas coisas? Está tudo aqui em baixo:

Bryan é para casar

Escondida entre uma pequena multidão numa discoteca barulhenta está aquela miúda que sempre sonhaste conhecer. A cor de cabelo, o olhar, o corpo e a forma como se mexe são aquelas que idealizaste como aquilo que idealizaste ter para o resto da vida. A imagem física da tal companheira da vida aparecia, finalmente, à tua frente.

Bebes um, dois, dez copos e comentas com o teu pessoal aquilo que lhe fariam se a conhecessem, o quão necessitado ela te fazia estar, o quão provocados te sentias, a forma como ela te dava a volta à...

... ups, ela estava à tua frente e pronta para te conhecer por indicação de uma dessas companhias que notara o quão vidrado tinhas ficado. És quase obrigado a “avançar” e dar os dois beijos mais estranhos da tua vida, mas que valeram a pena porque ao fim de 10 minutos já trocaste números de telemóvel com ela. A coisa fica-se por aí, com ela, para já.

No dia seguinte acordas com claridade a mais no teu quarto, uma valente dor de cabeça e um vibrar que mais parece um estrondo vindo da tua mesa-de-cabeceira. É só uma mensagem. É ela a lembrar-te quem ela é e o que acontecera na noite passada. Sentira-se na necessidade de te enviar essa “sms” porque parecias demasiado anestesiado com álcool para teres a capacidade motora de escrever os dígitos certos no teu telemóvel.

Lês e a felicidade é espelhada no teu rosto. A dor de cabeça passa e a iluminação parece ser perfeita para o momento. Não dás parte fraca, e, tomado pela racionalidade e pelo facto de a achares a “tal”, decides ir para o banho de forma a pensar numa boa resposta para lhe dar. Pensas, repensas e nada de rebuscado te ocorre, só coisas banais, simples de se dizer. Pensas mandar mensagem apenas depois de almoço e, para evitares mandar uma mensagem com pouco sentido, afastas-te do telemóvel.

O almoço tem de ser regado com gordura e o sumo tem de ser àcido. Um hamburguer, umas batatas fritas e uma bela de uma limonada são remédio santo para a ressaca... e o teu elixir da inspiração porque concebes algo perfeito para lhe dizer.

Diriges-te ao telemóvel com as palavras na cabeça. Tiras o ecrã “negro” com que o ecrã fica quando não é mexido durante algum tempo e tens duas mensagens e uma chamada. Dela. Primeiro diz-te para lhe responderes mal vejas a mensagem [a primeira que te enviou], a outra é a dizer que gostou muito de te conhecer. À chamada, claro, não respondes porque és demasiado inseguro para manter, sem a confiança insuflada pelo alcoól, uma conversa fluída com ela (afinal, trata-se da mulher que tu concebeste como fisicamente ideal). Às mensagens, inebriado pela euforia, acabas por dar cana e respondes uma banalidade...

... mas ela não se importa, e responde-te de forma a procurar o diálogo escrito, mantido com sucesso.

Começam a falar, e ela vai-te mostrando sinais de estar “a fim”. Quando saem à noite com o vosso amigo comum, acontece aquilo que parece inevitável e apenas concebível numa qualquer utopia saída da tua imaginação: vão “all the way”.

Dormem juntos, e adoras a noite que passaste com ela. Quando ela sai, queres que ela esteja junto de ti e, num jeito envergonhado, pedes que ela fique. Ela fica. Aquilo que aconteceu na noite anterior repete-se... duas vezes. Dá-vos a fome, ela veste uma camisa tua (que lhe fica sensualmente gigante) e faz-te umas omoletes, frita bacon, prepara-te cereais e ainda espreme umas quantas laranjas para dar em sumo natural.

És tratado como um senhor, como nunca sonhaste ser tratado... várias vezes.

Esta repetição da noite perfeita vai acontecendo ... ao ponto da saturação. Por mais variações que a noite ou o dia a seguir vão tendo, o pequeno almoço já não sabe ao mesmo, e as coisas que vocês fazem no quarto deixam de ter o entusiasmo que a primeira noite, a mais tórrida de todas, tinha.

A cara dela ganha defeitos, mesmo sem se alterar, encontras imperfeições no corpo dela e até a cor do cabelo e o olhar te deixaram de deslumbrar. A voz dela é demasiado aguda ou demasiado grave para os teus ouvidas, e a maneira de andar é inexplicavelmente irritante.

Falas-lhe disso e ela tenta mudar por ti... mas não dá. Quanto mais ela muda, menos atraente se torna. Deixa de ser espontânea e chega-se àquele ponto de não retorno em que tens de terminar tudo, entre berros, agressões verbais e gesticulações agressivas...

... é assim, também, no wrestling profissional dos dias de hoje. O lutador que mais prazer nos dá ver no topo pode perder, a curto prazo, o seu encanto com as insistentes aparições no main event, com a sobrexploração que é feita pelos responsáveis criativos que gerem a personagem.

O exemplo mais flagrante é o de John Cena. Adorado em Março de 2005, odiado de forma vincada passado um ano. O problema esteve no desgaste que a personagem sofreu ao longo desse tempo. Com aparições constantes e um súbito problema de carisma até aí inexistente.

Agora é Bryan que está lá em cima. É a nova estrela da companhia, um lutador em quem a WWE parece apostar de forma convicta. Afinal ele tem tudo enquanto lutador de wrestling, fora a altura. Tecnicamente é perfeito e a energia que transmite durante todos os seus combates transmitem é contagiante. No microfone, não compromete, e conseguiu ganhar a empatia de uma gigantesca fatia da audiência, que vai desde quem é novo no acompanhamento da “modalidade” ao fã mais rodado. Isto é, reúne consenso, unanimidade. Algo raríssimo desde há quase uma década a esta parte na indústria pelo que estamos perante a oportunidade única de se fazer um campeão do povo. Portanto, só pode ser ele a vestir a pele de personagem principal...

... e assim tem sido, embora com cautelas da WWE na gestão das suas aparições. Antes da Wrestlemania, houve uma “RAW” falhada pelo Sr. “Yes” e na semana passada isso voltou a verificar-se (pode alegar-se, com legitimidade, a “ressaca”/lua-de-mel do casamento com Brie Bella... mas isso não seria algo permitido há um par de anos atrás, pelo que Bryan e a sua cara-metade teriam de atar o nó noutra altura).

Sinais óbvios da preocupação da empresa em não repetir os erros cometidos com Cena (altamente sobrexplorado, sem nunca recolher a unânimidade que se pede que um campeão tenha) e que são de louvar nos dias de hoje.

Daniel Bryan corre o risco de se tornar numa das personagens marcantes da vida do wrestling profissional. Uma das que marcam a história da indústria, daquelas que nunca nos fartamos, mesmo que a ementa seja a mesma... daquelas que são para “casar”.
 
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